Globalização na América Latina: Convergências Entre Milton Santos e George Yúdice
Por: AmandaYnae • 1/2/2019 • Ensaio • 708 Palavras (3 Páginas) • 213 Visualizações
De que globalização estamos falando quando se trata da América Latina? Que relações podem ser estabelecidas entre globalização, novas tecnologias, pobreza e desigualdades econômicas?
A gênese da globalização trouxe consigo a definição da hierarquização entre os indivíduos da sociedade, valorizando aqueles que se suprem das formas de consumo promovidas pelo capitalismo. Formas essas que podem se dar de diversas maneiras, tal como se evidencia em “A globalização vista do lado de cá”, documentário produzido a partir de entrevista com Milton Santos, e também no texto “A globalização da cultura e a nova sociedade civil” escrito pelo professor americano George Yúdice.
Em ambos evidencia-se a relação entre a globalização e a sociedade civil, destacando as maneiras como tal relação se sustenta: a partir “das demandas de comunidades locais que têm o maior ganho ou a maior perda a partir das vicissitudes forjadas” (YÚDICE, 2013, p. 135). As vicissitudes correspondem às diversas formas de consumismo que tendem a ser consideradas essenciais para alguém integrar ou desintegrar a sociedade. São os meios pelos quais a globalização aprisiona as pessoas ao seu modelo de “evolução”, o qual, segundo Milton Santos, pode resultar na existência de três mundos em um só: o mundo que tem a globalização como fábula; o mundo que é como ele é; e o mundo que conjectura como as coisas podem ser.
Partindo dessas três visualizações de mundo, pode-se verificar que, no que diz respeito à América Latina, a globalização se apresenta exatamente das três formas destacadas por Milton Santos, pois, a depender da perspectiva adotada para analisar a organização social, são encontradas opiniões que divergem sobre as consequências do processo globalizante.
Há aqueles que consideram a globalização como evolução, visto que a difusão de notícias está cada vez mais acelerada e o mercado cada vez mais dinâmico. Esta concepção, no entanto, é a que se enxerga a partir do ponto de vista da minoria dominante, a qual acaba por reforçar um modelo excludente e de falsa homogeneização populacional. É o que Milton Santos categoriza como a globalização como fábula.
Há os que consideram o mundo globalizado como uma fábrica de perversidades, haja vista que a pobreza se agrava a cada dia, as relações interpressoais se hierarquizam de forma que os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Os problemas sociais se alastram pelas diversas áreas: saúde, educação, emprego, renda e mais tantas que servem como base para a construção de uma vida humanamente digna.
Há, por fim, os que consideram o processo de globalização como uma possibilidade para que novas relações sociais se estabeleçam, caso seja reformulado e utilizado de maneira a beneficiar a todos, não usurpando direitos e servindo a outros fundamentos políticos e sociais que não os atuais.
De fato, as opiniões acerca da globalização divergem quando se colocam no cerne da discussão interesses vistos a partir da perspectiva de cada um dos grupos que ela vivenciam. No entanto, nota-se que a atual conjuntura mundial e, especificamente, a latinoamericana vivencia a globalização perversa ditada em grande parte pelo neoliberalismo, na qual “a organização da sociedade civil não é, [...] uma forma de atividade progressista livre de contradições” (YÚDICE, 2013, p. 171).
Tais contradições se estabelecem pelo fato da atual sociedade ser pautada na informação veloz, tão veloz que muitas vezes chega distorcida aos seus interlocutores e acaba por manipulá-los; pautada também na riqueza e na expansão de relações políticas e financeiras que chegam a todos os lugares, mas que não chegam e nem beneficiam a todos.
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