GÊNERO ROMANCE E A SUA PARTICULARIDADE MODERNA
Por: Fernanda Mellque • 4/6/2017 • Artigo • 1.409 Palavras (6 Páginas) • 419 Visualizações
GÊNERO ROMANCE E A SUA PARTICULARIDADE MODERNA
Crato – CE
Dezembro/2016
RESUMO: O presente trabalho faz uma breve abordagem do texto a cerca do realismo e a forma romance da obra, A ascensão do romance de Ian Watt, publicado em 1990. Apresenta o surgimento de um novo gênero no século XVIII, assim como alguns percussores. Também aborda alguns aspectos da tipologia romanesca de Lukáck em A teoria do romance, e o problema do narrador no século XX conforme o autor Theodor Adorno.
PALAVRAS -CHAVE: Realismo – Romance – Literatura
Do ponto de vista histórico o romance é a forma mais popular e suprema de narrativa e que ganhou força com a modernidade. Acredita-se que, de acordo com Ian Watt o romance moderno teria firmado suas principais estruturas com os escritores Fieldingo, Richardson e Defoe em meados do século XVIII, na Inglaterra. Para Watt o surgimento dos três percussores ingleses foi condicionado pelas condições favoráveis da época e pelo novo clima de experiências social e moral em conjunto com seus possíveis leitores.
Assim a nova perspectiva literária afasta-se da herança clássica e medieval à medida que o romance se tornava gênero da era moderna. O indivíduo, agora, pode descobrir a verdade através dos sentidos, função primordial para dar impressão de fidelidade à experiência humana.
O realismo moderno tem suas origens em Descartes e Locke, partindo de um princípio em que as pessoas teriam a percepção verdadeira do mundo. Esta nova tendência literária denominada de realismo baseava-se em uma questão diretamente ligada a experiência moderna: retratar todo tipo de experiência humana, essa tendência literária, baseava-se em uma questão diretamente ligada à modernidade, e não só a vida cortesã retratada pelos autores literários anteriores. Watt fala que a principal característica que diferencia o romance dos outros gêneros literários é o seu “realismo formal”. Esse realismo diz respeito a maneira realista de tentar apresentar a vida como ela é. Segundo Watt
“Se este fosse realista só por ver a vida pelo lado mais feio não passaria de uma espécie de romantismo às avessas; na verdade, porém, certamente procura retratar todo tipo de experiência humana e não só as que se prestam a determinada perspectiva literária: seu realismo não está na espécie de vida apresentada, e sim na maneira como a apresenta.” (WATT, 2990: 13)
Conforme a concepção de Watt o gênero romance teve grande contribuição de Descartes com a “concepção moderna da busca da verdade como uma questão inteiramente individual, logicamente independente da tradição do pensamento e que tem maior probabilidade de êxito rompendo com essa tradição”. (WATT, IAN, 1990, P.14). Assim o romance firmou-se como sendo:
[...] a forma literária que reflete mais plenamente essa reorientação individualista e inovadora. [...] O primeiro grande desafio a esse tradicionalismo partiu do romance, cujo critério fundamental era a fidelidade à experiência individual – a qual é sempre única e, portanto, nova. (WATT, IAN, 1990, P.14 e 15).
Para narrar experiências individuais vividas, o romance toma como objeto e método a memória autobibliográfica. Watt afirma que é justamente a forma diferente da narrativa de Defoe, que: “inaugurou uma nova tendência na ficção: sua total subordinação do enredo ao modelo da memória autobiográfica [...]” (Watt, Ian, 1990, p.16). Pela qual é afirmado que a prioridade da experiência individual no romance da mesma forma que o cogito ergo sum (penso, logo sou) de Descartes na filosofia.
Esta nova orientação literária, a busca pela proximidade da verdade e pelo efeito de real, ditou ao gênero nascente dois aspectos importantes para o romance, à caracterização e apresentação do ambiente: “certamente o romance se diferencia dos outros gêneros e de formas anteriores de ficção pelo grau de atenção que dispensa à individualização das personagens e à detalhada apresentação de seu ambiente”. (WATT, IAN, 1990, P.19).
O romance moderno realista estaria problematizando justamente a relação entre a obra literária e a realidade que ela “imita”. Valorizando a experiência individual em detrimento da tradição transmitida; o particular e não o universal; em suma, o romance seria crucialmente moderno por valorizar a novidade e a originalidade. Segundo o autor Watt, no século XVIII a palavra original ganhou novo sentido:
“É significativo o fato de a corrente partidária da originalidade ter encontrado sua primeira grande expressão na Inglaterra e no século XVIII; a própria palavra ‘original’ adquiriu nessa época sua acepção moderna graças a uma inversão semântica que constitui um paralelo da mudança do sentido de ‘realismo’. Vimos que da convicção medieval sobre a realidade dos universais o ‘realismo’ acabou por indicar uma convicção sobre a percepção individual da realidade através dos sentidos: da mesma forma o termo ‘original’ – que na Idade Média significava ‘o que existiu desde o início’ – passou a designar o ‘não derivado, independente, de primeira mão”. . (WATT, IAN, 1990, P.16).
Quanto à tipologia da forma romanesca alguns aspectos são abordados por Luckács, em sua obra A teoria do Romance. Ele constata de que o romance é a forma necessária da modernidade. Para Lukács, o romance moderno substitui a epopéia na sociedade atual, na medida em que as condições do mundo contemporâneo não permitem a construção de uma narrativa épica, caracterizada pela representação de
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