Heart Of Darkness - Resenha
Por: Thales Bazilio • 23/9/2016 • Trabalho acadêmico • 1.294 Palavras (6 Páginas) • 427 Visualizações
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Heart Of Darkness
Thales Augusto Bazilio
Nº USP: 8126401
Docente: Prof. Dr. Maria Elisa Burgos Pereira da Silva Cevasco
Leituras do Cânon II
Departamento de Letras Modernas
Sem dúvidas Heart of Darkness é um livro excepcional que teve grande impacto na sociedade européia da época, demonstrando com seu modo de narrar único e tom crítico como a empreitada européia de colonização da África no século XIX, travestida sob o pretexto civilizatório, acabou representando um grande fracasso, dados os dispendiosos gastos envolvidos e os resultados fúteis e fugazes obtidos. As inegáveis inovações presentes mudaram a forma de narrar, constituindo um livro de caráter crítico e psicológico que exige alta concentração do leitor, tendo como cerne uma narrativa altamente simbólica e permeada por rápidas conexões.
A narrativa se inicia em primeira pessoa, sendo feita por uma personagem masculina não identificada no romance, que apenas se sabe ser o tripulante de uma embarcação; este descreve os entornos do rio Tamisa em Londres adjunto à situação em que ele e ao menos mais quatro indivíduos se encontram; este narrador diz que está com seus companheiros esperando a maré baixar para que possam seguir viajem (embora não diga o que faça nem qual seu destino), diz ele que o Sol se põe e a escuridão aos poucos toma conta do cenário, somos então introduzidos a algumas personagens como o “Director of Companies” (capitão da embarcação), “Lawyer”, “Accountant” e Charles Marlow. A fim de passar o tempo, os tripulantes iriam jogar dominó, porém desistem da idéia e ficam apenas conversando, até que Marlow toma a frente e começa a filosofar sobre como nos tempos antigos os homens eram simples “conquistadores” que usavam apenas a força bruta para atingir seus objetivos, comparando-os aos ditos homens civilizados de seu tempo, que prezam pela eficiência e tem propósitos maiores e civilizatórios; nesse contexto ele passa a contar como em sua juventude acabou se envolvendo na empreitada “civilizatória” na África.
Neste momento a narrativa muda de foco e Marlow passa a ser o narrador principal da história, embora sua fala ainda chague ao leitor através do que o narrador inicial (não identificado) transcreve, o que fica explícito pela presença de constantes recortes na fala de Marlow que esse realiza, interrompendo por vezes a narrativa da personagem e adicionando diversas impressões pessoais, retomando a frente da narrativa e ambientando o leitor novamente ao plano de fundo do livro, que é a conversa dentro da embarcação e a crescente escuridão que rodeia os tripulantes entediados. A história que Marlow nos conta apenas reafirma a primeira impressão que temos dele, através do narrador principal, de que, embora viajado e experiente marinheiro, é um ignorante com aspiração a filósofo; toda narrativa de suas “desventuras” é repleta de digressões e devaneios, tornando a história, que em tese seria curta e simples, longa, cansativa e entediante, levando a um estilo incomum de narrar que é capaz de reproduzir um diálogo real, com pouca cronologia e situação de espaço, além da capacidade de dar sono não só nos tripulantes, mas também nos leitores.
A história contada por Marlow, em linhas simples, seria a de que ele queria ir até o interior da África como um aventureiro, sem muitas pretensões, ele consegue fazê-lo através da indicação de uma tia sua, porém antes de iniciar sua aventura civilizatória ele se depara com diversas burocracias e relatos estranhos de doenças e mortes, aos quais ele não dá muita importância; este se torna o capitão de um barco a vapor e seu objetivo principal era transportar de volta um homem chamado Kurtz, cuja lenda em torno dele acabou sendo maior do que o homem em si; depois de muitos empecilhos ele encontra Kurtz já num estado deplorável devido a uma doença e este morre no caminho de volta, tornando praticamente inútil todo esforço feito. Durante as impressões errôneas de Marlow e suas filosofias sobre a vida e os aspectos entorno de sua viajem, nos deparamos com elementos importantes, sendo o principal deles a futilidade de todo este empreendimento civilizatório.
Um dos aspectos principais do livro é, sem dúvida esta forma de narrativa incomum que espelha um diálogo e o fato de nos depararmos com dois narradores, fugindo dos padrões convencionais de narrar, criando uma nova perspectiva. Desta forma, temos dois planos dentro do romance, o primeiro e principal com o narrador não identificado e o plano de fundo londrino, e o secundário das desventuras de Marlow; sendo que este segundo plano se insere dentro do primeiro, deixando a narrativa do livro como um todo, não confiável, dado que tudo passa por “filtros” e o primeiro narrador sempre irá transmitir em ultima instância tudo ao leitor. Assim, temos que Marlow ao contar sua história na África não o faz ao leitor, mas sim aos tripulantes e o narrador principal repassa os trechos mais “significantes”, suas impressões pessoais e o contexto da narrativa ao leitor; além disso, o que foi dito por Marlow na própria enunciação não é muito confiável, uma vez que este diversas vezes deixa marcas de incerteza na sua fala, o que fica claro com a presença de palavras como “perhaps” e “I think”, e este diz que a ele contar esta história de sua juventude é como narrar um sonho (“It seems to me I am trying to tell you ya dream—making a vain attempt, because no relation of a dream can convey the dream-sensation, that commingling of absurdity, surprise, and bewilderment in a tremor of struggling revolt, that notion of being captured by the incredible which is of the very essence of dreams….”).
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