Instituto de Ciências Humanas e Sociais Departamento de Letras

Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Departamento de Letras

LET028 - Estudos Literários II

Emílio Carlos Roscoe Maciel

                        Clara Albuquerque de Lanna Passos

                 Luiza Carlinda Oliveira Gomes

Yza Fidelis Da Silva

Discuta as relações entre Safo e a tradição épica.

        Os acontecimentos do mundo sempre foram, são e serão representados pela arte, e os responsáveis pela produção artística desempenham um papel de extrema importância para divulgar e para reger tendências que acompanham a vida e o comportamento de uma sociedade. Gêneros como a epopeia e a tragédia, que vêm de uma tradição clássica (greco-romana), comportavam os vícios e virtudes daquela época, e que cumpriam uma função de instruir e deleitar os ouvintes de toda uma cidade/estado. Este modelo de decoro, decorrente de gêneros clássicos se perde quando se abordam obras modernas, que se encontram fora dos modelos apresentados nesse período, muito decorrente da ideia de autoria.

E, ao se comentar sobre questões de autoria em Literatura, devemos ter em mente que houve uma ruptura no que diz respeito ao que entendemos como produção de uma obra, sobretudo nas noções de Belas Letras e Literatura. Na primeira noção a autoria não se manifestava como algo de grande relevância nas obras produzidas quanto a segunda. A tópica se mantinha como um horizonte para as produções da época, ou seja, como se dava o movimento de se expor nas obras temas consagrados, e adequar os temas nos gêneros que lhe eram cabíveis. Por isso, a autoria não se manifestava como algo tão intenso quanto hoje, pelo peso dos gêneros e dos temas clássicos que faziam parte da doxa.

        Dentro desse contexto, podemos dizer que a arte esteve e está totalmente vinculada ao que acontece no mundo, não há com o que se discordar neste fato. E, pensando nas tradições clássicas, é a partir de mitos, comuns aos cidadãos gregos, que a arte ganha sentido como um vínculo religioso e social. Dentro desses aspectos, podemos dar destaque a Homero, pois há quem defenda que as obras que lhe foram atribuídas não eram de sua autoria. Mas essa discussão só se faz presente e só gera linhas para debate porque suas obras eram de conhecimento geral, ou melhor, as narrativas presentes faziam parte da forma com que os cidadãos da pólis grega viviam as suas vidas. É nesse contexto que a epopeia está inserida, em um contexto de instrução e de deleite, como mencionado anteriormente.

Porém, há de se mencionar que, as epopeias gregas não carregam sua essência na tradição escrita, seus relatos de divulgação e produção, partem da oralidade. Percebe-se então, que diante das epopeias se encontra a dificuldade em apontar traços de autoria, pois não se pode mencioná-las sem antes apontar suas primeiras aparições em um contexto de declamação em público e sem uma leitura das mesmas, mas sim como algo decorado, algo que tem sua base a partir da oralidade e que se baseia em um trabalho com a memória.

Tais aspectos podem ser relacionados a Safo, que apesar de fazer parte desse contexto de tradições clássicas (textos de Grécia e Roma), “os poemas de safo & anacreonte não tiveram essa felicidade. na verdade, praticamente nada da música antiga nos chegou, fora alguns tratados & uns poucos fragmentos.”^[1] 

Poucos fragmentos nos restam para analisar de maneira completa o que se produziu naquele período. Porém, o pouco que nos chegou é suficiente para pensarmos os métodos de feitura e declamação, que se esbarra nas tradições épicas, tanto no sentido da métrica dos versos quanto no que se diz dentro deles, os feitos de pessoas “elevadas” e as menções aos deuses e seres que não fazem parte de um cotidiano do mundo sensível. “Como se sabe, a poesia grega (assim como a latina) se organizava ritmicamente pela diferenciação temporal na elocução das sílabas, que podiam ser longas ou breves”^[2]