Intertextualidade
Monografias: Intertextualidade. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: LeticiaCalviente • 19/3/2015 • 2.400 Palavras (10 Páginas) • 373 Visualizações
Introdução
Descrever e narrar são modos de organizar textos utilizados em várias situações no diaa-dia:
compor um cardápio, ler os itens de uma receita, contar nossa vida pessoal ou
profissional para alguém, ler um romance são maneiras, entre muitas outras, de entrar
em contato com as descrições e narrativas em nossas vidas.
Compreender melhor essas formas de organização textuais pode auxiliar na capacidade
de leitura e produção de diversos textos, em diferentes aspectos do cotidiano.
Cercados por narrativas e descrições Universidade Anhembi Morumbi
Entendendo as narrativas
“Contar histórias é uma atividade cotidiana, praticada por pessoas comuns: pais, filhos,
professores, amigos, namorados, avós... Enfim, qualquer um pode contar-escrever ou
ouvir-ler toda espécie de narrativa: histórias de fadas, casos, piadas, mentiras, romances,
contos, novelas... Os meios de transmissão são diversos: conversa, rádio, televisão,
jornal, desenho, internet.” (GANCHO: 2004, p.6)
De fato, muitas pessoas associam o termo “narrar” a “contar uma história”. De forma
bastante simplificada, é possível afirmar que toda narrativa é uma história (ou “estória”;
segundo o dicionário Aurélio, as duas formas são aceitas).
Alguns teóricos entendem por narrativa apenas as histórias ficcionais. Outros compreendem
que todo texto que apresente as características acima citadas é uma narrativa,
sejam ele de ficção ou não. Nós ficaremos com esses últimos e entenderemos como
narrativas todas as histórias que apresentarem personagens vivendo um enredo, em um
dado espaço e tempo (ou mais de um), por meio do olhar de um narrador.
Cercados por narrativas e descrições Universidade Anhembi Morumbi
Foco Narrativo
É importante não confundir o “narrador” com o “autor” do texto. O narrador é uma voz
criada por um autor, para contar uma determinada história. Por ser uma “voz construí-
da”, pode ter uma liberdade muito maior do que a da pessoa real que escreveu o texto,
permitindo-lhe deixar implícitos, fazer sugestões, enfim, despertar, de forma intensa, o
imaginário do leitor.
Em um conhecido conto de Machado de Assis, O enfermeiro, há uma passagem em que
o narrador nos conta como ele assassinou um coronel:
“Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia,
saquei um livro do bolso (...). Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da
segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado.
Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão
da moringa e arremessá-La contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateume
na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe
as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.
Cercados por narrativas e descrições Universidade Anhembi Morumbi
(...) Não posso mesmo dizer tudo que passei durante esse tempo. Era um atordoamento,
um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas
vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir
dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões.
Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente
umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!”
Como vemos, o narrador, que é ao mesmo tempo personagem, quer nos fazer crer que
a morte do coronel foi um acidente horrível, fruto de um momento de ira justificável;
uma fatalidade, que lhe deixou profundamente transtornado. Mas, curiosamente, Procó-
pio é o único herdeiro do coronel Felisberto. Será, realmente, que o assassinato não foi
premeditado?
A opção de Machado de Assis por um narrador protagonista desperta o imaginário do
leitor, levando-o, de forma implícita, a refletir sobre a história contada. Com essa escolha,
o autor não afirma que a personagem é ou não culpada. Ele deixa que o leitor
analise a situação e faça suas próprias escolhas.
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Personagem
Um outro elemento básico de qualquer narrativa é a personagem, ser fictício que vivem
a história que está sendo narrada. Para Doc Comparato, “personagem vem a ser algo
assim como personalidade e aplica-se às pessoas com um caráter definido que aparecem
na narração.”
Um dos pontos destacados pelas diferentes definições é seu caráter ficcional. Desse
modo, mesmo quando alguém está contando sua vida, pode-se dizer que esse “eu” é
uma invenção linguística, pois, contar
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