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Literatura Afro-brasileira Para Crianças E Jovens

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Por:   •  7/6/2014  •  3.578 Palavras (15 Páginas)  •  363 Visualizações

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LITERATURA AFRO-BRASILEIRA PARA CRIANÇAS

Cleber Fabiano da Silva

1. Introdução

As políticas públicas de inclusão e as recentes mudanças nas diretrizes educacionais em nosso país convocam a presença da história e da cultura africana e afro-brasileira nos conteúdos desenvolvidos no âmbito de todo o currículo escolar. A partir desses engendramentos legais que dialogam com as questões da africanidade, uma quantidade bastante significativa de publicações movimenta o mercado editorial brasileiro.

Para além de conceituar ou enquadrar toda essa produção em gêneros e categorias, busca-se nesse artigo, compreender como ocorrem os processos estético-discursivos presentes em livros de literatura infantil selecionados com temática, linguagem ou autores ligados à produção afro-brasileira com vistas a constituir um acervo de qualidade.

A relevância desse estudo está centrada no risco que a literatura infantil corre de tornar-se um instrumento utilizado apenas como recurso técnico-pedagógico. Nesse caso, sem levar em consideração o que é próprio de sua natureza literária, ou seja, a linguagem elaborada artística e intelectualmente pelos escritores e ilustradores.

Vale ressaltar que em sua gênese, a literatura destinada aos pequenos surge como uma forma literária menor, normalmente relacionada a essa função utilitário-pedagógica. Representada pela capacidade de produzir ludicamente vínculo moralizador, convenções religiosas, padrões de comportamento, normas lingüísticas, enfim, situações que deixavam o leitor distanciado da função artística, pois muitas vezes estava ausente o universo literário.

A valorização recente de seus fundamentos e pressupostos acompanham os caminhos trilhados pela psicologia experimental, revelando os estágios de desenvolvimento da criança e as manifestações de sua inteligência e, pelos avanços, mais recentes ainda, na área da sociologia, ao afirmar a idéia de singularidade, alteridade e produção de cultura na e para a infância.

Para que não se perca o olhar sobre essa literariedade, caindo nas armadilhas acima descritas, foram identificadas nessas publicações características que possibilitaram a criação de três eixos de análise: os livros informativos – com conteúdos voltados ao universo cultural africano e/ou afro-brasileiro; os livros griôs – recuperando as narrativas orais para preservação dos elementos culturais, nos quais se percebe o tratamento dado aos mitos, lendas e ritos ligados à ancestralidade e, finalmente, os livros literários – com suas marcas estéticas e linguagem intencionalmente elaborada.

2. Livros informativos

Uma das evidentes consequências em torno das discussões sobre a africanidade, principalmente, a partir das orientações para se efetivar no currículo da educação básica os conteúdos africanos e afro-brasileiros, está sendo o expressivo aumento de publicações com essa temática. Guiadas pela perspectiva de figurar entre as listas adotadas por órgãos responsáveis pelas políticas públicas de inclusão ou ser escolhidas pelos programas de leitura que visam os debates acerca da diversidade e do multiculturalismo, as editoras investem em livros para o público infantil nos quais predominam o ficcional e o lúdico, sem, no entanto, ser considerados literários.

São estratégias comerciais cuja produção serve-se de escassos ou precários recursos literários e poéticos para produzir “manuais” de caráter informativo, de vendagem imediata. Livros com propostas pedagógicas para fazer as crianças aprenderem conteúdos específicos, normalmente, associados aos temas estudados na escola. Nesse tipo de texto:

“A conexão dos esquemas textuais é em ampla medida reguladora, diminui o número de espaços vazios e, em conseqüência, perde intensidade também a formação de representações do leitor estimuladas por estas lacunas (...) as estratégias do texto liberam pouco espaço para a participação do leitor e as mudanças de perspectiva estão formuladas pelo próprio texto reduzindo as regras de combinação”. (ROLLA, 2004, p. 130)

Não se trata aqui de desmerecer a importância desses livros, mas examiná-los em que medida a linguagem, a ilustração e os discursos neles apresentados estão em consonância com as formas especificamente infantis de compreensão do mundo e a adequação desses temas.

Uma vez produzidos e comercializados com intenção de apoio ou informativos podem auxiliar deveras a comunidade escolar a tomar consciência das questões discutidas na sociedade sobre o tema. Para exemplificar a seriedade dessas propostas em torno da africanidade, optou-se em trazer para o debate dois livros com trabalho de excelente nível no que diz respeito à informação e formação na medida certa. São eles: Meu tataravô era africano, escrito por Georgina Martins e Teresa Silva Telles, com ilustrações de Mauricio Negro e Agbalá – um lugar continente, escrito e ilustrado por Marilda Castanha. Ambos apresentam de modo didático, ao mesmo tempo artístico, um pouco da história e da cultura afro-brasileira.

No primeiro, Inácio e seu avô percorrem toda a trajetória dos negros na formação do povo brasileiro. Desde a saída da África nos porões dos navios, mostrando as rotas de escravos até a difícil chegada e condições de permanência dos cativos nas senzalas. Ilustrado com obras e fragmentos de grandes intelectuais, artistas e personalidades altamente representativas para a cultura do Brasil, desfilam em meio ao texto: Gilberto Freyre, Debret, Gilberto Gil, Castro Alves, Pe. Antônio Vieira, Rugendas, entre outros.

O garoto ouve muitas histórias de seu avô e corrige, sob orientação da professora, erros nos discursos dos livros didáticos, discutindo conceitos e preconceitos históricos e cotidianos: Não vô. Minha professora disse que isso é invenção, uma versão errada da história do Brasil (p.12) As trocas com as experiências do avô, fazem-no mediador letrado dos conhecimentos advindos da escola: Bem, vô, agora que você aprendeu que os índios não eram preguiçosos, vamos continuar a ler o texto (p. 14).

Durante a narrativa, as autoras recolhem informações de diversas fontes históricas e atualizam-nas no universo do personagem principal. Vale citar o exemplo do jogo do beliscão (p. 32), com fragmento extraído da obra de Gilberto Freyre, explicado pela professora e vivenciado pelo menino nas aulas de História de seu colégio. Com informações de livros, mapas, músicas, danças, religião e culinária, avô e neto traduzem a herança

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