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MASSACRE NA FURNA DOS CABOCLOS : CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIAS

Por:   •  11/6/2018  •  Artigo  •  4.108 Palavras (17 Páginas)  •  1.389 Visualizações

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MASSACRE NA FURNA DOS CABOCLOS[1]: CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIAS[2]

Paloma Pereira Lopes[3]

Antônia Karla Gomes[4]

RESUMO: O objetivo deste trabalho é discutir, em poucas linhas, os conceitos de cultura e identidade e a importância dos índios na formação do povo brasileiro e, a partir disso, resgatar a história do massacre na Furna dos Caboclos, destacando sua importância para a formação cultural e identitária um grupo específico, da localidade de Montenebo – Crateús/CE, como forma de memórias coletivas, e sua consonância com os registros históricos da colonização do Ceará.

Palavras-Chave: Cultura; Identidade; Índios; Furna dos Caboclos.

INTRODUÇÃO

Quando se pensa nos povoadores do Brasil, em geral, vem à mente a história da colonização portuguesa, ocorrida depois que as caravelas lideradas por Pedro Álvares Cabral “acidentalmente” encontraram este vasto e desconhecido território. Entretanto, estas terras não estavam desocupadas. E, apesar de a história nos mostrar que, posteriormente, os portugueses vieram a dominar o território e predominar sob a formação local, não se pode ignorar que os indígenas, os primeiros ocupadores do Brasil, possuem um papel fundamental na formação do povo brasileiro e suas influências continuam enraizadas (na música, na culinária, no artesanato, etc.).

Contudo, sabe-se também, pela história, que a ocupação dos territórios brasileiros não se deu de forma amistosa. Os índios sofreram bastante perseguição por parte dos colonizadores, tanto cultural, pois tiveram costumes e crenças suprimidos, como física, pois muitos foram caçados, escravizados e/ou mortos pelos fazendeiros europeus.  

Levando em contas estes aspectos, este trabalho pretende resgatar uma história local que ilustra esta questão: o massacre ocorrido na Furna dos Caboclos, território que é localizado nas proximidades de região de Montenebo, distrito de Crateús-Ce.  Com base nisso, a partir dos registros coletados, pretende-se discutir sobre a importância dessa história para a identidade cultural de um grupo. Para isso, este trabalho está dividido em cinco partes: na primeira, faz-se uma ligeira discussão sobre os conceitos de cultura e identidade; na segunda, um rápido resgate da influência indígena para a formação do Brasil; na terceira, faz-se um resumo sobre a história do massacre ocorrido na Furna dos Caboclos, com base em dados coletados por meio de entrevista; na quarta, realiza-se uma comparação desta narrativa com a história cearense; por fim, na última parte, trata-se de memórias coletivas como integrantes da identidade de um grupo.

  1. UMA INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS DE CULTURA E IDENTIDADE

Em termos gerais, Cultura é tudo aquilo que é produzido socialmente pelo ser humano. Nela estão emaranhados os costumes, crenças, artes, valores morais e éticos e tudo o que engloba o agir e o pensar das pessoas. As leis e normas de um país, por exemplo, bem como certas regras não estabelecidas formalmente, como a honestidade. São valores estabelecidos de acordo com o comportamento dos indivíduos, e tudo isso está imbuídos e suas culturas. Dessa forma, cultura compreende um conjunto de características que não são inatas ao ser humano, mas que são adquiridas ao longo da vida -  uma vez que cada todo indivíduo, ao nascer, é inserido numa cultura já existente - e aprimoradas através da convivência em sociedade. Está, ainda, intimamente relacionada às artes e às ciências humanas. Segundo Márcia Valéria (2006, apud. Silva, 2014),

Cultura congrega conhecimentos, artes, moral, leis, costumes, aptidões, hábitos adquiridos, herança cultural, tradição social, toda e qualquer necessidade básica como resposta ao ambiente, expressa modo de vida, povo, ocupação, territorialidade, instituições, linguagem, instrumentos, serviços e sentimentos.

É interessante destacar que a cultura possui intangíveis - como os valores supracitados -  e tangíveis – objetos e símbolos que fazem parte de cada contexto.

Essas características não apenas são adquiridas e repassadas a cada geração, mas são também transformadas em consonância com as mudanças que cercam a vida humana, como o avanço tecnológico, as novas descobertas científicas e o questionamento dos próprios valores, que leva as sociedades a quererem transcender sua própria cultura, fato que ocorre principalmente onde o acesso à educação cresce, pois cresce também a criticidade.

É importante ressaltar que há fatores geográficos e biológicos influenciam a formação das culturas, bem como outros, como as transformações tecnológicas. Isso gera grandes diferenças de uma cultura para outra. Porém, essas diferenças já não se manifestam apenas geograficamente, pois, especialmente após a imigração, muitos valores culturais são levados de um país a outro, e lá influenciam. O Brasil é um dos maiores exemplos disso. Temos em nossa formação influências de culturas europeias, africanas e indígenas, presentes em visíveis nos costumes, crenças religiosas, culinária, etc., embora a influência europeia seja a mais predominante. Por conta disso, o Brasil possui, em seu interior, uma imensa diversidade cultural.

 Segundo a filósofa Márcia Tiburi (2009), o conceito de cultura está intrinsecamente relacionado ao de formação. Por formação, entende-se que seja a forma como os indivíduos adquirem conhecimentos, e constroem-se socialmente. Isso nos remete ao conceito de identidade.  Identidade cultural diz respeito à estruturação identitária de cada ser humano em seu contexto cultural, ou seja, a identidade cultural se relaciona com a forma como vemos o mundo e como nos posicionamos sobre ele. É um processo contínuo. Logo, a identidade cultural de um indivíduo é construída gradativamente ao longo de sua formação, da infância à vida adulta, a partir do contexto sociocultural em que este está inserido. Esta identidade nunca se encontra pronta, pois está sempre submetida a mudanças.  

Em suma, a formação da identidade cultural do brasileiro tem em sua base a influência de diversas culturas, e uma destas é a cultura indígena. No capítulo seguinte, exploraremos um pouco mais sobre esta influência.

  1. OS ÍNDIOS E A FORMAÇÃO DO POVO BRASILEIRO

Como já mencionado, é sabido que o Brasil foi colonizado pelos portugueses, que predominaram na construção da civilização moderna no Brasil, nos deixando, dentre muitas coisas, nosso idioma oficial. Na história oficial do Brasil, especialmente no que se refere aos livros didáticos, não é mostrada nenhuma contribuição significativa dos nativos para a formação do povo brasileiro. Isso, talvez, deva-se ao fato de que o índio foi visto pelo português como um ser sem cultura e sem conhecimento, e, principalmente, sem progresso, que precisava ser “domesticado” e civilizado. Contudo, a influência dos verdadeiros primeiros ocupantes destas terras, apesar de ser bastante subestimada, não pode ser ignorada.

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