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O Enigma da Tragédia em Eurípides

Por:   •  13/9/2021  •  Ensaio  •  1.075 Palavras (5 Páginas)  •  125 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

Disciplina:Tragédia Antiga

O enigma da tragédia em Eurípides:

Aristóteles (2008) consentia que o poeta soubesse transparecer mais verdade do que uma narrativa histórica e que o caráter trágico, no caráter da arte, possui direito de existência. Sendo assim, o mundo da arte é o que transcende o factual. O poeta trágico resgata tramas e indivíduos das tradições e lendas conhecidas do povo. Ele busca conjurar como exemplo daquilo que pode ocorrer a cada um dos presenciadores, visando refletir sobre o homem: sua existência e seu destino. Desta forma, revela uma verdade humana de alcance geral.

Em Ifigênia em Áulis, a peça começa com os navios gregos estacionados em Áulis, pois com os ventos calmos não existe a possibilidade que eles pudessem partir para a guerra em Troia, sob o pretexto de recuperar a honra grega, uma vez que Helena, mulher de Menelau, foi raptada por Primo. O irmão de Menelau, Agamêmnon, rei de Argos e chefe das tropas gregas e pai de Ifigênia é colocado em um impasse quando se faz necessário oferecer em sacrifício sua filha Ifigênia à deusa Ártemis, apenas dessa maneira os ventos voltariam a soprar e a Grécia poderia partir para sua missão honrosa.

A voz de Agamêmnon/Eurípides se coloca de forma pungente, plena na sua humanidade, em uma interpretação que faz sobre o pretexto da Guerra de Tróia. (EURÍPIDES, 1983). Aqui temos um trecho que demonstra a força semântica do estilo euripidiano:

Embora o exército estivesse reunido e congregado, pronto para partir,/ Ficamos parados em Áulis, conforme previsão, pela falta de vento./Calcas, o adivinho, diante de nossas dificuldades, as respostas dos deuses/ Revelou: que Ifigênia, que eu gerei,/ Para Ártemis, guardiã nesta terra, fosse sacrificada./ E a travessia acontecerá e as terras dos frígios serão destruídas; / Eles a imolarão: se não a imolarem, nada será possível. (EURÍPIDES, 1983, p. 63, tradução nossa).

O rei Agamêmnon, se encontra então pressionado pelas condições externas impostas e pelo conflito interno, manifesta-se na estrutura como Eurípides enfoca a questão do vento, segurado pela deusa Ártemis, em um clima de calmaria mas dolorosa, angustiante e pesada. O desempate da decisão interna do rei Agamêmnon é aflito, movido pela paternidade mas também pelo seu desejo de rei, senhor da pátria e dominante. O vento e ele para decidirem o futuro da Grécia: ambos colocados nas mesmas dobras e condições que se espalham e invadem o cenário grego.

Existe então um confronto, de uma ambiguidade, de uma tensão dramática. Tal tensão é exposta de forma ínfima, mas considerável, na conversação que se dá entre Agamêmnon e o velho criado da família.

Agamêmnon: Nenhum ruído: nem dos pássaros/ Nem do mar. O silêncio dos ventos/ Predomina sobre o Éuripo. Velho : Por que te lanças impetuosamente para fora da cabana, rei Agamêmnon?/ Ainda há calma aqui em Áulis,/ E a guarda das muralhas está sem revezamento./ Entremos. (EURÍPIDES, 1983, p. 59, tradução nossa).

A defrontação da arte dramática advém do próprio Dioniso, na qual com o olhar mascarado obtém de seguimento o espectador o levando a se confundir nas camadas do eu e do outro, do fictício e do real. É nesse espetáculo fictício e conflitante que o indivíduo grego se apresenta. Ele presencia o movimento do mundo das tradições heróicas para o mundo das inquietudes e das escolhas que não desfazem os erros, mas que são asfixiados pelos argumentos.

A ambiguidade do sacrifício de Ifigênia repercute em cada articulação da peça, em cada movimento dos personagens. É uma reviravolta de escolhas, de posição. Agamêmnon quer recuar diante da glória cujos valores heroicos são ressaltados na tradição homérica, mas Menelau, seu irmão, usa de argumentos para desviar dessa decisão, que tem na persuasão o elemento determinante da polis do século V.

A ironia que fica presente no ritual do sacrifício no qual Ifigênia deve passar exterioriza nos diálogos metaforicamente construídos por Eurípides, de forma que as ambiguidades e reviravoltas que ocorrem em um vasto desdobramento capaz de provocar um

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