O NARRADOR BRUTALISTA NOS CONTOS DO LIVRO FELIZ ANO NOVO (1975), DE RUBEM FONSECA
Por: elcioalsil25 • 30/11/2018 • Artigo • 6.223 Palavras (25 Páginas) • 390 Visualizações
UNESA – UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
ELCIO ALVES DA SILVA
O NARRADOR BRUTALISTA NOS CONTOS DO LIVRO FELIZ ANO NOVO (1975), DE RUBEM FONSECA
BELÉM-PA
2018.3
RESUMO
O presente artigo buscou analisar os contos: Passeio Noturno I e II, Entrevista e Intestino Grosso, do livro Feliz Ano Novo publicado em 1975, pelo escritor Rubem Fonseca. A partir da leitura da obra e da consulta bibliográfica aos trabalhos acadêmicos críticos sobre a construção de suas narrativas, faremos um breve panorama geral da vida e obra do autor para depois adentrarmos à análise dos contos fonsequianos selecionados. Revisitaremos críticos consagrados da literatura brasileira, como Antônio Cândido e Alfredo Bosi e outros. Entendemos que o afloramento da violência na literatura brasileira foi acentuado no período de maior violência política do país, durante a ditadura militar iniciada em 1964, e tais críticos a intitulam como brutalismo, não só a criação ficcional singular de Rubem Fonseca, mas um termo criado para constituir a ideia de que a violência é, para além de um fenômeno criminal e de banalização, um fenômeno social e cultural entranhado em nossa sociedade capitalista e até mesmo da existência humana.
Palavras chave: Rubem Fonseca, contos, brutalismo, ficção
1.Introdução
1.1. A Narrativa e o narrador; o Gênero Conto e a Ficção Fonsequiana
A narrativa é, segundo
O termo brutalismo foi utilizado pelo crítico marxista Alfredo Bosi para caracterizar as descrições da violência social abrupta entre as classes sociais (burguesia e proletariado) causadas pelo lupemproletariado[1]
1.2. Vida e obra de Rubem Fonseca
O autor Rubem Fonseca nasceu no ao de 1925, em Juiz de Fora, cidade do Estado de Minas Gerais. Porém mudou-se muito cedo para o Estado do Rio de Janeiro.
Para Cândido
Rubem Fonseca introduziu na literatura brasileira contemporânea uma nova corrente literária. Esta inovação gerou uma discussão muito polêmica que trouxe para o autor a censura da sua obra Feliz Ano Novo livro que foi publicado em 1975 e vendeu cerca de 30.000 exemplares antes de ser censurada. Nesse período o novo estilo de fazer literatura tinha o empenho de tentar manifestar intrinsecamente as pretensões e exigências de um povo marginalizado, ocupantes dos grandes centros urbanos. Desta forma confronta-se com a tradição literária a utilização de termos considerados vulgares palavras tidas como abomináveis por alguns literários tradicionais. O autor ressalta os personagens que também são narradores tendo como finalidade expor as questões conflitantes presentes na sociedade contemporânea. Por meio deles faz uso da oralidade para repreender uma sociedade repressora e preconceituosa.
Para a concretização deste trabalho selecionamos os contos Feliz Ano Novo, Passeio Noturno I e II, Entrevista e Intestino Grosso da obra Feliz Ano Novo pois percebemos nestes a astúcia do autor aqui ponderada: a violência destemperada, despida e cruel perante a uma realidade conflitante da sociedade contemporânea. A fim de apresentar-se ficcionalmente os meios utilizados realizam-se de forma mais simples e direta: a representação das falas dos personagens, suas atuações no conto são descritas de forma espontânea tudo muito natural no universo humano da conversação. Os personagens estão inteiramente expostos a individualidade e conjeturada como reflexões para nosso pensamento ou leitura.
1.3. Sobre o conteúdo da obra Feliz Ano Novo
A violência na literatura brasileira está presente desde
No primeiro conto do livro, intitulado Feliz Ano Novo os protagonistas são também narradores, cheios de insignificâncias de uma sociedade contraditória. Revelando pessoas humildes que colocam na sociedade a culpa por serem menos privilegiados e desta forma atingem a mesma, através de subterfúgios violentos, isto é, tirando a vida de seres humanos. Porém, suas ações não estão direcionadas a uma finalidade demarcada, já que, a ausência de significado nas suas vidas é também o condutor de suas vidas vazias. Este espaço em branco que dirige esses homens é completado com aflição de outrem a tal forma que a sua impossibilidade psicótica é mais compreensível do que o rancor que está ligado e que move seus atos.
Observando esses fatos podemos constatar que as narrativas do livro são escritas com objetividade. Devido a linguagem adotada pelo autor percebe-se a brutalidade, a selvageria da vida urbana presentes nos episódios relatados. Episódios estes que ocorrem no meio de uma sociedade com hábitos de exclusão que deixa a inflexibilidade modificar pessoas de pouco conhecimento, humildes necessitados de uma autovalorização. Esta parte da população desfavorecida se revolta com a de maior poder aquisitivo, que não lhe dá valor, assim faz justiça de acordo com seu ponto de vista, juntamente com uma animosidade enorme, agridem, praticam violência sexual e cometem assassinatos. E não percebem a selvageria que fazem. Sem amparo, peregrinam pelas estradas e becos ou sobrevivem habitando em ambientes desumanos. Não possuem um valor digno na sociedade, visto que a sua existência não tem significado, por isso a completam com raiva e rancor, matam por qualquer motivo.
As possíveis visões desta nova vertente da literatura são as notícias expostas nas publicações periódicas das comunidades e eleita pela camada mais pobre da sociedade. São constituídas por homens de feição diferentes do coletivo que tem uma ferocidade apurada com desumanidade, obscenidades e infelicidades. Na narrativa Intestino Grosso, Rubem Fonseca mostra um cotidiano de escolhas nem sempre agradáveis dos menos favorecidos. Um homem em situação precária e desdentado que opta por extrair um dente ao invés de trata-lo já que um tratamento odontológico é muito caro. Assim o autor adentra na realidade dura da camada da sociedade que já não dá mais valor à sua exterioridade. Pode-se notar nos amontoados das cidades que o autor consegue coletar os fatos que apresenta em seus contos episódios gerados pelo aumento da violência urbana. A perplexidade que domina a quem lê os contos o sentimento que advêm das situações apresentadas são oriundas da narração que conta os fatos do dia-a-dia das grandes cidades. Entretanto esse modelo de narrativa apresenta uma contradição com o período em que o Brasil encontrava-se no intitulado “milagre econômico”. Deste modo as narrativas do livro declaravam ao contrário do sugerido pelo comando militar daquele período. Assim o livro foi visto como de caráter subversivo e fica retido pela censura. Mesmo assim não perde seu estilo de demonstrar explicitamente condenação a uma questionável modernidade brasileira.
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