O OLHAR CONTEMPORÂNEO SOBRE A MULHER, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS: “PAI CONTRA MÃE” E “A CARTOMANTE” DE MACHADO DE ASSIS
Por: Silvia Maria Justino • 19/5/2021 • Pesquisas Acadêmicas • 1.306 Palavras (6 Páginas) • 227 Visualizações
O OLHAR CONTEMPORÂNEO SOBRE A MULHER, A PARTIR DA LEITURA DOS CONTOS:
“PAI CONTRA MÃE” E “A CARTOMANTE” DE MACHADO DE ASSIS.
A representação das mulheres como sujeitos inferiores é fortemente difundida em diversos tempos históricos, sendo demonstrada em contextos diferentes pelas duas obras de Machada de Assis, O pai contra a mãe e A Cartomante, também se estendendo para os dias atuais nos artigos que expõem a violência contra a mulher. A sociedade de modo geral, determina as diferenças de gênero baseadas na construção cultural de que o homem, por ser superior, engloba, e representa a mulher, este de tal forma que se sentem no direito de tirar-lhe a vida.
Será exposta parte dos textos e dos artigos para reflexão e abordagem paralela.
Pai contra mãe
Na introdução o narrador trata de algumas práticas associadas ao período da escravidão. Na parte narrativa, desenvolve o tema, mostrando as angústias do protagonista no exercício de sua profissão, caçador de escravos.
Como ponto comum às duas partes, temos a prática de um recurso muito frequente em toda a obra machadiana: a ironia. “[...] não davam que comer, mas davam que rir, e o riso digeriam-se sem esforço”. Como se pode notar, manifesta-se aqui o humor sombrio típico do escritor.
Mas a grande ironia fica por conta da situação em que é colocado o protagonista: para salvar a vida do filho, Cândido tem que entregar aos donos a mulata Arminda, que acaba por abortar. Na oposição entre eles, temos o sexo superior e o inferior, mesmo os dois tendo as mesmas razões de luta – a família, a prole – mas, para a “satisfação” de um dos lados, é preciso que o outro sofra e sendo a mulher escrava, negra e/ou pobre o peso maior deste sofrimento será o dela. Na verdade, tanto Cândido quanto a mulata são vítimas do mesmo sistema, a escravidão, e o machismo que até os dias de hoje se perpetua.
No entanto, o teor crítico da narrativa vai além da prática escravocrata, alcança um patamar superior à situação brasileira, principalmente das mulheres de cor, onde a sociedade se torna passiva diante do fato da narrativa temos uma análise do comportamento da sociedade: “A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário”. Dessa forma, tanto na época da narrativa como atualmente, o ser humano constrói as justificativas para os seus gestos mais baixos, suas atitudes mais reprováveis.
A cartomante
Neste conto o tema narra o assassinato, o adultério e a sustentação de um casamento vazio em prol da manutenção da ordem social.Todos interpretam um papel social e são, ao mesmo tempo, vítimas e algozes dos personagens com quem se relacionam. Se Rita, por exemplo, traía o marido, por outro lado cabia a ela carregar o fardo de interpretar o papel de mulher socialmente adequada mantendo um casamento de fachada. Certos hábitos incomuns a mulheres em Rita são dignos de nota: “Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites”. Em relação aos passeios, nada mais normal do que a esposa acompanhar o marido. Mas, no que diz respeito aos livros e jogos podemos notar uma curiosidade e gosto intelectual na personagem, nada comum na sociedade feminina daquele século. Ao início dos flertes entre os futuros amantes é notável a personalidade forte e as atitudes decididas de Rita: “os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas.” Nada da mulher apática e submissa parece haver no interior da personagem, que toma atitudes enérgicas e põe seu casamento em risco na presença do marido para cortejar o homem pelo qual se sente atraída. O fogo da paixão em Rita dava a ela, através de sua personalidade forte, a coragem para realizar ações que outras mulheres sequer conseguiriam cogitar. A personagem apesar de toda a sua força e segurança é ainda um ser humano. Não deixou de perturbar-se, quando as cartas, que provavam haver mais alguém sabendo de seu romance com Camilo, começaram a chegar. Contudo, a forma como Rita encarou essa adversidade é mais uma prova de sua natureza intensamente feminista. Mas podemos afirmar como a forma pró ativa e decidida com que reagiu demonstram que era, sim, um ser humano que não estava livre das perturbações e inseguranças que assolam todas as mulheres da época, mas que tinha pulso para buscar, ela mesma, soluções para tal, diferente da atitude das mulheres da sua época e que ainda permanecem enraizadas nas concepções do nosso tempo. Apesar do ceticismo do amante, e provavelmente dela mesma, visto que compartilhavam de muitos traços intelectuais que normalmente vão contra a crença no oculto, a personagem busca respostas em uma consulta com uma cartomante, evidenciando aqui a sua atitude e seu encorajamento em buscar respostas de alguma forma.
Os artigos
Segue três partes de três artigos relatando a realidade de mulheres que vivenciam sua desvalorização e desrespeito: “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de assassinatos chega a 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram por sua condição de ser mulher. As mulheres negras são ainda mais violentadas. Apenas entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) os que cometem os assassinatos”.
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