O Panorama histórico do ensino de LIBRAS
Por: Luard Macedo • 29/11/2017 • Pesquisas Acadêmicas • 1.852 Palavras (8 Páginas) • 342 Visualizações
A inclusão de pessoas surdas no Brasil está intimamente ligada ao panorama histórico do ensino de LIBRAS porque por muitos anos se tinha a ideia de que o indivíduo surdo era deficiente. E, por isso, não tinha condições de participar nas atividades sociais como um indivíduo “normal”, ou seja, não deficiente. Assim, as pessoas surdas passaram muitos anos sofrendo com a exclusão social.
Para entender os indivíduos surdos, precisamos aprender, estudar, pesquisar sobre a o povo surdo e sobre a comunidade surda através de sua história, sua cultura, sua identidade, sua língua.
O que é história? Nasceu na Grécia antiga e significava investigação. Heródoto foi considerado o pai da história. Debruçar-se sobre a história de um povo significa investigar para obter respostas sobre determinada temática. No nosso caso, precisamos investigar como os surdos viveram no passado, como se organizavam, as transformações pelas quais passaram para compreendermos o presente e até fazermos projeções quanto ao futuro.
Alguns conceitos são fundamentais para a história das pessoas surdas. O primeiro deles é o conceito de povo surdo, que é grupo de sujeitos surdos que tem costume, história, tradições comuns, partilham uma visão de mundo.
A comunidade surda, por sua vez, abrange os surdos e as pessoas a eles relacionadas, como família, intérpretes, professores, amigos, pessoas que partilham dos interesses dos surdos.
Para se conhecer os fatos históricos é preciso buscar as fontes históricas, as produções humanas. Saviani destaca 3 tipos de fontes:
• primeiro caso: documentos, registros que foram acumulados;
• segundo caso: empenho que temos para preservar materiais de que nos servimos como pesquisadores, professores;
• terceiro caso: quando recorremos a testemunhas.
As fontes históricas podem ser mudas, como palácios, monumentos, utensílios, pinturas, esqueletos, restos de habitação; escritas, como inscrições em pedras, papiros, pergaminhos, livros, jornais; fatos narrados, como lendas, línguas, tradições e culturas das comunidades que vão passando de geração para geração através de narrativas.
Para investigar um fato histórico precisamos perguntar “o que aconteceu? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Como aconteceu? Por que aconteceu? Que consequências trouxe?”.
A ideia sobre os indivíduos surdos ao longo da histórica é bem diversificada. Por um tempo foram vistos como pessoas dignas de piedade e compaixão. Em outro momento, como pessoas que haviam sido castigadas pelos deuses e que deviam, portanto, serem sacrificadas.
Até o século XV acreditava-se que o surdo não poderia ser educado devido à sua condição primitiva. Essa ideia só começou a mudar lentamente com os primeiros educadores de surdos que surgiram no século XVI.
As metodologias utilizadas para ensinar os alunos surdos eram formuladas a partir das línguas orais, línguas de sinais e de códigos visuais. Em 1620, Bonet fez o primeiro alfabeto manual (datilologia) para as línguas de sinais. Em1644, foi publicado o primeiro livro em inglês sobre as línguas de sinais, por Bulwer.
L Eppé foi um abade e aprendeu a língua de sinais com surdos e criou os “Sinais Metódicos” que eram uma combinação entre as línguas de sinais e a gramática sinalizada francesa.
Em 1750, na Alemanha, com Heinick, surgem as primeiras noções da filosofia educacional oralista, apoiada na ideia de que a melhor forma de integrar o surdo à comunidade em geral era através do ensino da língua oral e a rejeição da língua de sinais.
No século XVIII temos o período mais fértil da educação de surdos em termos quantitativos com aumento do número de escolas para surdos, e qualitativos, pois através das línguas de sinais, os surdos podiam aprender e exercer várias profissões.
Em 1821, as escolas americanas adotaram o American Sign Language (ASL), que é a língua de sinais americana, a qual sofreu influências do francês sinalizado. Gallaudet foi à França e trouxe experiências de lá.
Em 1860, o método oral ganhou força por causa dos avanços tecnológicos que facilitaram o aprendizado da fala pelo surdo. Em 1880, Alexander Graham Bell foi o mais importante defensor do Oralismo. Esse foi um período muito difícil para os surdos porque a língua de sinais foi proibida e os surdos foram proibidos de votar. Toda a inserção social dos surdos, a conquista da cidadania do séc. XVIII foi destruída. E, o aprendizado da língua oral passou a ser o grande objetivo dos educadores.
O Oralismo dominou até 1970 com a publicação de um artigo de Stokoe que defendia que a línguas de sinais tem todas as características das línguas orais. Isso foi muito importante para que em 1980 surgisse a filosofia bilíngue – em algumas situações o surdo deve utilizar a língua de sinais e em outras a língua oral, ao invés de usar as duas concomitantemente como era feito.
Abaixo, podemos ver uma descrição da história dos indivíduos surdos no Brasil.
o 1885: chega o prof. Surdo Heut trazido pelo imperador D. Pedro II para educar duas crianças surdas.
o 1857: é fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos , atual Instituto de Educação de Surdos (INES).
o 1911: o Oralismo foi imposto nas escolas seguindo a tendência mundial, mas a língua de sinais sobreviveu nas escolas até 1957 quando a diretora Ana Rímola Doria proibiu o uso da língua de sinais na sala aula. Mesmo assim, os alunos continuaram usando a língua de sinais nos corredores e fora do ambiente escolar.
o 1970: chega a Comunicação Total, após a visita de Ivete Vasconcelos, educadora de surdos na Universiade de Gaullaudet.
o 1970: foram feitas propostas de democratização do ensino, inclusão escolar. Havia intensa preocupação com o fracasso escolar dos grupos minoritários. Isso contribuiu para estudos na década seguinte.
o 1980: foram criadas Comissões Estaduais nas Secretarias de Educação com a finalidade de discutir as questões educacionais em relação aos deficientes. A Constituição de 1988 delibera sobre a inclusão das pessoas com deficiência nos artigos 205, 206, 208, 213.
o 1980: início dos estudos sobre o bilinguismo através das pesquisas da profa. linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a língua brasileira de sinais. Ela utilizava a abreviação LSCB (Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros) para diferenciar da LSKB (Língua de Sinais Kaapor Brasileira) utilizada pelos índios Urubu-Kaapor no estado do Maranhão.
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