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O Retrato de Mónica

Por:   •  24/3/2021  •  Artigo  •  433 Palavras (2 Páginas)  •  455 Visualizações

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Trata-se de uma narrativa curta, quase com o aspeto de crónica. Por meio de características descritivas e enumerativas, Sophia vai desenhando o retrato de Mónica. O primeiro parágrafo, o mais longo, apresenta uma síntese de quem é Mónica, enumerando as suas qualidades e virtudes. Mónica surge com qualidades absurdamente extraordinárias. Não tem sequer um defeito. Todas as suas virtudes surgem numa sequência quase ininterrupta, representando a sua incansável e atarefada vida.

O retrato, aparentemente positivo, vai ganhando ares negativos e soa estranho, e, no decorrer da narrativa, sentimos a ironia presente. No parágrafo inicial, percebemos o exagero nas qualidades de Mónica.

Posteriormente, o narrador aponta a seriedade e o trabalho incansável de Mónica. No entanto, para alcançar o sucesso, ela teve que renunciar a três coisas: à poesia, ao amor e à santidade.

O renuncio à poesia sugere o desprezo de Mónica pelo autêntico, pela beleza e pela sensibilidade. Como a poesia é oferecida apenas uma vez, “o efeito da negação é irreversível”.

Já o amor é oferecido raramente e aquele que o nega algumas vezes depois não o volta a encontrar.

Mas a santidade é oferecida a cada pessoa de novo todos os dias, e por isso aqueles que renunciam à santidade são obrigados a repetir essa negação diariamente.

O retrato de Mónica vai também ganhando um ar irónico, pois, mesmo distante da santidade, continua a dedicar-se a obras de caridade. Ela usa a fome e a miséria dos outros para se autopromover, assim, ao mesmo tempo que condena crianças à fome aparenta empenhada em ajudá-las. Como é referido no conto “Faz casacos de tricot para as crianças que os amigos condenam à fome”.

Outro aspeto apresentado neste conto é a sua relação com o marido. Como renunciou ao amor, Mónica vê o seu casamento como um negócio, uma relação fria e meramente oficial.

No entanto, apercebemo-nos que Mónica tem uma boa relação com o Príncipe deste mundo, pois ambos têm ideias e objetivos comuns, embora o que os una não é um desejo de amor, mas sim uma vontade sem amor. Não esquecendo que a expressão Príncipe deste mundo nos induz à referência bíblica ao Diabo, o Príncipe surge para confirmar as suspeitas entre Mónica e o mal, sugeridas pelo renuncio à santidade

A meu ver, este conto permite-nos perceber que hoje em dia as pessoas são cada vez mais parecidas a Mónica, tornando-se pessoas más que renunciam à poesia, ao amor e à santidade com o objetivo de serem as pessoas mais importantes e bem-sucedidas, espezinhando todos os que se atravessam no seu caminho.

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