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OPISANIE SWIATA - REPRESENTAÇÕES DE DESCOLAMENTO NA OBRA DE VERÔNICA STIGGER

Por:   •  14/1/2016  •  Artigo  •  3.520 Palavras (15 Páginas)  •  459 Visualizações

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OPSANIE SWIATA: REPRESENTAÇÕES DE DESLOCAMENTO E IDENTIDADE NO ROMANCE DE VERÔNICA STIGGER

Lara Ferreira da Silva

O trabalho em questão analisa, segundo o prisma do deslocamento, como se dá esta fundamentação e seu estudo na obra de Verônica Stigger, Opsanie Swiata, que é mostrado como um fenômeno cada vez mais comum na atualidade e parece-nos bastante presente em alguns textos literários dos últimos vinte e cinco anos: trata-se dos deslocamentos humanos, que têm motivações e implicações diversas, seguindo também com a contribuição de Todorov a partir da noção de desenraizado. No texto literário, as consequências desses deslocamentos para as construções identitárias são discutidas em um leque de representações variadas que confirma a pertinência de seu estudo como um dos traços presentes na literatura contemporânea. Na obra de Verônica Stigger, o deslocamento, se configura como a viagem de volta, de volta ao mundo.

Palavras-chave: deslocamento. Identidade. Stigger. Opsanie Swiata.

INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho consiste em fazer uma análise do romance Opsanie Swiata guiada pelo questionamento das relações entre deslocamento e construções identitárias com o espaço, num mundo marcado por discussões a respeito das idéias de fragmentação da identidade e das narrativas, multiculturalismo, globalização e pelo forte apelo e predomínio das imagens.

Será a partir das noções de deslocado e desenraizado, tal como elas foram formuladas, respectivamente, por Yu-Fu-Tuan e Tzvetan Todorov, que analisaremos este romance. Trabalharemos com o conceito de deslocamento, relacionando-o às noções de identidade, proposto pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman.

De acordo com Bauman, ‘identidade’ só nos é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço, ‘um objetivo’; como uma coisa que ainda se precisa construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e então lutar por ela e protegê-la lutando ainda mais — mesmo que, para que essa luta seja vitoriosa, a verdade sobre a condição precária e eternamente inconclusa da identidade deva ser, e tenda a ser, suprimida e laboriosamente oculta. (BAUMAN, 2005, p. 22)

Há algum tempo, havia uma preocupação em relacionar a questão da identidade à nacionalidade do indivíduo. Era importante impor um laço de pertencimento ao território onde o sujeito se encontrava. Para este não havia necessidade, pois sabia que pertencia àquele lugar, ali estavam suas origens e suas relações sociais que eram concentradas no domínio da proximidade. Não havia dúvidas quanto à veracidade de sua nacionalidade.

Ainda segundo Bauman (2005), a “identificação” se torna cada vez mais importante para os indivíduos que buscam desesperadamente um “nós” a que possam pedir acesso. As “novas” relações começam a interferir em nossas construções cotidianas, nossas práticas sociais, como forma de entendimento do mundo. Com isso, as identidades, antes consideradas seguras e estáveis, começam a fragmentar-se.

Tudo o que somos e pensamos advém de nosso contato com o mundo. Nesse sentido, um “eu” verdadeiro, um sujeito singular não é possível no contexto da pós- modernidade, pois seria determinado por uma série de situações, seria um simulacro

de um sujeito real.

Dessa forma, ao refletirmos sobre a questão de alguns personagens da obra na era em que vivem, vislumbramos carências, dúvidas e urgências, presentes nesses indivíduos, perdidos em suas inseguranças, com suas necessidade emergenciais de pertencer a algum lugar.

No romance, temos como exemplo o personagem Opalka, um cinquentão, em que acompanhamos desde sua Polônia natal até a floresta amazônica. Dentro dos contornos da novela, a escritora nos mostra formatos como o relato de viagens, a carta e o diário, para que a partir daí se construa o perfil identitário do personagen.

Tais questões mostram-se importantes na medida em que na contemporaneidade a experiência da migração em que ele se encontra está sendo não apenas fortemente percebida como também discutida a partir de muitos pontos de vista.

Propomos pensar que a mobilidade em que ele se depara não cria necessariamente um desenraizamento, cria, isso sim, novas formas de ver a si mesmo, ao outro e ao meio, enfim. Além do deslocamento, a autora trabalha com a questão do estranhamento, traço também relevante em toda sua escritura.

A escritora comentou a respeito em uma entrevista a editora Saraiva: “Acho que é o estranhamento que eu mais persigo nos meus textos. Mas estranhamento num sentido particular: algo se torna estranho, em primeiro lugar, porque se acha deslocado do contexto em que deveria estar e, em segundo, porque este deslocamento, este estranhamento, é tratado com naturalidade pelo narrador e pelos personagens”.

2 SOBRE VERÔNICA STIGGER

Veronica Stigger nasceu em 1973, em Porto Alegre, e atua como escritora, crítica de arte e professora universitária. Gaúcha radicada em São Paulo desde 2001, Veronica Stigger também é doutora em história da arte. Defendeu tese sobre a relação entre arte, mito e modernidade, enfatizando as obras de Kurt Schwitters, Marcel Duchamp, Piet Mondrian e Kasimir Malevitch. Em seu pós-doutorado estudou, entre outros, os artistas brasileiros Maria Martins e Flávio de Carvalho.

Seu primeiro livro, O trágico e outras comédias, foi publicado pela editora

portuguesa Angelus Novus, em 2003 e, no Brasil, pela 7Letras, em 2004. Pela Cosac Naify, publicou Gran cabaret demenzial (2007), Os anões (2010) e Opisanie swiata (2013), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2014.

Alguns de seus contos foram traduzidos para o catalão, o espanhol, o francês e o italiano. Depois de três livros de contos, lançou em 2013 seu primeiro romance. Opisanie swiata ("Descrição do mundo', em polonês); ganhou o o Prêmio Machado de Assis (melhor romance) da Biblioteca Nacional de 2013, o Prêmio São Paulo de 2014, na categoria "melhor estreante acima de 40 anos", e o Prêmio Açorianos de narrativa longa, também em 2014. Participou da mesa O Futuro do Presente, na FLIP 2007.

2.1 OPSANIE SWIATA DE VERÔNICA STIGGER: A APRESENTAÇÃO DA OBRA E DOS PERSONAGENS

O livro de Veronica tem a ver com a composição

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