Os Maias de Eça de Queirós Filmes. Livro
Por: fabianargc • 25/12/2017 • Trabalho acadêmico • 3.144 Palavras (13 Páginas) • 418 Visualizações
O LIVRO “OS MAIAS” DE EÇA DE QUEIRÓS
O NARRADOR
O narrador é aquele que narra e organiza o texto narrativo e o mesmo pode ou não ser uma personagem da história que narra.
O narrador da ação coloca-se, ao longo do romance, numa posição de domínio total da narrativa, conhecendo intimamente as personagens, o evoluir de acontecimentos e o desenlace dos mesmos.
Quando ao seu estatuto – participação na história narrada – o narrador neste romance carateriza-se como heterodiegético, por relata uma história à qual é estranho, não integrando nem tendo integrado o universo diegético em questão.
O narrador assume-se, quando à sua focalização – perspetiva sobre os facto narrados – como uma espécie de demiurgo, uma entidade que tudo sabe – omnisciência. É na analepse inicial trata-se do momento do romance em que essa mesma omnisciência está mais evidente. É possível ver nos seguintes exemplos:
– “ Afonso partiu (…) Seu pai morreu de súbito, ele teve de regrassar a Lisboa. Foi então que conheceu D. Maria Eduarda Runa, (…) Teve relações; estudou a nobre e rica literatura inglesa; interessou-se, como convinha a um fidalgo em Inglaterra, pela cultura, pela cria dos cavalos, pela prática da caridade, – e pensava com prazer em ficar ali para sempre naquela paz e naquela ordem.” – Cap. I, pp. 15 e 17.
São muitos os exemplos de momentos de focalização omnisciente presentes, sobretudo na descrição das personagens-tipo, na minúncia dos pormenores descritivos de espaços e personagens – por exemplo, na apresentação do Ramalhete ou de Ega.
Contudo, é quase sempre através do olhar e dos juízos de Carlos da Maia e, algumas vezes, através dos de João da Ega, que o meio social lisboeta é analisado e avaliado. O narrador, quando emite juízos de valor, fá-lo quase sempre através destas duas personagens, com elas se identificando – focalização interna. Como por exemplo a primeira visão de Maria Eduarda, bem como as visitas à casa da Rua de S. Francisco são perspetivas pelo olhar de Carlos.
O ESPAÇO
N’Os Maias a referência a espaços físicos reveste-se de uma dupla função:
– por um lado, é uma forma de ancoragem da ação, criando também, tal como as referências históricas, o efeito do real;
– por outro lado, o espaço assume igualmente uma dimensão simbólica, facto que subverte os cânones naturalistas.
A intriga desenrola-se em Lisboa, mas os antecedentes decorrem em lugares como Santa Olávia – infância de Carlos – e Coimbra – formação universitária do protagonista.
Importantes também são os espaços das grandes capitais da cultura europeia, sobretudo Paris. Carlos da Maia viaja frequentemente e é no estrangeiro que passa os dez anos posteriores à tragédia familiar.
Os grandes espaços em que a ação da narrativa decorre são: Lisboa, Santa Olávia, Coimbra e Sintra. Os principais espaços interiores encontrados ao longo de “Os Maias” são: o Ramalhete, o consultário e a “Toca”.
Relativamente ao espaço social o romance realista apresenta caraterísticas temáticas influenciadas pelo cientificismo da época, nomeadamente a crítica social que espelha determinados defeitos humanos que até então não eram revelados, como o materialismo, a traição, a corrupção, para além de defeitos de caráter e de personalidade, objeto de explicação e de análise determinista.
Nesta perspetiva, o subtítulo do romance – “Cenas da vida romântica” – aponta para a pintura detalhada de uma sociedade, com os seus vícios e aspetos menos edificantes, pintura que se integra perfeitamente no ideário do romance naturalista, concretizado através da abordagem de certos temos e de episódios de caráter social.
A educação em “Os Maias” é abordada de forma a evidenciar duas mentalidades diferentes: uma, a portuguesa, arreigada a uma visão católica, decadente e tradicionalista, avessa a inovações e “modernices”. O ensino das crianças deveria ter o latim por base, devia valorizar a memória, descuidar o corpo e as capacidades de reflexão e de crítica. A outra, a britânica, defende uma educação moderna, aberta ao futuro, apologista da cultura física, da defesa da ética e do respeito pelos outros e pela diferença. Pedro da Maia e o Eusebiozinho são os paradigmas da educação portuguesa, enquanto Carlos tipifica o modelo britânico.
No que diz respeito ao jantar no Hotel Central, esse é uma espécia de festa de homenagem de Ega ao banqueiro Cohen, marido de Raquel, amante de Ega. O episódio proporciona o primeiro encontro de Maria Eduarda e Carlos, assim como a primeira reunião da “elite” lisboeta em que Carlos participa. No decorrer do jantar, as conversas focam diversos aspetos da sociedade portuguesa: o estado deplorável das finanças públicas, o endividamento do país e a consequente necessidade de reformas extremas e radicais, de que Ega é o defensor mais convicto. “ – Portugal não necessita reformas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão espanhola. (…) Sovados, humilhados, arrasados, escalavrados, tínhamos de fazer um esforço desesperado para viver. (…) Sem monarquia, sem esse tortulho da “inscrição”, porque tudo desaparecia, estávamos novos em folha, limpos, escarolados, como se nunca tivéssemos servido. E recomeçava-se uma história nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora… Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia… Oh! Deus de Ourique, manda-nos o castelhano!” – Cap. VI, pp. 147 e 148.
O jantar é dominado pela contenda literária entre Ega e Alencar. Ega defensor do naturalismo que considerava como uma ciência envolve-se em disputa verbal e física com Alencar, o protótipo do poeta ultra-romântico.
Alencar cujo aspeto físico era o de uma romântico (“… muito alto, todo abotoado numaa sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encovados, e sob o naruz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos: já todo calvo na frente, os anéis fofos de uma grenha muito seca caíam-lhe inspiradamente sobre a gola: e em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre.” – Cap. VI, p. 140.) ataca ferozmente a Ideia Nova, dirigindo o seu ódio contra o Craveiro, o defensor da nova estética literária e que satirizara Alencar num já conhecido epigrama. A discussão literária rapidamente cai nos ataques pessoais (“… desse Craveirote da “Ideia
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