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Os Temas Menino de Engenho

Por:   •  3/6/2020  •  Monografia  •  1.494 Palavras (6 Páginas)  •  847 Visualizações

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4. 4. TEMAS

O principal tema abordado na obra é a decadência dos engenhos de açúcar pós abolição da escravatura e a nova economia cafeeira no Brasil, a partir disso o autor denuncia diversos outros temas e subtemas a serem analisados nesse trabalho, usando de regionalismo para se expressar. Isso é mostrado através da visão do menino Carlos que descreve todas situações passadas no engenho durante sua infância.

O declínio dos engenhos não é analisado durante a obra e esse livro se torna apenas o primeiro a mostrar isso dentro do “ciclo do açúcar”, porém é perceptível a partir da descrição do meio e das situações passada pelo garoto, já que áreas mais abastadas como essa, o interior da Paraíba, eram abandonadas pelo governo e essas populações viviam sujeitas as condições do meio.

Já durante as primeiras passagens do garoto é possível ver como essas populações, mesmo os brancos da casa grande, sofriam por doenças e eram simplesmente abandonadas por não ter o devido cuidado, fazendo com que esses enfermos morressem com frequência e mostrando como a expectativa de vida dessas regiões eram baixíssimas.

MAGRINHA E BRANCA, a prima Lili parecia mais de cera, de tão pálida. Tinha a minha idade e uns olhos azuis e uns cabelos louros até ao pescoço. Sempre recolhida e calada, nunca estava conosco nas brincadeiras. (...).

(...) Lili não ia ao sol, vivia o dia todo calçada. Tudo lhe fazia mal: o chuvisco, o mormaço, o relento. E só vivia nos remédios. (...).

(...) Um dia amanheceu vomitando preto e com febre. Entrei no quarto onde ela estava, mais branca ainda, e a encontrei muito triste, ainda mais magrinha. As suas bonecas andavam por cima da cama como se fossem as suas amigas em despedida. Os olhinhos azuis demoraram-se em mim, parecendo pedir-me alguma coisa. Era talvez para que eu ficasse com ela mais tempo. Mas levaram-me do quarto. No outro dia, quando acordei, a minha priminha tinha morrido.

(Herdeiros de José Lins do Rego, 1957, pp. 29-30)

A partir das descrições do ambiente, dando traços específicos da região, José Lins do Rego constrói um regionalismo muito marcado em sua obra. No caso da Paraíba, ele já consegue construir esse regionalismo no começo do livro, com a passagem:

E por onde as águas tinham passado, espelhava ao sol uma lama cor de moeda de ouro: o limo que ia fazer a fartura dos novos partidos. (...) Havia uma sombra de tristeza na gente da casa grande. Há três dias que ali não se dormia, comia-se às pressas, com o pavor da inundação. O engenho e a casa de farinha repletos de flagelados. Era a população das margens do rio, arrasada, morta de fome, se não fossem o bacalhau e a farinha seca da “fazenda”. (...). (...) e para nós era a única coisa a ver: a canoa cheia de ancoretas, e os cavalos, puxados, de corda, nadando, e a gritaria obscena do pessoal. O resto, tudo muito triste, a lama por toda parte. (Herdeiros de José Lins do Rego, 1957, pp. 45).

Nessa passagem é construído um sentimento dramático após uma inundação que acontece na região do engenho e o local de onde é produzido toda a riqueza da fazenda vira um refúgio de “flagelados”. Assim é mostrado a dependência do meio por essas pessoas e a degradação deixada pelas chuvas, fazendo com que a situação dos personagens seja mais desoladora ainda.

Outra passagem interessante é quando o menino faz alusão ao barro causado pelas chuvas sendo exposto ao sol e o compara com o brilho de uma moeda de ouro, fazendo uma relação poética, entre a riqueza e a decadência “E por onde as águas tinham passado, espelhava ao sol uma lama cor de moedas de ouro: o limo que ia fazer a fartura dos novos partidos.”(Herdeiros de José Lins do Rego, 1957, pp.45).

Essa caracterização usada por José Lins do Rego também está marcada no seguinte trecho:

(...) Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô, eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda, com o seu Santa Fé caindo aos pedaços.

(Herdeiros de José Lins do Rego, 1957, pp.90)

Aqui é relatado uma verdadeira decadência dos senhores de engenho, simplesmente ao descrever a propriedade do vizinho de José Paulino. Durante uma grande parte do livro, após a inundação, o autor também mostra Carlos andando com seu avô por toda por todo o engenho e diante esses dois momentos é perceptível como o Nordeste é caracterizado por um verdadeiro feudalismo comandado pelos coronéis e mesmo com esse grande poder em mãos, eles não são páreos para o avanço e a modernização. O autor consegue muito bem expressar a chegada dos novos tempos e a extrema mudança econômica e social da sociedade ao usar “desolação de fim de vida” e “ruína”, por exemplo.


4. 5. SUBTEMAS

4. 5. 1. RACISMO

Durante a época desse livro a escravidão já era proibida, porém a obra mostra bem como os negros não tiveram a oportunidade de liberdade, já que não houvera nenhum tipo de política social para inclusão desses negros a sociedade, os quais ficaram à mercê dos poderosos.

O jeito com que o autor aborda esse tema é completamente normal, sendo os personagens já habituados com a situação de miséria dessas pessoas e sem nenhum remorso mandavam neles e os destratavam como se fossem animais “Eles nasceram assim porque Deus quisera, e porque Deus quisera nós éramos brancos e mandávamos neles. Mandávamos também nos bois, nos burros e nos matos.” (Herdeiros de José Lins do Rego, 1957, pp). Esse processo de zoomorfização é muito utilizado durante toda a obra, incluindo a utilização de termos pejorativos para se referir a esses negros, como “pretinhos” ou “negrinhos”, diminuindo sua importância.

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