Resenha - A Frase na Boca do Povo
Por: dvsn.andrade • 29/10/2019 • Resenha • 1.114 Palavras (5 Páginas) • 170 Visualizações
URBANO, Hudinilson. A frase na boca do povo. São Paulo: Contexto, 2011. p. 9-65.
Deivisson Andrade[1]
Esta resenha versa sobre os primeiros cinco capítulos do livro “A frase na boca do povo”, de Hudinilson Urbano. De modo geral, o exemplar trata com muita propriedade sobre os componentes da língua oral e em grande escala conceitual, embora trace, inicialmente, um panorama sobre os aspectos da linguagem verbal como um todo.
Logo no primeiro parágrafo da introdução, Urbano (2011, p. 9) afirma que “a frase oral é uma unidade básica da comunicação, sobretudo daquela que ocorre por meio da conversação natural”. Essa citação resume teoricamente o livro, que tem a preocupação de descrever os usos regulares e frequentes da fala conversacional urbana espontânea popular do cotidiano. Tal uso foi observado, em suas análises, de modo empírico em cenas comunicativas colhidas presencialmente em ruas, metrôs, filas de espera de ônibus e outros contextos de interação prática do uso da linguagem.
No primeiro capítulo, denominado “O homem, o grupo social, a comunicação, a linguagem”, Urbano (2011) trata da necessidade de o ser humano se comunicar, fazendo surgir a linguagem verbal. Para isso, menciona a tradicional Teoria da Comunicação e seus seis elementos constituintes (emissor, receptor, mensagem, canal, código, referente), cada um assumindo o protagonismo em uma função da linguagem (emotiva, conativa, poética, fática, metalinguística e referencial, respectivamente).
A linguagem verbal é a atividade de se comunicar com os indivíduos, a qual foi criada pelos homens para exprimir estados mentais (URBANO, 2011). Ela compreende um aspecto sonoro e outro da textualização. Esses aspectos ocorrem devido às competências linguística e textual dos falantes. Além disso, é individual e social (p. 20), o que corrobora com a dicotomia, postulada por Saussure (2006), de “langue” e “parole”.
O segundo capítulo trata dos três aspectos que compõem a comunicação oral: fisiológico, linguístico e psicológico. O primeiro aspecto está relacionado aos sons, que podem ser captados ou interferidos por características fisiológicas do indivíduo. O segundo relaciona-se ao código linguístico (língua). Podem ser captados ou interferidos pelo conhecimento ou não de determinada língua, de algum léxico ou do uso de linguagem não verbal, como gestos e entonações. O último, psicológico, está relacionado à atenção e à personalidade dos interlocutores e podem ser interferidos pela perda da atenção, pelo estado emocional, pelo grau de envolvimento de uma das partes ou por outros fatores contextuais.
No capítulo 3, Níveis, modos e variedades de linguagem verbal, Urbano (2011) afirma que na modalidade falada existem as linguagens popular, culta e comum, as quais são postas em “níveis” maior, menor ou intermediário, respectivamente, de elaboração. Quanto à linguagem popular, existem dois sentidos a ela atribuídos.
O primeiro sentido, restrito, significando uma linguagem inculta ou um uso corrompido. Logo, aquela que tem “frequentes desvios gramaticais [...], vocabulário incorreto, falso ou impreciso, gírias compensatórias [...], termos obscenos, articulações fonéticas muito deficientes e displicentes” (URBANO, 2011, p. 29).
Ao segundo sentido, amplo, da expressão “linguagem popular”, atribui-se ao uso popular da língua, a linguagem cotidiana. Sobre ela, Urbano (2011, p. 29) fala que é a linguagem “despreocupada, distensa, empregada inclusive pelos letrados quando se encontram em tais situações”.
Cabe salientar que, em alguns pontos desse capítulo, o autor pode ter expressado seus conceitos com alguns equívocos conceituais ou com, talvez, um teor pejorativo. Uma explicação possível pode ser elencada com base nesta colocação do autor:
Cremos ter deixado claro, desde já, que não há uma vinculação essencial e permanente entre um nível da linguagem usada [...] e o perfil ou status do usuário (letrado, analfabeto etc.). Assim, pode um letrado elevar ou baixar seu nível de linguagem, para adaptá-lo, por exemplo, ao seu interlocutor de nível diferente (URBANO, 2011, p. 30, grifo nosso).
Em uma primeira análise, mais relacionada à leitura realizada, portanto interpretativa, pode-se afirmar o teor pejorativo quando o autor utiliza o termo “nível” para designar o uso de uma determinada variedade linguística. Ao utilizá-lo, margens são abertas para colocações como “elevar ou baixar o nível da linguagem utilizada”, como o próprio autor faz, conforme citação acima, podendo conferir, mesmo que indiretamente, um valor escalonado de “maior e menor” ou “melhor e pior”. Outro ponto elencado sobre o aspecto da leitura, é que o autor parece dicotomizar “letrado” e “analfabeto”, porém tratam-se de conceitos distintos e não de antônimos. Esse ponto, leva à segunda análise.
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