Resenha Sobre Processo de Alfabetização
Por: Emilybb • 11/9/2018 • Resenha • 1.952 Palavras (8 Páginas) • 256 Visualizações
A Criança e a Construção da Escrita
Eduarda Lencione Nobres de Alencar
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO
A autora Ana Luíza Bustamante Smolka Graduou-se em Filosofia (Bacharelado e Licenciatura) pela Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro (1972). Mestre em Educação pela University of Arizona, USA (1978); Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (1987). Realizou o Pós-doutorado em Psicologia da Educação na Clark University, Mass, USA (1990), com bolsa CAPES. Concluiu a Livre Docência na FE/Unicamp (2012). Coordenou o Projeto de Incentivo à Leitura (INEP/MEC/SESU, 1983-85). Coordenou o Projeto FAPESP sobre a construção de conhecimento no contexto escolar (1992-1995), e mais recentemente coordenou um projeto Fapesp para a melhoria do Ensino Público (2009-2011). Vem desenvolvendo projetos sobre práticas escolares e práticas discursivas desde 1997, com apoio CNPq (Bolsa PQ). Realizou estágios de intercâmbio e cooperação internacional na University of Chapell Hill (1995); Washington University at Saint Louis (2003); CINVESTAV (México, 2006). É coordenadora do Grupo de Pesquisa Pensamento e Linguagem na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, onde atua como docente e pesquisadora desde 1979. Foi diretora associada da Faculdade de Educação da Unicamp (1996-2000; 2012-2016) e Coordenadora do Programa de Pós-graduação na mesma instituição (2000-2002). Foi presidente da Society for Sociocultural Studies (SSCS,1996-2002), membro da comissão executiva da International Society for Cultural and Activity Theory (ISCAR, 2002-2008). Trabalha nas áreas da Educação e da Psicologia, e tem realizado projetos de investigação relacionados aos seguintes temas: desenvolvimento humano, relações de ensino, práticas escolares, práticas discursivas, perspectiva histórico-cultural. Ocupa atualmente a posição de coordenadora do Comitê Editorial dos Cadernos CEDES. (Fonte: Currículo Lattes).
Em sua obra intitulada A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo (1988), nos leva a grandes reflexões sobre o processo de alfabetização como um todo, onde a mesma, analisa alguns pontos com relação a tarefa pedagógica de alfabetização em nossas escolas, que tem colaborado para que um índice alarmante de crianças não consiga aprender a ler e escrever, tornando-se leigas em uma sociedade letrada, crescentemente globalizada e dominada pela indústria cultural e capitalismo.
Essa obra é resultado de muito tempo de pesquisa. Foi desenvolvida com o intuito de investigar e analisar quais os processos e estratégias utilizados pelas próprias crianças na interpretação da linguagem escrita e como o período pré-escolar vem trabalhando este tipo de linguagem antes do início do ensino formal. Inicialmente, o objeto de estudo da pesquisa foi um grupo de 12 crianças que viviam em diferentes contextos e classes sociais, e posteriormente, Smolka ampliou sua pesquisa para o Centro de Atendimento ao Pré-escolar, para trabalhar com as crianças e as mães, deste Centro.
Segundo Smolka, o processo de alfabetização nos moldes tradicionais, onde a construção e aquisição da leitura e da escrita pelo alfabetizando é feita através de métodos convencionais, como a silabação e a palavração, por exemplo, é algo extremamente preocupante e que, urgentemente, deve ser repensado e analisado. Pois, até agora, a questão da alfabetização tem se evidenciado enquanto instrumento e veículo de uma política educacional que ultrapassa amplamente o âmbito meramente escolar e acadêmico. A ideologia da ‘democratização do ensino’ anuncia o acesso à alfabetização pela escolarização, mas, efetivamente, inviabiliza a alfabetização pelas próprias condições da escolarização: oculta-se e se esconde nessa ideologia a ilusão e o disfarce da produção do maior número de alfabetizados no menor tempo possível. Nesse processo da produção do ensino em massa (…), as práticas pedagógicas não apenas discriminam e excluem, como emudecem e calam (SMOLKA, 1988; p. 16).
Neste contexto, procura-se um responsável pela insustentável situação estabelecida na alfabetização escolar: Os pais/mães? As crianças? Os professores? Em um modo onde apenas o poder público parece estar isento de qualquer responsabilidade, se faz necessário a emergência de um “manual” que “auxilie” a prática pedagógica do professor, “facilitando” o processo ensino-aprendizagem. Eis que surge o livro didático!
Este é apresentado nas escolas como a solução para os problemas na alfabetização, pois além de ser um recurso que “facilita” a ação do professor, também torna-se “fonte de conhecimento” para os alunos. Contudo, um detalhe imprescindível foi esquecido: dar significação ao conteúdo do livro didático, que é apresentado ao aluno como algo distante, sem sentido e totalmente alheio à sua realidade. Sendo assim, as crianças não se identificam com o livro didático, o qual, conforme Smolka virou método, adquiriu caráter científico e tornou-se inquestionável. Mas, se a criança não se adaptou ao “poderoso” livro didático e à toda a situação imposta pela escola, é porque esta é, provavelmente, “portadora de alguma patologia” ou tem algum desvio psicológico.
Diante disso, inúmeros autores vêm estudando e investigando os processos de aquisição da linguagem escrita em crianças em fase pré-escolares. Porém, no Brasil, segundo Smolka, apenas o trabalho de Emília Ferreiro, apoiado em teorias psicolinguísticas, tem obtido grande relevância no âmbito educacional da alfabetização escolar. Percebemos que Ferreiro distancia-se de Smolka, pois esta, considera o meio sociocultural em que a criança vive como fonte rica de saberes que poderão auxiliá-la no desenvolvimento da linguagem escrita. Os conflitos surgem, portanto, à medida em que a escola massifica, generaliza e estereotipa o ato de “ensinar” os conteúdos, ignorando ou negligenciando os conhecimentos e toda a experiência que as crianças já possuem quando entram na escola, impondo um livro didático que em nada lhes diz respeito. E isso vem muito de encontro com o documentário: A Educação proibida, no fato de que consideram as crianças como “vazias”, descartando suas experiências, onde o professor detém e transmite o conhecimento através do domínio de seu discurso.
Analisando as relações de ensino, Smolka expõe algumas situações que vivenciou em contextos escolares de sua pesquisa sobre o processo de alfabetização de crianças, onde professores agem de forma extremamente tradicional, tomando para si, a função de “ensinar” a linguagem escrita aos alunos como se estes fossem “totalmente desprovidos” de qualquer conhecimento que pudesse ser incorporado ao conhecimento ensinado pela escola.
Dessa forma, o ensino da escrita é alienado de seu sentido e aplicação prática. Crianças que não conseguem aprender a ler e escrever são, contudo, resultado dessa barbárie que tem sido o processo de alfabetização escolar, em que as mesmas são excluídas de seu saber próprio em função da necessidade de aprender o saber da escola, como se ambos se negassem mútua e necessariamente.
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