Resenha sobre o artigo "Nada na língua é por acaso" de Marcos Bagno

Resenha sobre o artigo "Nada na língua é por acaso" de Marcos Bagno

         “Nada na língua é por acaso”, artigo publicado na revista Presença Peda-gógica no ano de 2006, trata das conseqüências sociais, culturais e ideológicas da variação lingüística, responsáveis pela discriminação lingüística tão presente na sociedade brasileira.        

          Nesse contexto, a sociolingüística, uma das subáreas da Linguística que estuda a língua em uso no seio das comunidades de fala, voltando a atenção para um tipo de investigação que correlaciona aspectos linguísticos e sociais, é utilizada para explicar o fenômeno da variação lingüística, esclarecendo que existe na sociedade duas ordens de discurso que se contrapõem :o científico, que está embasado nos paradigmas lingüísticos modernos e se utilizam da variação e mudança e a ordem de discurso de senso comum, que é impregnada de arcaísmo, preconceitos sociais e noção de erro.

          Para as ciências da linguagem, desde que a língua seja entendida, não ocorre erro. O conceito de certo e errado tem origem nas “leis culturais”,que são impostas por grupos sociais dominantes a aqueles grupos  menos favorecidos e excluídos socialmente ao longo da história, quando o acesso a informação era restrito as classes sociais privilegiadas.” Nada na língua é por acaso” chama atenção para que, se todas as ciências sofrem variação e mudança, não existe razão para se permanecer com teorias obsoletas no estudo da língua e aponta, de forma clara e concisa, o porquê da população não dominar os conceitos da Língua Portuguesa ,que para muitos, é um idioma estrangeiro e distante da realidade brasileira.

          Considerando ainda a normalidade das variações e do seu uso na fala e na escrita das pessoas, o texto apresenta de forma simples e clara, os subsídios necessários para que professores em atuação e em formação, possam refletir sobre conceitos como variação e mudança, norma-padrão e norma culta, estigma e prestígio, letramento e oralidade, consistentemente e sem as distorções muitas vezes encontradas em documentos oficiais, diretrizes curriculares, livros didáticos e, principalmente, nos meios de comunicação, onde se observa noções arcaicas e pré-científicas sobre língua e linguagem que em nada contribuem para a construção de uma democracia lingüística própria do país em que vivemos.

           “Nada na língua é por acaso", artigo escrito pelo professor e Mestre em lingüística da universidade de Brasília, Marcos Bagno, é um texto de leitura acessível que descreve aspectos relevantes da história da língua e por essa razão é recomendado inclusive ao leitor recém- iniciado no universo dos textos acadêmicos e científicos, que deseja tanto aprender conceitos indispensáveis aos seus estudos na área da lingüística quanto começar a conhecer e compreender sua língua materna e refletir sobre o preconceito lingüístico.

Jeanne Luckwu