UM ESTUDO DA OBRA DE CHARLES DICKENS
Por: Juciene Moura • 18/10/2022 • Projeto de pesquisa • 1.937 Palavras (8 Páginas) • 93 Visualizações
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS DE OLINDA
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS
MARIANA ALVES DA SILVA
SR. SCROOGE, UMA ALEGORIA DO CAPITALISMO:
UM ESTUDO DA OBRA DE CHARLES DICKENS
OLINDA/2016
MARIANA ALVES DA SILVA
SR. SCROOGE, UMA ALEGORIA DO CAPITALISMO:
UM ESTUDO DA OBRA DE CHARLES DICKENS
Projeto apresentado à Unidade Acadêmica de Letras, como requisito parcial à obtenção do título de licenciada (o) em Letras pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda.
Orientadora: Profa. Dra. Carla Dias
OLINDA/2016
INTRODUÇÃO
O século XIX mudou de forma radical o modo de vida do mundo ocidental, sobretudo, nos grandes centros urbanos da Europa. A industrialização, alavancada pela economia capitalista e pela mentalidade positivista, desencadeou um desenvolvimento tecnológico sem precedentes, resultando não apenas numa nova forma de conceber a sociedade, mas também em outras formas de interpretar a realidade e seus sentidos (SILVA; MOREIRA, 2010).
Este período histórico, situado entre a primeira e a segunda metade do século XIX, vivenciado por Charles Dickens marcou os aspectos pragmáticos de sua obra, que começa a produzir suas obras influenciado pela Revolução Industrial, processo de urbanização e o desenvolvimento tecnológico que incidiram diretamente no ideário social, na reconfiguração das classes sociais e progresso da sociedade (SILVA; PEREIRA, 2011).
Dickens utiliza esse cenário como plano de fundo para situar seus personagens em meio à decadência que se caracteriza pela explosão demográfica, êxodo rural, exploração do trabalho infantil e relevante situação de pobreza e violência urbana. Sobre isso, Burgess (2008, p. 219) afirma que “os romances de Dickens são todos animados por um sentido de injustiça e do erro pessoal; ele está preocupado com os problemas do crime e da pobreza". Com isso, Dickens traz à tona os paradoxos e conflitos entre oposições de classes sociais originados a partir da Revolução Industrial.
Dickens é bem conhecido como um dos autores mais prolíficos e influentes do período vitoriano. Suas obras muitas vezes comunicavam o profundo senso de justiça que carregava. Ele passou sua vida chamando a atenção para a estratificação social da sociedade inglesa vitoriana e a pobreza e a miséria que atormentavam os que estavam no fundo.
Tem-se então Charles Dickens com o personagem Scrooge, contribuindo significativamente com a avareza na literatura. Personagem velho, rico e amargo, indiferente a tudo e todos que o cerca. Completamente apático às relações humanas e obstinado ao dinheiro. Representando, desse modo, o ser humano materializado da engrenagem da mecânica universal, ao contrário do homem romântico, excessivamente autocentrado e autossuficiente (MACIEL; FLACH, 2015).
A arte de Dickens contempla nítidos apelos sociais e antiburgueses, retratando a dissolução moral da burguesia, por meio de casos patológicos. É nesse contexto da literatura realista, sobretudo, na apresentação dos aspectos que caracterizam a antiburguesia, a denúncia social e o engajamento ideológico que se insere a produção ficcional de Charles Dickens.
Diante disso, este estudo traz como problema de pesquisa: qual a contribuição da obra de Dickens “Um conto de natal” para um estudo crítico da sociedade pós-revolução industrial? De que forma uma análise do personagem Scrooge pode contribuir para o entendimento das ideias e situações vividas por Dickens em meio ao sistema capitalista inglês?
A relevância da obra “Um conto de natal”, especificamente do personagem “Scrooge” de Charles Dickens, no contexto da ideologia capitalista, destacando-o, não apenas como importante romancista no período, mas também como um singular pensador da sociedade vitoriana, é fundamental para uma análise das situações extremas vividas pela grande massa dos desvalidos da Revolução Industrial.
OBJETIVO GERAL
Investigar no personagem do Sr. Scrooge a contradição de uma alegoria do capital como sistema de dominação sobre as massas, bem como a importância do autor Charles Dickens como conhecedor das camadas mais pobres de uma Londres transformada pela era industrial e os efeitos desta mudança social sobre a vida dessas pessoas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Contextualizar o autor Charles Dickens a partir das mudanças observadas na sociedade industrial na Inglaterra no período vitoriano;
- Analisar a crítica social em Charles Dickens sobre o capitalismo, a partir da obra “Um conto de natal”.
- Identificar as particularidades do personagem Scrooge na obra de Dickens e sua relação com as proposições do sistema capitalista.
REFERENCIAL TEÓRICO
Charles Dickens e o capitalismo
Os romances de Dickens eram, entre outros aspectos, obras de crítica social onde suas narrativas, tecidas por meio de comentários lúcidos, criticavam a sociedade inglesa do século XIX, sobretudo, no que se refere às distorções provenientes de um modo de desenvolvimento excludente, tais como a pobreza extrema, as condições de vida e de trabalho inadequadas e a estratificação de classe (MILLER, 1958).
Por haver vivido numa sociedade isenta de tradições ou herança do passado, Dickens presenciou que trajetória do indivíduo em luta com seu meio de sobrevivência pode conduzi-lo tanto à ascensão quanto à falência (NOVAIS, 2012). No contexto da literatura, suas obras contemplavam o percurso ideológico do sujeito de seu tempo, que precisava assimilar as imposições da sociedade para poder progredir na vida, ainda que para isso, tivesse que renunciar valores pessoais e subjugar o outro.
A avareza, símbolo da sociedade europeia do século XIX, é também um símbolo universal da busca do homem pela satisfação e êxito. Na obra “Um conto de natal”, Dickens descreve o personagem Scrooge como uma pessoa desagradável, consumidor, empregador e homem de negócios, em termos econômicos, um contribuinte útil para a sociedade. Como consumidor, Scrooge é famoso como um avarento. Ele gosta da escuridão, porque é barato; come gruel, usa microfragmentos de carvão (MACIEL; FLACH, 2015).
De acordo com Silva e Pereira (2011) o comportamento excessivamente individualista e doentio do personagem representa a expressão de uma denúncia de escolhas equivocadas. No entanto, a narrativa aponta para uma certa esperança na conduta humana de que, em determinado momento da vida, a consciência e a noção de justiça predominam, ainda que, às vezes, o homem ceda à sedução do dinheiro. Como empregador, Scrooge é mais duro do que o necessário. Em termos mais modernos, uma relação de trabalho é mais do que uma troca de horas de pagamento. Scrooge no início do livro torna a vida de Bob Cratchit mais difícil do que já é, e se Scrooge estivesse disposto a usar modestas recompensas não monetárias, como falando agradavelmente, sua relação de trabalho poderia ter sido mais produtiva em ambos os lados.
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