UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O GÊNERO TEXTUAL E A TIPOLOGIA TEXTUAL
Por: Iamanler • 3/7/2020 • Artigo • 5.411 Palavras (22 Páginas) • 201 Visualizações
UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O GÊNERO TEXTUAL E A TIPOLOGIA TEXTUAL
Eliana Brandão Menezes
Este trabalho traz uma breve discussão sobre as terminologias gênero textual e tipologia textual, apresentando alguns conceitos dos dois termos através da posição de alguns estudiosos da atualidade. Apresenta, ainda, uma posição sobre o uso dos termos na sala de aula do ensino fundamental e médio a partir da minha vivência em sala de aula e da posição do professor Travaglia, que aborda Tipologia Textual de uma forma mais didática, voltada para os professores e com a preocupação de como a classificação de texto está sendo transmitida através dos livros didáticos.
O que pretendo mostrar é que Gêneros textuais e Tipologias textuais são elementos que se completam, não existe um sem o outro. Escrever um determinado gênero implica na escolha do tipo textual que esse texto será produzido. Por isso, a importância de se saber o que cada um destes termos expressa, para que o indivíduo (aluno) possa produzir textos com conteúdo, estilo, coerência e qualidade.
Palavras chaves:Texto. Gênero textual. Tipologia textual. Oralidade. Escrita.
No nosso dia a dia lidamos com os mais diversos tipos de textos.Compreendendo-se texto como toda produção linguística, carregada de sentido, produzido tanto na oralidade como na escrita e que tem como função de estabelecer comunicação.
Para Bakhtin, em sua Estética da Criação Verbal (2003), todo enunciado linguístico atende a uma necessidade específica do falante, de acordo com a finalidade de cada espaço em que a comunicação se processa:
Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma língua.
Nesse processo de produção de diferentes produções textuais, a interação entre o estilo da linguagem, o conteúdo e a construção composicionalsão marcados pelo autor como elementos importantes:
Todos esses três elementos – o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamosgêneros do discurso.
O GESTAR II apresenta texto como: “toda e qualquer unidade de informação no contexto da interação; entendendo-se interação como uma ação entre sujeito, entre interlocutores.” E ainda: “... que um texto pode ser oral ou escrito, literário ou não-literário, de qualquer extensão.”
Esta diversidade de produção textual ocorre na língua conforme a intenção do falante e a situação na qual o texto é produzido. Por isso, é complexa a classificação de um texto dentro de uma única modalidade textual. Para isso, devemos entender melhor como esses textos são classificados e buscarmos esclarecer algumas confusões feitas sobre o que é gênero textual e tipologia textual, já que por muito tempo, estes termos foram usados indistintamente.
Durante muito tempo, e ainda hoje, em alguns livros didáticos o termo gênero está diretamente ligado à literatura e o termo tipologia textual ou “tipos de texto” a produção de textos e, muitas vezes, estes termos estão confusamente aplicados, sendo usados de forma indistinta, referindo-se a um texto como tipo quando na realidade deveria se dizer gênero e, às vezes, diz-se gênero quando deveria se dizer tipo.
A partir de estudos, podemos perceber que no meio acadêmico, a discussão sobre gêneros e tipologias textuais já caminham a bons passos. Mas no ensino médio, a importância dessa discussão tomou força, após construção dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais). A partir da sua consideração de que o uso do texto nas aulas, como unidade básica para o ensino da língua portuguesa, que o estudo de gêneros passou a tomar maior evidência nas salas de aulas do ensino fundamental e médio.
Segundo Dominique Maingueneau (2002):
A noção tradicional de gênero foi inicialmente elaborada no âmbito de uma poética, de uma reflexão sobre a literatura. Só recentemente ela se estendeu a todos os tipos de produções verbais. Essa transferência não se faz sem riscos. Com efeito, as obras literárias não se ligam à categoria da mesma forma que um panfleto ou um curso de matemática. Quando, por exemplo, um dramaturgo do século XVII intitula “tragédia” uma de suas obras, ele a inscreve naquilo que Jean –MarieSchaeffer chama de classe genealógica, estabelecendo uma referência com obras anteriores, no caso obras gregas, retomadas mais ou menos fielmente. (...) Em contrapartida, quando trata não de obras singulares, mas de relatórios de estágio, (...), não existe tal filiação a obras consagradas: trata-se de rotinas, de comportamentos estereotipados e anônimos que se estabilizaram pouco a pouco, mas que continuam sujeitos a uma variação contínua.
Essa questão de gênero e tipo textual, para Marcushi (2002), é defendida como:
Gênero é uma condição sinequa non para toda comunicação verbal, ou seja, não há enunciado que não esteja enquadrado em um tipo específico de gênero. Sua materialidade é sócio-historicamente definidae tendo como seus determinantes a sua forma, as suas funções e o seu suporte. Ele ainda afirma: Partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual. Essa posição, também defendida por Bakhtin [1997] e também por Bronckart (1999) é adotada pela maioria dos autores que tratam a língua em seus aspectos discursivos e enunciativos, e não em suas peculiaridades formais. Esta visão segue uma noção de língua como atividade social, histórica e cognitiva. Privilegia a natureza funcional e interativa e não o aspecto formal e estrutural da língua. Afirma o caráter de indeterminação e ao mesmo tempo de atividade constitutiva da língua, o que equivale a dizer que a língua não é vista como um espelho da realidade, nem como um instrumento de representação dos fatos. (...) É neste contexto que os gêneros textuais se constituem como ações sócio-discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo, constituindo-o de algum modo.
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