Um Cavaleiro, uma Dama e seu Grão-Mestre
Por: Juliana Neves Braga • 8/3/2018 • Artigo • 1.036 Palavras (5 Páginas) • 223 Visualizações
Um Cavaleiro, uma Dama e seu Grão-Mestre
Deo Favente.
Era a manhã do dia 27 de julho, do Ano da Graça de Nosso Senhor de 2016, feriado em nossa cidade. Recebemos outrora um convite para irmos ao encontro de nosso Grão-Mestre, o qual fora acolhido com gáudio imenso, afinal todo nosso contato com ele ocorrera apenas em meios virtuais. Minha esposa e eu chegamos a São Paulo, sob a tranquilidade de um dia proporcionado por Deus como tantas benesses que recebemos de Sua infinita liberalidade dia após dia. Passo a passo cruzávamos a Rua São Bento até chegarmos ao Largo São Francisco.
Havia em nós grande expectativa, além de imensa preocupação. Afinal não andava bem de saúde por aqueles dias e queríamos transparecer a nossa reta intenção ao pensarmos no ingresso às fileiras da Sacra Milícia.
Tal foi nossa surpresa ao chegarmos no local onde encontramos Sua Alteza Sereníssima, o Príncipe Dom André III. Não fomos nós que o encontramos, seria a colocação perfeita: ele nos encontrou. Isso figura bem a missão dada a Sua Alteza por nosso Senhor, pois o bom pastor deixa as noventa e nove ovelhas no aprisco e vai ao encontro da que se perdeu (cf Mt XVIII, 12). Assim foi nossa sensação ao ver Sua Alteza deixando sua nobre posição e levantando-se apressadamente para nos acolher! Eis para nós a identidade da nobreza – que posteriormente fora tão bem colocada por nosso irmão de hábito, o Conde de Vicalvi, ao dizer que a nobreza é aquela que emana dos títulos mas que será tão mais notoriamente percebida nos atos!
Passada a acolhida, nos convidou a uma agradável conversa onde expôs, com autoridade, quem somos e a que nos colocamos enquanto Cavaleiros e Damas. Ali percebemos que sua posição não era apenas de um coordenador, nem tão somente de gestor: sendo minha esposa e eu mais velhos que ele em idade, constatamos ser a figura de um pai.
O pai é aquele que se preocupa com o bem estar dos filhos, mas também é aquele que atribui responsabilidades enquanto educa. Sim, era assim que nos tratava. Confiou missões nunca dantes imaginadas por nós! O governo de uma Ordem de Cavalaria tão antiga (onde tantos homens de profundos vigor, valentia e sabedoria governaram) recaía sobre este homem diante de nós. O Evangelho diz que Jesus ao se referir a Pilatos é incisivo ao falar “nenhuma autoridade terias (...), se de cima não lhe fora dado” (Jo XIX, 11), e da mesma forma São Paulo diz aos Romanos “Todos devem sujeitar-se às autoridades superiores; porquanto, não, há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Ele” (Rm XIII, 1). Ouvíamos Sua Alteza a nos ensinar enquanto no interior refletíamos seu múnus de Grão-Mestre como outorga da Graça Divina a ele, e sua dinastia. E ensinava como um pai.
Tamanha foi nossa surpresa quando ele nos pediu para expor impressões e dúvidas! Minha esposa e eu fomos educados na fé católica em nossos lares, mas a maior parte de nossa formação recebemos num Mosteiro Beneditino. Nos Mosteiros aprendemos a ouvir o Abade com solicitude, mas reconhecermos no Abade uma autoridade intocável no Mosteiro. Isso foi pensado por São Bento para manter a organização nos primeiros séculos de atividade da Ordem. No entanto, nosso Grão-Mestre nos pedia palavras, impressões, dúvidas! O leitor é capaz de imaginar como reagimos! Passada a comoção intelectual, expusemos nossas colocações. Sua Alteza nos ouvia sem interromper, com olhos fitos em nós e sorriso nos lábios. Ao passo que terminei, Dom André quis ouvir também minha esposa, sem pressa. As mulheres que leem essas linhas podem pensar e chegar assertivamente à uma conclusão: elas têm seu espaço na Ordem! Nosso Grão-Mestre as acolhe mui bem – e quão bem as ouve!
No que diz respeito a espiritualidade, quanto nos exortou Sua Alteza a sermos bons Católicos! Ele mostrou sua preocupação em sermos bons marianos, propagadores da devoção à Bem Aventurada Virgem Maria, nossa Excelsa Suserana. Alertava-nos do valor da Santa Missa, da obediência ao Romano Pontífice e do socorro aos menos favorecidos pelas circunstâncias da vida – tornar a miséria mais suportável, me dirá posteriormente. Quanto nos consolou saber que, ante características tão fortes como amabilidade, paternalidade, autoridade e sabedoria, constatamos sua piedade. Um conforto que convida à reflexão. Afinal, se somos Cavaleiros e Damas da Sacra Milícia, revestidos de uma posição ante a sociedade que deve ser modelar, banhada de uma nobreza particular outorgada pelo Altíssimo, revista deve ser constantemente a nossa piedade. Com a Graça de Deus, contamos com o exemplo de nosso Grão-Mestre nesse sentido.
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