VIDAS DEMOLIDAS EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
Por: barbararette20 • 17/4/2016 • Trabalho acadêmico • 5.711 Palavras (23 Páginas) • 349 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, AGRICULTURA E AMBIENTE – IEAA
CAMPUS VALE DO RIO MADEIRA
CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS
VIDAS DEMOLIDAS EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
HUMAITÁ-AM
2015
LEONIZA SARAIVA SANTANA
VIDAS DEMOLIDAS EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
Trabalho apresentado para obtenção de nota parcial da disciplina de Teoria da Literatura ministrada pelo professor Me. Douglas Ferreira de Paula.
HUMAITÁ-AM
2015
VIDAS DEMOLIDAS EM DOIS IRMÃOS, DE MILTON HATOUM
APRESENTAÇÃO
O autor amazonense Milton Hatoum, nascido em 1952 na cidade de Manaus, é formado em Arquitetura pela USP, mas desenvolveu talento também para pintura, desenho e canto. É professor, tradutor, contista e romancista. Em 1980 viajou como bolsista para a Espanha, onde morou em Madri e Barcelona. Depois passou três anos em Paris onde estudou literatura comparada na Sorbonne (Paris III). Foi professor de Literatura francesa da Universidade Federal do Amazonas (1984-1999) e professor visitante na Universidade da Califórnia (Berkeley, 1996).
Foi também escritor residente na Yale University (New Haven - EUA), Stanford University e na Universidade da Califórnia (Berkeley), Bolsista da Fundação VITAE, da Maison des Escrivains Estrangers (Saint Nazaire, França) e do Internacional Writing Program (Iowa-EUA).
Hatoum também publicou ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latino-americana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus contos foram publicados nas revistas da França, Nova York e México. Participou de várias antologias de contos brasileiros publicados na Alemanha e no México.
Em parceria com o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, publicou Crônica de duas cidades: Belém e Manaus, em 2006, pela SECULT-PA. Desde 1998 mora em São Paulo, onde doutorou-se, pela USP, em Teoria Literária. É colunista do Caderno 2 em O Estado de São Paulo e o site Terra Magazine.
Faz parte da Escola Pós-moderna que segundo Tenório Telles (2010, p. 170) é marcada por intenso conteúdo de crítica e compromisso social. Isto pode ser dito com base em suas obras, que desde a publicação do seu primeiro romance, Relato de um certo oriente (1989), onze anos depois Dois irmãos (2000), Cinzas do Norte (2005), Órfãos do Eldorado (2008), A cidade ilhada (conto-2010) até o seu mais recente conto Um solitário a espreita (2013), verifica-se a narrativa peculiar do autor com críticas bem fundamentadas sobre a região em que nasceu.
É importante ressaltar que todas estas obras já são reconhecidas no Brasil com o Prêmio Jabuti e já venderam mais de 315 mil exemplares. Dois irmãos foi considerado pela crítica como o melhor romance brasileiro de 1990 a 2001 em pesquisa feita pelos jornais em Correio Braziliense e em O Estado de Minas. E Cinzas do Norte recebeu o Mérito Cultural em 2008 do Ministério da Cultura e também o Prêmio Portugal Telecon Literatura. Suas obras já foram traduzidas para doze países e publicada em dezessete.
A obra a ser estudada é o seu segundo romance, Dois irmãos, que segundo o próprio Hatoum
Retoma os temas do drama familiar e da casa que se desfaz. O enredo tem como centro a história de dois irmãos gêmeos – Yaqub e Omar – e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho, um menino cuja infância é moldada justamente por esta condição: ser o filho da empregada. Dois irmãos é a história de como se constroem as relações de identidade e diferença nessa casa. Mas o lugar da família se estende ao espaço de Manaus, o porto à margem do Rio Negro: a cidade e o rio, metáforas das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar. O narrador busca a identidade de seu pai entre os homens da casa, entre os restos de outras histórias. (orelha do livro)
Diretores de diferentes origens e estilos prepararam adaptações de seus textos para o cinema e para TV, enquanto que a versão em quadrinhos de Dois irmãos, feitas por Fábio Moon e Gabriel Bá, também ganhou versão em francês.
A busca pela identidade na obra Dois irmãos é uma constante, pois as personagens são marcadas pelo conflito e estão em busca de se encontrar. Milton enriquece a obra com sua linguagem bem apurada que permite ao leitor construir, aos poucos, sua própria leitura.
ESTRUTURA DO TEXTO
A obra Dois irmãos, de Milton Hatoum, é um romance urbano ou citadino por causa do ambiente principal em que a história transcorre: Manaus. O seu título faz referência as duas personagens principais, Yaqub e Omar, irmãos gêmeos, idênticos no físico, mas opostos nas atitudes e no caráter. Movidos pela rivalidade vão destruindo as relações pessoais e familiares, semeando discórdia, inveja, vingança e ódio. E, buscando fundamento para a estrutura do título da obra confirmou-se a dualidade desde os nomes das personagens que parecem terem sido escolhidos com muito cuidado.
Observe que Yaqub /Ya’aqov/ (Jacob - hebraico), significa alguém que agarra o calcanhar ou suplantador, o melhor. Omar /Ámara/ (árabe, germânico, bíblico) quer dizer aquele que tem uma vida longa, opulente ou próspera; Personagem bíblico – foi o filho de Elifaz, neto de Esaú. Pode também derivar do germânico Otmar, de odo, que significa riqueza. Fazendo-se uma leitura comparativa com outros gêmeos famosos da literatura, mitologia grega ou bíblia sagrada, chegaremos a nomes como Caim e Abel, Esaú e Jacó, Dionísio e Apolo, Esaú e Jacó de Machado de Assis. Todos demonstraram a dualidade em suas histórias por inveja, contrastes de temperamentos, ciúmes, relações conflituosas. Milton faz o jogo de luzes e sombra em sua obra
Cresci vendo as fotos de Yaqub e ouvindo a mãe dele ler suas cartas (...) Durante anos, essa imagem do galã fardado me impressionou. Um oficial do Exército, e futuro engenheiro da Escola Politécnica... Já Omar era presente demais: seu corpo estava ali, dormindo no alpendre. O corpo participava de um jogo entre a inércia da ressaca e a euforia da farra noturna. Durante a manhã, ele se esquecia do mundo, era um ser imóvel, embrulhado na rede (HATOUM, 2010, p.61).
O romance Dois irmãos possui duzentas e sessenta e sete páginas, divididas em doze capítulos (sem títulos), com um pequeno preâmbulo, antes do primeiro capítulo, que aguça a curiosidade do leitor e relata cenas do fim da história
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