A Ação cultural para a Liberdade
Por: andreafsouza74 • 20/11/2017 • Bibliografia • 1.452 Palavras (6 Páginas) • 590 Visualizações
Ação cultural para a Liberdade – RJ – 1981
A obra Ação cultural para a liberdade que apresenta uma proposta de educação preocupada com o engajamento do sujeito em sua realidade, em seu contexto, apreendendo-o e tornando-se capaz de, ao criticá-lo, iniciar sua compreensão e transformação.
O processo educativo inicia com a tomada de consciência, por parte do sujeito, da condição em que se encontra e na qual se encontram seus semelhantes. Isso é estudar, porque, como Freire diz, “Estudar não é um ato de consumir ideias, mas de criá-las e recriá-las” (12) para que se comprometam com a qualidade de vida dos seres humanos. Nesse contexto, o educador, o trabalhador, o sujeito ou os sujeitos – assim mesmo no plural, pois Paulo Freire vê a educação com ato coletivo, solidário e não individualista – trabalham com jamais, sobre os indivíduos a quem considera sujeitos e não objetos de sua ação. Assim, com humildade e criticidade não se pode jamais aceitar a ingenuidade. Há de se ter uma posição crítica diante dos fatos, dos acontecimentos, da vida, do mundo. A atitude do educador é uma ação crítica de leitura do mundo que responde com ação solidária e coletiva, visando a transformação.
Mais adiante, Freire aponta para uma “Pedagogia utópica da denúncia e do anúncio” (60) como necessidade de ser ato de conhecimento da realidade denunciada, uma ação cultural para a libertação. Em não se verificando essa disposição radical, não há educação, na medida em que educação só ocorre como compromisso com o cidadão, com o sujeito, com a vida e, desse modo, educação já é ato transformador em sua essência ao desacomodar as situações de ingenuidade e cegueira dos sujeitos diante de sua realidade. A educação deve permitir ver, entender e transformar as realidades individuais e sociais nas quais os sujeitos se encontram. Na medida em que há esse reconhecimento, ocorre a união dos dominados, não mais como minorias divididas entre si e passa a existir também, o reconhecimento da identidade dos interesses dos homens e mulheres que, na diversidade de suas realidades, se percebem como companheiros de uma mesma jornada. Educação é comunhão e como tal
A partir de então é possível entender eficiência não mais na lógica do neo-liberalismo como mero cumprimento, preciso e pontual, das ordens que vêm de cima, mas como identificada com a capacidade que têm os seres humanos de pensar, de imaginar, de arriscar-se na atividade criadora e transformadora do mundo, das relações e das estruturas. Educar é transformar o ser humano, o indivíduo, o ser e, com ele o mundo. É uma ação profunda porque cultural, não apenas aparente, de modo individualizado e descontextualizado da realidade, do meio, da vida. Nesse sentido, “(...) ninguém conscientizará ninguém. O educador e o povo se conscientizam através do movimento dialético entre a reflexão crítica sobre a ação anterior e a subsequente ação no processo (...)” (109).
O pensamento freiriano nos remete a dimensão política da educação enquanto ação libertadora que não se limita a poupar os alunos dos quadros negros à medida que lhes oferece projetores. Educação libertadora é a que se propõe a contribuir para a libertação das classes dominadas, porque “(...) é na intersubjetividade, mediatizada pela objetividade, que minha existência ganha sentido” (115). Intersubjetividade que se edifica com a existência coletiva e expressa nas palavras. É nessa medida que não há práxis autêntica fora da unidade dialética da ação-reflexão, da prática-teoria, como diz Freire.
Educar está longe da acomodação e da atitude acomodativa pela ação pedagógica. Educar é, desse modo, intrigar, desafiar, desacomodar, incomodar. Educar é agir de modo desafiador e perturbador diante da estrutura sócio-econômica e cultural da sociedade de privilégios que vê o eu somente e, mesmo assim, não consegue atendê-lo em sua plenitude por assumir uma fantasia do real descomprometendo-se com a vida, a pessoa e a dignidade humana. Educar é comprometer-se com a vida.
“Cartas à Guiné-Bissau – registros de uma experiencia em processo”.
RJ – 1978
Neste livro estão reunidas as cartas que Paulo Freie escreveu ao Comissário de Educação e à Comissão Coordenadora dos trabalhos de alfabetização de Bissau.
A intenção fundamental e a de oferecer aos leitores uma visão mais ou menos dinâmica das atividades que se estavam desenvolvendo naquele país a alguns dos problemas teóricos que essas atividades suscitam. Então se deu o nome do livro.
Guiné-Bissau era um país que estava em construção, mas não estava partindo do zero das fontes culturais e históricas de seu povo, que a violência colonialista não conseguiu matar. Porém, parte do zero com relação às condições materiais em que deixaram os invasores quando, já derrotados politica e militarmente, numa guerra impossível tiveram de abandona-la definitivamente após o 25 de abril de 1978, com legado de problema de descaso que diz bem do esforço civilizatório do colonialismo.
Por isso Paulo Freire pensou em um projeto de ajuda à Guiné-Bissau teria de nascer lá mesmo pois havia interesses comuns entre eles, pensado pelos educadores em função da pratica social que se dá no País. Assim a colaboração de Paulo Freire ao fazer o planejamento de um projeto e para colocá-lo em pratica, dependia em conhecer melhor a realidade nacional, através da leitura de todo material recolhido bem como através de sucessivas visitas ao País.
Este livro apresenta a experiencia de aprender primeiro, e ensinar depois e continuar a aprender ensinando. O ato de ensinar está vinculado ao ato de aprender, pois na verdade experiencias não se mudam de lugar, não se reinventam, por isso uma das preocupações básicas do autor durante todo tempo que se deparou em equipe para primeira visita a Guiné-Bissau foi a de se vigiar quanto a tentação de superestimar este ou aquele aspecto, desta ou daquela experiencia anterior e pretender emprestar de validade universal.
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