A ESCOLA E O ARGO DE CEM OLHOS
Por: Edinaldo Oliveira • 28/11/2015 • Artigo • 1.579 Palavras (7 Páginas) • 347 Visualizações
A ESCOLA E O ARGO DE CEM OLHOS: uma análise foucaultiana do poder dos gestores escolares.
Aluno: Edinaldo Nascimento de Oliveira[1]
Professor: Wendell Nogueira Lima[2]
Resumo: Nossa pesquisa aborda de forma sucinta como o poder dos gestores das escolas públicas, na visão de Foucault (1926 –1984), pode implicar diretamente nas relações sócio educacionais dentro do ambiente escolar, tanto de forma positiva como negativa. Sob esta visão foucaultiana, a escola passa a constituir-se num observatório político, num aparelho que permite o conhecimento, o controle de seus componentes através dos diretores, dos professores, dos funcionários e dos próprios alunos. Essa relação hierárquica induz todos a se sentirem sempre vigiados e/ou controlados.
Resumen: Nuestra investigación aborda sucintamente como el poder de los administradores de las escuelas públicas, en vista de Foucault (1926 -1984), puede resultar directamente en las relaciones con los socios educativos en el ámbito escolar, tanto positiva como negativamente. En vista de este Foucault, la escuela constituirá un observatorio de política, un dispositivo que permite el conocimiento, el control de sus componentes a través de los directores, maestros, funcionarios y los propios estudiantes. Esta relación jerárquica induce a todos a sentirse siempre supervisado y / o controlado.
INTRODUÇÃO:
A indisciplina é um assunto recorrente entre os professores da rede pública e privada das escolas de todo o Brasil. São inúmeros os debates e tentativas de amenizar as consequências dessa grande “vilã”, já que para todos os profissionais da educação ela é o principal fator que atrapalha o processo de ensino e aprendizagem. Nesse contexto, é muito comum ouvirmos dos gestores das escolas um discurso moral sobre aqueles que se recusam a seguir as orientações de ser um aluno disciplinado, há uma constante moralização acerca das atitudes que não correspondem ao que se espera de um aluno (ao que se entende por um bom aluno). Existe um padrão desejado em que todos têm que alcançar, ou seja, é preciso que o educando seja obediente, silencioso, inerte, e caso não se enquadre a esse padrão, a escola busca, através de dispositivos de vigília e/ou punição uma tentativa de transformação.
Se observarmos a posturas dos nossos gestores e professores através desse viés, é inevitável não nos remetermos ao conceitos do filosofo e sociólogo Michel Foucault em seu livro “Vigiar e Punir” (1977), onde ele afirma que a escola configura-se como um ambiente visivelmente parecido com uma prisão em sua disposição física, seus mecanismos de disciplinarização, sua organização hierárquica e sua vigilância constante. Essa analogia refere-se ao sistema penitenciário, em que as prisões disciplinares tinham por objetivo a readaptação e integração de “corpos dóceis” à sociedade.
Compreender o porquê da ênfase dos gestores das escolas municipais com a questão disciplinar e entender como os mesmos exercem esse poder é o escopo desse trabalho, recorrendo aos conceitos de poder, disciplina, vigilância e seus desdobramentos. Essa análise se sustenta fundamentalmente numa abordagem foucaultiana e é através dessa análise que as relações de poder da gestão escolar adquirem uma visibilidade concreta e sistemática. É uma questão importante em sua teoria entender essas relações não somente como algo negativo, mas também produtivo.
DESENVOLVIMENTO:
É sabido de todo profissional da educação que há a necessidade de um poder autoritário dentro do ambiente escolar, caso contrário o cotidiano da escola seria muito mais difícil do que já está sendo. Mas a questão levantada neste trabalho não é questionar o poder hierárquico, mas sim a forma como esse poder está sendo usado. Educativo ou punitivo?
Em nosso título fizemos uma relação entre escola, gestores e o ser da mitologia grega, Argo. Essa analogia não é à toa. Segundo a obra de Bulfinch, O livro de ouro da mitologia (1977, pg. 39-42), para vingar-se de uma traição, a deusa Juno lança um feitiço na amante do marido, a ninfa Io, transformando-a em uma novilha para que o mesmo não a reencontre nunca mais. Mesmo assim, para garantir que ninguém se aproxime, ela coloca seu serviçal Argo Panoptes, um gigante de cem olhos, para vigiar a pobre jovem, pois o mesmo nunca dorme com mais de dois de seus cem olhos fechados. Ele tudo vê, mesmo dormindo. Júpiter ao descobrir tal feito, envia Hermes para matar Argos e salvar sua amante. Para honrar a lealdade de seu fiel servo, Juno coloca todos os olhos de Argo na caldo de sua ave de estimação, o pavão.
Escolhemos esse mito para relacioná-lo com o papel que gestores adotam dentro do ambiente escolar: o de vigiar. Daí a expressão “olhar panóptico”, o olhar vigilante de Argo Panoptes.
Segundo Foucault (1977, p. 174), a escola demonstra-se ser “um espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar físico onde os menores movimentos são controlados onde todos os acontecimentos são registrados”. Esse tipo de vigilância permite a diretoria um controle sobre todas as movimentações na escola: quem está no corredor, quem vai ao banheiro, a classe “indisciplinada” e outros mais. Essa atividade vigilante é bem perceptível dentro do ambiente escolar, tanto que muitos profissionais sentem-se acuados e pressionados a mostrarem o controle de suas salas de aula ao mesmo tempo que tentam repassar todo o conhecimento científico de sua área de atuação especifica.
Essa hierarquização do poder tem lados e funções opostas, dependendo de sua intensidade, esse poder vigilante pode ser disciplinador ou punitivo.
“(...) trata-se ao mesmo tempo de tomar penalizáveis as frações mais tênues da conduta, e de dar uma função punitiva aos elementos aparentemente indiferentes do aparelho disciplinar: levando ao extremo, que tudo possa servir para punir a mínima coisa; que cada indivíduo se encontre preso numa universalidade punível-punidora” (FOUCAULT, 1977, p. 159).
Disciplinar exige um espaço específico para seu exercício, um espaço no qual os indivíduos possam ser vigiados nos seus atos, que tenham seu lugar específico para visualizar seu comportamento para poder sancioná-lo ou medir suas qualidades. Tratando-se de espaço, este deve ser visto como algo útil e funcional, a escola deve ser dividida através de séries e classes e as mesmas individualizarem os alunos através da disposição em filas o que facilita a vigilância e o controle. O professor visualiza os alunos, pois cada um se define pela sua posição na classe, nesse sentido “a sala de aula formaria um grande quadro único, com entradas múltiplas, sob o olhar cuidadosamente ‘classificador’ do professor” (FOUCAULT, p. 135).
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