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A Gestão democrática presente na escola do campo

Por:   •  9/6/2017  •  Trabalho acadêmico  •  4.620 Palavras (19 Páginas)  •  334 Visualizações

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111 A gestão democrática presente na escola do campo: o caso da Escola de Ensino Fundamental Linha Biguá – SC Dionéia Lang Machado* Patrícia Andréa Rauber Knorst ** Resumo O presente artigo aborda como problemática entender o que é preciso considerar na educação do campo, para efetivar um processo de gestão democrática em todas as escolas de educação básica. É importante caracterizar os elementos necessários a serem considerados no processo de gestão escolar, visando à constituição da democratização da escola do campo. A metodologia da pesquisa é dialética com abordagem qualitativa, analisando material bibliográfico, documental e pesquisa de campo, envolvendo, a Escola de Ensino Fundamental Linha Biguá, no município de Iraceminha, SC. Palavras-chave: Escola do campo. Gestão democrática. Cultura. Valores. 1 INTRODUÇÃO A pesquisa visa a argumentar a respeito da gestão democrática na escola do campo, uma vez que se estuda muito pouco em relação à riqueza de conhecimento que essas escolas têm em seus cotidianos. Como historiadora, pretendo abordar a história da gestão escolar no campo porque é necessário, muitas vezes, recordar o passado para compreender o espaço escolar em que se vive atualmente. É necessário que este espaço, onde as escolas do campo estão localizadas, seja olhado e percebido como um lugar não somente agrícola, mas sim com múltiplas diversidades culturais, sobretudo de construção de valores étnicos, sociais e educacionais. Por essas razões, justifico ser fundamental considerar na construção dos meus conhecimentos, a gestão democrática nas escolas do campo, uma vez que a educação sempre será na sociedade uma esfera essencial para a formação do ser humano, tanto profissional, quanto intelectualmente. A metodologia da pesquisa é dialética com abordagem qualitativa, analisando material bibliográfico, documental e pesquisa de campo, envolvendo a Escola de Ensino Fundamental Linha Biguá, no município de Iraceminha, SC. Foi aplicado um questionário com questões abertas e fechadas para docentes, discentes e funcionários, e uma entrevista com o diretor da escola e com os pais. Após a coleta de dados, estes foram categorizados e analisados à luz do referencial teórico discutido. 2 DESENVOLVIMENTO Contextualizar a educação no campo é muito importante atualmente, pois esse tema é pouco discutido no contexto social. As escolas do campo vivem uma dinâmica diferente de sistema educacional, ou pelo menos deveriam viver. Um passo fundamental é garantir a plena efetivação da participação de toda a comunidade * dioneia@unoescsmo.edu.br **patricia_pattyrauber@hotmail.com Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 112 Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 Dionéia Lang Machado escolar nas decisões a serem tomadas na escola, melhorando, assim, a qualidade educacional e social do campo. É fundamental que nas escolas no campo seja trabalhada a educação em questão de igualdade, pois alguns aspectos educacionais deveriam estar engajados na realidade social das famílias do campo e também no currículo escolar. Essas escolas possuem inúmeros critérios a serem discutidos, que precisam ser recapitulados e analisados para a progressão da própria escola e dos membros que dela fazem parte. A educação sempre será na sociedade um instrumento essencial para a formação de qualquer cidadão. Por meio de uma educação com princípios democráticos, pode-se reconstruir uma escola de educação básica de qualidade participativa. Na realidade educacional, o gestor realmente deveria conduzir a escola com participação e autonomia, e não somente administrar, que nos leva a ideia de gerir. Respeitar e compreender as múltiplas identidades na escola do campo significa conhecer e compreender o conhecimento de muitas pessoas; e uma gestão escolar democrática deve motivar toda a comunidade na união em prol do desenvolvimento da unidade escolar. É importante ressaltar que nas escolas do campo é preciso considerar vários aspectos desse contexto, como o ambiente físico tanto da escola quanto da zona rural, as tradições familiares, as condições sociais, entre outras, para entender a dimensão cultural-social e a pluralidade do processo educativo, toda a gestão escolar; ou seja, todos que fazem parte da comunidade escolar, direção, professores, alunos, pais e funcionários podem opinar nas decisões da escola. A construção da escola democrática constitui, assim, um projeto que não é sequer pensável sem a participação ativa de professores e de alunos, mas cuja realização pressupõe a participação democrática de outro setores e o exercício da cidadania crítica de outros atores, não sendo, portanto, obra que possa ser edificada sem ser em co-construção. (LIMA, 2002, p. 42) Com a participação de todos que compõem a comunidade escolar nas decisões da escola, podemos construir um espaço de diálogo, discussão, troca de ideias e valores. Acredita-se que uma gestão democrática que luta para defender os ideais de um lugar que é o alicerce da educação está realizando uma gestão preocupada com o desenvolvimento da unidade escolar e dos educandos que ela compõe. No contexto educacional das escolas do campo é importante o significado da palavra “campo”, a fim de compreender seus sentidos em que inúmeras escolas de educação básica estão localizadas. Assim, é fundamental destacar que podemos pensar no campo como espaço de muita cultura e história e de grande diferença do espaço urbano das escolas. O significado territorial é mais amplo que o significado setorial que entende o campo simplesmente como espaço de produção de mercadorias. Pensar o campo como território significa compreendê-lo como espaço de vida, ou como um tipo de espaço geográfico onde se realizam todas as dimensões da existência humana. O conceito de campo como espaço de vida é multidimensional e nos possibilita leituras e políticas mais amplas do que o conceito de campo ou de rural somente como espaço de produção de mercadorias. (FERNANDES, 2006, p. 28). Na realidade, o sentido do campo é muito grande, possui inúmeras dimensões sociais. Todavia, não se pode avaliá-lo simplesmente como um lugar de produção agrícola, mas como um espaço em que se constroem valores educacionais e de experiências de vida. Em um sentido menor, no campo, possuímos a dimensão de analisar questões culturais, econômicas, políticas e sociais da sociedade em geral, pois, inúmeras vezes, esse espaço é isolado da sociedade urbana e a atualidade não é contextualizada no momento que ela acontece. As pessoas do campo possuem dinamismo especial, além disso, procuram ter mais responsabilidade e respeito com as pessoas, pois ainda não têm tanta interferência dos meios de comunicação, os quais, às vezes mudam os sujeitos de valores e atitudes. Na convivência com as pessoas, por meio do exemplo e do diálogo, podese ensinar muito para as crianças do campo, pois elas se espelham no exemplo de toda a comunidade escolar. Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 113 A gestão democrática presente na escola do campo... Ao repensar a educação do campo, é preciso analisar o cenário brasileiro. Muitas crianças vivem nesse meio, então é necessário valorizar e incentivá-las a permanecer na escola e progredir nos estudos, já que a maioria vive em condições muito precárias, e alguns deixam a escola para trabalhar. Os gestores das escolas precisam conquistar e trazer as crianças para a escola. Na realidade, é fundamental nas escolas do campo, fazer com que os educandos percebam e relacionem o conhecimento científico das aulas com a própria realidade em que vivem, assim inúmeros assuntos poderão ser compreendidos e assimilados, facilitando a compreensão. As escolas do campo são consideradas pelo IBGE todas aquelas localizadas em um espaço geográfico na zona rural, portanto, ainda necessitam inserir-se em um meio rural e serem reconhecidas como escolas do campo. As formações curriculares das escolas do campo devem ser constituídas conforme cada realidade escolar, onde essas escolas estão localizadas. Para isso, é necessário analisar a educação nessas escolas a partir do critério social, político e geográfico, pois esses critérios influenciam no ensino. Por meio do currículo escolar podemos estabelecer os conteúdos conforme o meio em que convivem os bem estruturados. Com um currículo escolar bem estruturado, a formação dos alunos será mais eficaz, pois, se acredita que aquilo que é ensinado nas escolas sirva para o aluno conviver na sociedade. Todavia, muitas vezes, deve-se considerar o próprio cotidiano e os conhecimentos/habilidades que o aluno adquire de sua própria cultura. Atualmente, existem poucas escolas do campo no Brasil que apresentam toda a educação básica. O que mais se encontra são escolas com ensino fundamental, somente até os anos iniciais, pois o fluxo de habitantes está se concentrando mais nas cidades e, geralmente, a maioria dos pais das novas gerações continua no interior devido a vários problemas de sobrevivência e também porque o número de filhos por família diminuiu consideravelmente nas últimas décadas, fazendo com que as escolas fiquem com pouco número de crianças. Então, torna-se inviável para o estado ou para os municípios sustentarem gastos com professores, merenda, transporte, etc., mas, aquelas que ainda restam, são construtivistas do processo de ensino-aprendizagem, e continuam valorizando a cultura do povo do campo. As escolas de educação básica da área rural podem encontrar vários problemas que são diagnosticados na comunidade escolar. Esses problemas afetam a escola cultural e socialmente, então é importante que a gestão democrática seja participativa e responsável, capaz de mediar a escola. Os livros didáticos são os principais desafios abordados nas escolas do campo, em razão da sua carência de conteúdos relativos à realidade da zona rural. Embora todos possam ensinar mediante conhecimentos culturais, é necessário o conhecimento científico para trabalhar com determinados assuntos em sala de aula. Uma gestão escolar democrática requer das escolas de educação básica efetiva participação de todos no processo pedagógico. O ideal de uma gestão escolar é expor tudo o que acontece na escola para a comunidade escolar, de forma responsável e transparente. A ferramenta essencial para o trabalho da gestão democrática nas escolas do campo é a participação. Se a gestão não for participativa não existe gestão democrática. Mas como ser uma gestão democrática? Primeiramente, o gestor que assumir o cargo de diretor precisa gostar dessa profissão, e, posteriormente, da escola e de todos que estão inseridos nela. Deve acreditar em si para fazer da unidade escolar um elo entre a sociedade e a criança. Mas, para isso, precisa ser um mediador do conhecimento, responsável, ético, leal e amigo de toda a comunidade escolar. Questionaram-se os professores em relação ao que compreendiam a respeito da gestão escolar democrática e quais os elementos que consideravam importantes para efetivar um processo de gestão democrática na escola do campo. Para o professor “A1” “[...] gestão democrática é quando todos os segmentos da escola participam das decisões e atividades escolares, e os elementos importantes são a participação de todos os membros da escola (direção, professores, pais e alunos) e trabalho coletivo.” (informação verbal)1 . Compreende-se que muito mais do que a participação dos educandos nas decisões escolares, é necessária a constante participação de toda a comunidade escolar nas decisões tomadas pela gestão, para que ela se torne democrática e participativa. 114 Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 Dionéia Lang Machado Dias (2001, p. 269) destaca que “[...] a gestão é, pois, tomada aqui como expressão mais ampla que administração, [...] Consiste na condução dos destinos de um empreendimento, levando-o a alcançar seus objetivos.” Em contrapartida, o professor “B2” salienta que “[...] uma gestão é aquela que procura o bem-estar de todos, independente de raça, cor ou religião; que desenvolve o crescimento de cada indivíduo, adaptando seus conhecimentos e valores. Mesmo sendo uma escola do campo, deve-se sempre valorizar o educando, respeitar suas diferenças e dialogar.” (informação verbal)2 . Um aspecto fundamental na construção de uma gestão responsável e participativa é o diálogo. No contexto escolar, ele é fundamental para o desempenho do aluno e para colocar a gestão mais próxima da vivência deste. O gestor, nas escolas do campo, deve inteirar-se à vida social do educando para compreender as atitudes deste na escola, pois existe uma maior proximidade entre gestão e aluno devido à localização da escola em relação à casa dele, com uma concentração de crianças no campo. A gestão escolar deve fazer com que o aluno se sinta valorizado na escola. Entretanto, princípios transparentes são importantes para viabilizar a integralização do aluno no meio escolar. Ao ser questionado sobre qual gestão considera ideal para a sua escola, obteve-se do (a) diretor (a) uma resposta que condiz com a expectativa deste trabalho. Assim, argumentou que a gestão ideal é “[...] gestão democrática e participativa, que avalia os avanços tanto pedagógicos quanto administrativos, busca o melhor para a coletividade, visa ao êxito no processo de ensino-aprendizagem, e faz com que o aluno seja sujeito do próprio conhecimento.” (informação verbal)3 . Podemos analisar que o(a) diretor(a) dessa escola de ensino fundamental, situada na zona rural, possui um dilema muito importante. Partir da gestão escolar a concepção de que a escola deve ser democrática, é uma garantia de que muitos planejamentos realizados no contexto escolar têm participação efetiva neste. O gestor escolar deve ter consciência de sua função. A gestão deve ser participativa, motivadora e responsável, tanto na teoria quanto na prática. Assim, não somente falar que a gestão deve ser democrática, mas torná-la democrática. O diretor enfaixa em suas mãos uma grande soma de responsabilidades, na verdade é responsável por tudo o que se passa na escola [...]. Precisa ter certa dose de conhecimento da atividade técnica realizada pelo grupo sob seu comando, sem que isto signifique que ele tenha de desempenhá-las pessoalmente. (DIAS, 2001, p. 274). A gestão escolar democrática nas escolas do campo deveriam fazer planejamentos antes das necessidades aparecerem. É importante que esteja preparada para eventuais desafios que podem ocorrer na escola, assim, um problema que surge de imediato, pode ter uma possível alternativa de solução, mas a escola precisa pensar em conjunto para resolver um assunto. Saber ouvir significa oportunizar às demais pessoas a expressão na escola. Toda opinião pode ser construtiva tanto pedagógica quanto administrativamente. Agir em conjunto nas escolas é garantir a participação de muitos segmentos destas. Assim, como todos aprendem e ensinam constantemente, a gestão escolar também precisa de opiniões para gerenciar a escola. Contextualizar os problemas e desafios que uma gestão escolar enfrenta faz parte do cotidiano de qualquer escola. Todavia, muitas vezes, a comunidade escolar não conhece os desafios que a unidade escolar enfrenta, ou esta somente é comunicada quando há problemas na escola para serem solucionados. Conversar com alunos, professores e pais a respeito dos assuntos tratados em uma escola do campo é possível, pois geralmente moram em lugar menor e o número de alunos é pequeno. Uma escola do campo, ao contextualizar seus desafios com as demais pessoas que envolvem o processo educativo, passam a valorizar as opiniões, e, assim, incentivam a participação de todos no contexto escolar. Diagnosticar alternativas de melhorar o processo educativo com a participação de todos, enriquece até o processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 115 A gestão democrática presente na escola do campo... As escolas de educação básica, localizadas na zona rural, geralmente socializam os desafios que surgem no cotidiano escolar. Todavia, essas escolas enfrentam alguns problemas que talvez não percebam no seu cotidiano, como, a falta de infraestrutura. Segundo o Inep, as principais dificuldades das escolas do campo são: Insuficiência e precariedade das instalações físicas da maioria das escolas; dificuldades de acesso dos professores e alunos às escolas, em razão da falta de um sistema adequado de transporte escolar; [...] falta de conhecimento especializado sobre políticas de educação básica para o meio rural [...] falta de atualização das propostas pedagógicas das escolas rurais [...] (BRASIL, 2007). Essas dificuldades encontradas pelo Inep, nas escolas do campo, não podem ser generalizadas. Em grande parte do território brasileiro essas escolas encontram dificuldades na gestão escolar, o que influencia significativamente muito o processo educativo, porém, deve ser um mérito dos gestores e da comunidade escolar analisar e propor alternativas que viabilizem soluções para esses problemas. O acesso das crianças e dos professores à escola deve ser garantido pelo município com o transporte escolar. A distância dos alunos ou dos professores até à escola não pode impedir, atrasar ou prejudicar o processo educativo. Se esses problemas ocorrem, é preciso pensar em outra possibilidade de começar as aulas, por exemplo, adiantar o horário de início, para flexibilizar a chegada de todos na escola. Atualmente, inúmeras escolas situadas na zona rural não possuem mais tantos desafios educacionais que são vistos por pessoas que residem na zona urbana e não conhecem a realidade educacional existente nessas escolas. Os educadores que lecionam nessas escolas possuem uma boa formação, e os que ainda não estão formados, buscam sua graduação. Ao questionarmos os alunos se a escola do campo onde estudam discute com eles os problemas enfrentados no dia a dia, todos responderam que a escola contextualiza os problemas enfrentados. O aluno “A” ressalta que “[...] porque todos os projetos são feitos em conjunto (comunidade e escola).” (informação verbal)4 . O aluno “E” aborda que “[...] é importante todos sabermos como correm as coisas na escola, como os problemas, os projetos e tudo da atualidade das escola.” (informação verbal)5 . O aluno “J” argumenta que “[...] todos da escola têm que ficar sabendo das coisas e os problemas resolvem-se, discutem-se projetos para melhorar o andamento da escola também.” (informação verbal)6 . O planejamento escolar deve ser uma atividade realizada em conjunto, que, conforme Libâneo (2004, p. 149): O planejamento escolar consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de execução e formas de avaliação. Quando uma escola situada na zona rural consegue articular, por meio de um planejamento escolar todos no contexto educacional, pode, com certeza, incluir os alunos na busca por soluções pelos desafios da escola. Muitas vezes, os próprios alunos são responsáveis por alguns problemas, e mediante um simples diálogo pode-se resolver o problema. Percebe-se que os alunos dessa escola do campo querem e gostam de saber o que acontece na escola, porque os envolve em todos os processos educativos. Se realmente a gestão escolar contextualiza os desafios enfrentados no dia a dia, esta é participativa e democrática. Ao abordar a educação do campo, é importante entender o espaço em que ela está inserida. Viver na zona rural é muito diferente do que na zona urbana, pois os valores apresentados pelos agricultores vêm ao encontro do próprio ambiente que residem. Cada família trabalha conforme apresenta condições para 116 Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 Dionéia Lang Machado a sua produção, porém, nas áreas rurais menores, há maior amizade entre as pessoas, elas compartilham suas próprias experiências. É muito importante que as famílias rurais que tenham crianças em uma escola da zona rural gostem de morar no campo. Gracindo (2006, p. 14), aborda que “[...] o campo é território de produção de história e cultura, de luta de resistência dos sujeitos que vivem ali.” Mais do que camponeses, agricultores e cidadãos, os moradores do campo fazem parte de uma ampla cultura que pode influenciar a vida escolar de seus filhos. Se estes gostarem de estudar em uma escola, compreenderão melhor o espaço em que vivem e estudam. É fundamental que essas crianças, além de viver, gostem de estudar nesse local. Assim, o aluno “H” relatou que mora no campo “[...] porque minha mãe e meus pais são agricultores há muitos anos, isso já é tradicional, vem passando de geração em geração na nossa família.” (informação verbal)7-8. Trabalhar na agricultura não é fácil, permanece no campo quem possui espírito de vontade, força e amor pela sua profissão, pois as condições de produção estão cada vez mais difíceis. Dessa forma, as pessoas que residem na zona rural, garantem a escola do campo, pois são seus filhos que integram esta unidade escolar. Nos últimos anos, há a dificuldade em encontrar escolas na zona rural devido à carência de alunos, causada principalmente pelo êxodo rural e pela baixa taxa de fecundidade. Todavia, as escolas que permanecem na zona rural são ricas em experiências e conhecimento. Para Bof (2006, p. 23): os perfis das escolas do campo são diversos, mas suas estruturas parecidas. As Escolas Rurais de educação básica apresentam características próprias em função da dispersão da população residente. Os estabelecimentos são, em sua grande maioria, de pequeno porte. Cerca de 70% dos estabelecimentos que oferecem ensino fundamental de 1ª. a 4ª. série atendem até 50 alunos e neles estão matriculados 37% dos alunos da área rural desse ensino. As escolas da zona rural têm características que realmente atraem as crianças. A escola de ensino fundamental observada possui cerca de 110 alunos das séries iniciais e finais, todos residentes na zona rural. A escola do campo possui muitos conhecimentos e experiências que somente quem está inserido nesse contexto pode descobrir, sentir e saborear sua importância para o processo de ensino-aprendizagem. Quem vive no campo pode sentir na pele o espetáculo da vida, sentir o amanhã florescer e cultivar o sabor da terra em prol do desenvolvimento da humanidade. Nas escolas do campo o que chama a atenção é que, que o conhecimento construído na sala de aula ou no cotidiano escolar é fruto do trabalho e do ensino de todos que estão inseridos e engajados com o processo educativo. As escolas do campo deveriam cultivar em seus ensinamentos a prioridade ao aluno. Estar ligado com o meio em que vive faz com que ele se sinta motivado a aprender e a construir seu conhecimento. Por exemplo, em uma aula de ciências em que o educador está ensinando sobre adubo orgânico, seria relevante se todos estivessem em um ambiente ou na horta em contato com a terra, preparando um pequeno canteiro com adubo orgânico, onde depois poderiam plantar legumes e verduras. No ambiente escolar das escolas rurais é possível construir muitos conhecimentos práticos do que em uma escola urbana. Tudo é muito superficial, quando o aluno não acredita no que faz, se interage com o grupo e socializa seus saberes, constrói junto muitos conhecimentos. As escolas do campo podem oferecer uma educação voltada ao campo e, ao mesmo tempo, para toda a sociedade; basta os educadores e a gestão escolar interessarem-se pelo processo de formação das crianças e dos adolescentes. Podem-se criar políticas educacionais que viabilizem constantemente uma boa educação, independente das condições físicas ou financeiras da unidade escolar. É importante que todos estejam engajados para suprir as necessidades educacionais, sociais e culturais dos alunos e da comunidade escolar. O aluno e o professor possuem identidades diferentes, mas são responsáveis pela construção do conhecimento nas escolas do campo. Cada ser humano estuda, lê, aprende, ensina, vive e sobrevive de forma diferente, porém, todos juntos podem construir laços afetivos capazes de elaborar e formar, por meio dos Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 117 A gestão democrática presente na escola do campo... ideais, das ideias, das vivências, das informações e do pensamento, inúmeros conhecimentos que podem transformar maneiras de viver e pensar em sociedade. Andar juntos no processo educacional significa mais do que aprender e ensinar coletivamente, significa criar um elo de transformação, tanto da personalidade quanto da sociedade. Trabalhando coletivamente nas escolas podemos obter muitos resultados quando todos participam das decisões e em sala de aula há democracia. 3 CONCLUSÃO Pôde-se perceber, que na escola do campo, em que foi desenvolvida a pesquisa, tanto pais, funcionários, alunos e professores, disseram haver um compartilhamento dos problemas que ocorrem na unidade escolar. Embora muitos desafios sejam lançados para as escolas rurais, nem todas possuem um aglomerado de dificuldades que impedem a realização de um bom trabalho. Como todos que estão envolvidos no processo educativo abordaram que a gestão escolar envolve todos nas decisões da escola, não há como negar que a gestão escolar não seja participativa e democrática. Mergulhar no ensino que as escolas do campo possuem é um verdadeiro horizonte de saberes inseridos no processo educativo. Essas escolas apresentam um ambiente mais calmo e arejado para as crianças estudarem, sem contar que o processo de ensino-aprendizagem evoluiu muito nas últimas décadas, ou seja, atualmente há menos alunos no campo, existem professores formados e as crianças possuem transporte e merenda escolar, o que contribui muito para a formação delas. Nem todas as pessoas têm uma visão otimista da vida no campo, e, muitas vezes, nem as que vivem lá. Todavia, é importante compreender que a vida na zona rural é formada por diversas culturas, vivas na sociedade, e independente da profissão que exercem, têm uma enorme função na humanidade, assim como qualquer outro trabalho. De certo ponto de vista, o trabalho desenvolvido pelos agricultores é de sustentabilidade, pois cultivam diversos alimentos que sustentam muitos cidadãos. Essa cultura e os valores desses agricultores influenciam no processo de ensino-aprendizagem das crianças na escola do campo. Os alunos possuem uma concepção construtora da realidade em que vivem, na escola do campo uma oportunidade de socializar as experiências, as ideias e os conhecimentos que trazem do cotidiano. Abstract This article discusses how to understand the issues that must be considered in the education field in order to effect a process of democratic management in all schools of basic education. It is important to characterize the elements needed to be considered in the process of school, management aims for the development of the democratization of the field school. The research methodology is dialectical with a qualitative approach, analyzing bibliographic, documentary and field research, involving a school and the Escola de Ensino Fundamental Linha Biguá, in the municipality of Iraceminha - SC. Keywords: School field. Democratic management. Culture. Values. Notas explicativas 118 Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 Dionéia Lang Machado 1 Fornecida por professor A1, para fins desta pesquisa. 2 Fornecida por professor B2, para fins desta pesquisa. 3 Fornecida por Diretor(a), para fins desta pesquisa . 4 Fornecida por aluno A, para fins desta pesquisa. 5 Fornecida por aluno E, para fins desta pesquisa. 6 Fornecida por aluno J, para fins desta pesquisa. 7 Fornecida por aluno H, para fins desta pesquisa. 8 Todos os destaques das informações verbais neste artigo são grifos do autor desta pesquisa. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel. A escola do campo e a pesquisa do campo: metas. In: MOLINA, Mônica (Org.). Educação do campo e pesquisa: questões para reflexão. Brasília, DF: MDA, 2006. BOF, Alvana Maria (Org.). A Educação Rural no Brasil. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2006. BRASIL. Educação do campo: Diferenças mudando paradigmas. A Legislação Brasileira e Educação do Campo. 2007. Disponível em: . 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Unoesc & Ciência – ACHS, Joaçaba, v. 1, n. 2, p. 111-120, jul./dez. 2010 119 A gestão democrática presente na escola do campo... LIMA, Luciano C. Organização Escolar e Democracia Radical: Paulo Freire e a governação democrática da escola pública. 2. ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002. SILVA, Lourdes Helena da. As experiências de formação de jovens no campo. Alternância ou Alternâncias? Viçosa: UFV, 2003. 265 p.

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