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A Síntese Reflexiva, Pedagogia da autonomia 1996

Por:   •  15/11/2023  •  Trabalho acadêmico  •  2.429 Palavras (10 Páginas)  •  133 Visualizações

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Universidade Federal do Paraná

Setor de Educação

Disciplina: Didática

Docente: Elizandra Jackiw

Discentes: Davi Carneiro, Felipe Souza e  Robertha Costa

FREIRE, Paulo. Não há docência sem discência. In: ____________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. cap. 1, p. 12-20.

O objetivo central da obra de Paulo Freire é promover uma reflexão sobre a formação docente em favor da autonomia dos educandos. Seguindo a crítica realizada pelo autor em seus outros escritos, a discussão se realizará em torno da crítica em relação à redução da educação a uma mera prática de natureza puramente tecnicista. Ao contrário, ele diz que o processo de formação envolve valores éticos e o desenvolvimento integral do ser, o incentivo ao pensamento crítico e ao  questionamento da própria realidade.

Um dos princípios que orientam o exercício da prática docente para Freire é a ética. Tal ética repudia a hipocrisia, condena a exploração da força de trabalho humano e rejeita veementemente quaisquer formas de discriminação, seja com base em gênero, raça ou classe. Essa ética, enfatiza o autor, deve transcender o discurso verbal, sendo essencial que se traduza em práticas concretas no cotidiano do docente. Nessa linha, Freire atribui grande importância à honestidade e à coerência entre as palavras proferidas e as ações praticadas.

Além disso, apesar do autor reconhecer que fatores sociais e culturais podem influenciar a realidade, Freire  se opõe a uma visão determinista rígida e de um conformismo fatalista. Ele argumenta que somos seres condicionados mas não determinados e por isso faz uma crítica severa àqueles que caíram no discurso fatalista que, por sua vez, anima o discurso neoliberal. Freire ressalta, ainda, a importância de reconhecer o poder da ação consciente e da transformação da realidade, rejeitando a submissão diante das estruturas sociais injustas.

Prática docente: reflexões a partir da pedagogia crítica de Paulo Freire

O primeiro capítulo do livro Pedagogia da Autonomia aborda reflexões reflete sobre questões acerca da prática docente, onde Freire destaca os saberes exigentes à prática que tem como fundamento a construção de uma educação que se quer crítica e progressista. Desde o início de sua obra, Paulo Freire instiga os futuros docentes a se assumirem como sujeitos da produção do saber, compreendendo que ensinar não significa transferir conhecimentos, mas implica na criação de possibilidades para a sua produção ou a sua construção. A partir disso, ele coloca que  se um futuro docente aceita passivamente a posição de ser objeto da formação, como um receptáculo passivo de conhecimento transmitido pelo formador, então provavelmente reproduzirá esse modelo em sua prática futura.

Desse modo, de acordo com o próprio autor, “quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. A partir dessa brincadeira com as letras, o autor sintetiza a essência da pedagogia crítica, cujo princípio central é a autonomia educacional. A análise de Freire ressalta que ensinar não se trata apenas de transferir conhecimento, reconhecendo que o professor não detém um saber absoluto e o aluno não é uma "tábula rasa", um recipiente vazio pronto para receber o conteúdo a ser depositado pelo professor. Assim, tanto o professor aprende enquanto ensina quanto o aluno ensina nesse movimento de aprender. Em contrapartida, a crítica de Freire se volta à educação bancária, que pressupõe que o aluno é um ser ignorante, destituído de conhecimento, e que a escola e o professor são responsáveis por preencher esse vazio com conhecimento escolar e formal a ser transmitido.

A visão de aprender enquanto ensina tem suas raízes na compreensão de Freire de que o ser humano é um ser histórico e inacabado, em constante processo de evolução e transformação. Além disso, Freire observa que, mesmo quando submetido ao sistema de ensino bancário, o aluno não está condenado à passividade, pois possui um espaço de agência que, conforme o autor, o protege contra o poder passivizador imposto por esse método. A curiosidade insaciável, de acordo com Freire, atua como uma forma de resistência a esse modelo de ensino.

O educador deve valorizar a capacidade crítica do educando de não tomar aquilo que o professor traz como se fosse uma verdade universal, pronta e acabada. Portanto, quando Freire fala em rigorosidade metódica, ele está reiterando sobre como devemos aproximar os educandos dos objetos cognoscíveis. Assim, o educador age como um incentivador da curiosidade do educando, incentivando-o também a fazê-la com a rigorosidade metódica. A partir dessa perspectiva, o ensinar do professor, não se esgotaria no tratamento do conteúdo de forma superficial, mas sim numa rigorosidade metódica que deve alongar-se na produção de condições para aprender criticamente, em um movimento em que o educando vai se transformando em sujeito da sua própria construção do conhecimento.

O professor tem um papel na pedagogia do Freira de ensinar – aqui ele usa um conceito – a “pensar certo”. Uma das condições de pensar certo é reconhecer que nem sempre estamos certos de nossas certezas, o que exige uma constante abertura para mudanças e novos pensamentos. A noção de "pensar certo" deriva de uma postura de rigor metodológico e humildade intelectual, reconhecendo que o conhecimento é dinâmico e sujeito a transformações.

Outro ponto importante a ser destacado é a interdependência entre ensino e pesquisa. Isso implica que os professores devem incorporar a pesquisa em seu trabalho, reconhecendo-se como pesquisadores. Ademais, há ainda alguns que separam – e até hierarquizam – a função do “pesquisador” e o “professor”. Acreditamos que, a partir da teorização realizada pelo autor, a sala de aula é um ambiente de constante reflexão e adaptação que contribui para a produção de conhecimento prático, enriquecendo a prática pedagógica.

Como mencionado, Freire ressalta a importância de valorizar os conhecimentos prévios dos alunos, enraizados em suas experiências sociais. Esse reconhecimento deve se refletir no ensino, onde os educadores devem relacionar os conteúdos com a realidade dos alunos.Com isso, ele realiza uma crítica àqueles que dizem que a escola não tem nada a ver com esses problemas e demandas sociais, e que seu único propósito é ser um lugar para se aprender os conteúdos, insistindo que o professor não deve tomar partido. Questionamos se isso realmente seria possível, pois a escola muitas vezes age como um eco do mundo, onde todas essas contradições irão se reproduzir dentro do ambiente escolar. Nesse sentido, o autor defende que a educação deve ser um espaço interativo e dinâmico, onde educadores e alunos se engajem na reflexão para promover a conscientização e transformação da realidade.

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