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A equivocada interpretação da resolução de problemas de Física, como panaceia para problemas de ensino de Ciências Exatas

Por:   •  18/4/2016  •  Resenha  •  3.071 Palavras (13 Páginas)  •  354 Visualizações

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A equivocada interpretação da resolução de problemas de Física, como panaceia para problemas de ensino de Ciências Exatas

PEDUZZI, L.O.Q. Sobre a resolução de problemas no ensino de Física. Cad.Cat.Ens.Fis., v.14, n3: p.229-253, dez.1997. Resenha de: RODRIGUES, D.D.S., mar.2016

  1. Introdução

        Durante as décadas de ensino de Física no Brasil, muitos professores têm dado significativa relevância para a resolução de problemas, como ferramenta didática a partir da qual construíram suas metodologias de ensino.

        A partir da justificativa calcada na formatação dos exames de ingresso para o ensino superior no país - os temidos vestibulares - criou-se um certo tipo de paradigma a respeito do que seria ensinar bem, que no caso específico das ciências exatas - foco desse trabalho -  tenderia a uma repetição infindável de exercícios de fixação, todos com situações análogas mas de execução idêntica, o que não necessariamente implica uma ampla compreensão dos conteúdos estudados, bem como da Ciência que culminou naquela determinada técnica de resolução de questões.

        Neste trabalho, procurou-se apontar falhas na referida metodologia, com base no exposto por Peduzzi em seu artigo “Sobre a resolução de problemas no ensino de Física”[1]. Não obstante fez-se uso da experiência profissional em docência do autor, fatores que puderam levar - através da prática - à percepção de que mostram-se infrutíferas as tentativas de ensinar através de repetição à exaustão de técnicas de resolução de problemas.

  1. Contexto do ensino de Física quanto à resolução de problemas

        É de inegável importância a utilização da resolução de problemas como parte de uma metodologia de ensino. Através dela, o estudante pode resgatar aspectos relevantes da teoria estudada, e utilizá-la associada a processos mentais como a interpretação de enunciados, estruturação de sequência lógica e capacidade de organização, podendo assim lograr um aprendizado mais significativo.

        A despeito disso, faz-se necessária uma mais ampla discussão sobre quais tipos de exercícios são estudados, a forma como são implementados e o que se deseja obter a partir de sua utilização, como parte  da metodologia de ensino.

        Entretanto, faz-se necessária uma maior reflexão acerca de como esses problemas são aplicados, e até mesmo qual a natureza dos mesmos. Peduzzi menciona a distinção entre problema e exercício, que pode parecer uma trivialidade mas que na atividade prática cotidiana, no ínterim do ensino de Física, pode culminar num desvirtuamento do trabalho idealizado. Para o autor, a linha que separa problemas de exercícios é bastante tênue, ou seja, determinada atividade pode configurar um problema para um estudante, e para outro configura-se como exercício. De forma subjetiva, se estabelece uma distinção hierárquica  onde pode se inferir que exercícios são atividades de repetição de rotinas automatizadas, que não exigem do aluno conhecimento nem novas habilidades. Já os problemas necessitam de reflexão, capacidade de tomada de decisões, conhecimento profundo do conteúdo e engajamento por parte do estudante. Essa distinção é bastante importante para a execução do planejamento do docente. Isto porque nota-se ser bastante ineficaz, a estratégia baseada em repetição sistemática de exercícios idênticos em sala de aula. Bastante utilizadas, as listas intermináveis de exercícios se configuram muitas vezes como cerne da prática docente, tornando muitas vezes o aprendizado enfadonho e vazio, desprovido de significado para o aluno.

Tal consequência advém de termos ainda no nosso sistema educacional, forte influência dos exames de ingresso no nível superior, os vestibulares. Muitas escolas da rede privada condicionam o ensino de ciências exatas a uma sistemática memorização de técnicas de resolução de exercícios. Alguns diriam que resolver difíceis questões de vestibulares configurar-se-ia então como problema, mas da forma descontextualizada e mecanicista como os mesmos são empregados, o único efeito produzido é a memorização sem sentido.

Essa interpretação equivocada é vendida quase sempre como maior eficiência e qualidade em termos de educação. As grandes escolas da rede privada atacam essa problemática com marketing agressivo, estabelecendo sucesso de seus métodos em termos numéricos de aprovados no vestibular. O que é um grande equívoco sob o viés do ensino, posto que ainda que seja desejável corroborar ao estudante o ingresso no nível superior, não é conveniente que a educação seja subvertida por uma lógica de mercado, onde compreensão ampla, contextualização dos assuntos e formas de intervenção através do aprendizado na sociedade, devam ser solapadas em prol do discurso reducionista de uma espécie de utilitarismo acadêmico. Essa concepção provoca o fortalecimento da falácia do mérito dessas metologias, que se forem analisadas com o intuito de atenderem o mercado talvez até façam algum sentido, mas que jamais deve ser confundido com a importância do fomento ao conhecimento, da educação e da cultura.

  1. O aluno diante da problemática da resolução de exercícios e/ou problemas

        Um dos principais problemas acerca das dificuldades que os alunos enfrentam, sequer diz respeito exclusivamente à Física, mas sim à Matemática.

        Como se sabe, o Brasil possui uma posição bastante desconfortável no ranking “PISA” (Programme for International Student Assessment) [1], o que denota uma qualidade certamente questionável do nosso ensino, com vistas principalmente para Matemática, que é o ponto em questão.

        É indiscutível o fato de a Física não poder ser tratada como subproduto da disciplina de Matemática quanto ao seu ensino. Não se pode reduzir o pensamento científico, a linguagem e a metodologia científica, a uma mera reprodução de cálculos de forma autômata, ainda que muitos professores hajam dessa forma notoriamente equivocada. No entanto, há de se mencionar a vital importância que um bom domínio da linguagem matemática, assim como das estratégias de solução de problemas dessa disciplina, implica em maior facilidade na resolução de problemas de Física. Logo, não é exagero pensar que um mal resultado em Matemática quase sempre leva a uma educação deficitária em Ciências - principalmente Física.

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