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A escola como espaço de formação

Por:   •  5/11/2015  •  Artigo  •  3.132 Palavras (13 Páginas)  •  239 Visualizações

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Título: A escola como espaço de formação

  1. Formação docente e saberes profissionais

Dejanira Fontebasso Marquesim

dejaniraf@gmail.com

Prefeitura do Município de Campinas

Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir a formação continuada de professores a partir da compreensão da escola como espaço de formação. Na experiência de implementação e consolidação da Escola de Educação Integral, em período integral, no Município de Campinas/SP foi criado, na jornada de trabalho dos professores, um Tempo Docente de Formação (TDF) incluído na jornada de trabalho do professor e cumprido dentro da unidade educacional junto ao coletivo de docentes. Trata-se de 4 horas aula de trabalho semanais destinadas a discussão coletiva dos dados de realidade do trabalho desenvolvido pelo coletivo. Formalizou- se  um espaço formativo no interior da escola contribuindo para a  superação da “lógica escolar” que a formação continuada vem assumindo ao longo do tempo. Esse espaço para trabalho e discussão formativo coletivo vem auxiliando no processo de valorização dos professores como sujeitos protagonistas do seu processo formativo individual e coletivo. A escola transformou-se num local de aprendizagem, não só para os alunos como também para os professores, possibilitando uma ressignificação do trabalho docente e proporcionou uma nova concepção para a formação continuada. A experiência de um ano com o processo formativo realizado em grupo, no coletivo, na escola Piloto de Educação Integral Padre Francisco Silva (Campinas/SP) traz indícios de como a constituição docente no individual e coletivo pode ressignificar o trabalho docente, implicando diretamente nas dimensões inerentes à profissão: a formação, o desenvolvimento profissional, as competências necessárias para o desempenho da profissão, a dimensão social do trabalho do professor, além, é claro, de dar um sentido dialético às práticas didático-pedagógicas na relação aluno-professor.

Palavras-chave: Formação continuada; Trabalho docente; Ressignificação do trabalho.

O saber docente entrelaçado na experiência

Ao longo dos meus quase 20 anos de experiência como professora nos anos iniciais me deparei com diferentes necessidades no exercício da profissão, porém a que mais contribuiu com o meu processo de formação foi o registro, a retomada do vivido a partir do exercício de narrar os acontecimentos. Não se tratava da narrativa apenas no sentido de contar os fatos, narrava para reinterpretar o vivido. Nas palavras de Fontana (2000, p.145):

[...] interpretar o vivido é “um trabalho do sentido sobre o sentido”, que não se dá no vazio. Ele é mediado pela história, mediado pela ideologia. Nessa trama complexa de multideterminações, que se concentra e se espraia na tensão do movimento constante e simultâneo de aceitação/contestação, confirmação/negação dos sentidos estabilizados e emergentes, constituímo-nos como profissionais e como sujeitos[...].

Recordo-me, que no ano 2000, estávamos trabalhando em quatro professores de primeiro ano. A coordenação da escola pediu que procurássemos trabalhar de modo similar a fim de manter uma unidade no trabalho realizado nos primeiros anos. Tomadas por essa proposta resolvemos planejar e discutir nosso trabalho juntas. Como o espaço de Trabalho Coletivo na unidade era tomado pelas questões da direção e da coordenação passamos a nos encontrar semanalmente, ora na casa de uma, ora na casa da outra. Nesses encontros, com duração média de 2 horas, planejávamos nosso trabalho, discutíamos sobre os alunos, preparávamos materiais, partilhávamos ideias, tomávamos chá e comíamos bolo. Não ganhávamos nada em nosso salário, no entanto, ganhávamos no trabalho com nossos alunos, fazíamos com prazer, com paixão porque nosso objetivo era melhorar a cada dia. Ao longo do ano os alunos se habituaram a unidade entre nós que não havia entre eles nem separação entre as professoras, não existiam alunos desta ou daquela professora, eram os alunos dos primeiros anos. Não foi só o prazer, foi o olhar do outro transformando nossa docência.

Nessa época fazia parte de nossa jornada de trabalho semanal, duas horas destinadas ao que chamávamos de capacitação docente, uma espécie de formação bastante técnica para o trabalho docente. Viver esses dois momentos paralelos de formação me fez chegar a uma certeza, professores podem ser sujeitos do seu próprio conhecimento e quando juntos podem fazer muito com esse conhecimento produzido dentro da escola[1].

Outro aspecto importante de se ressaltar era a relação de confiança que se estabeleceu entre nós, uma confiança no olhar do outro, na critica feita pelo outro. As relações entre o pensar e o fazer passavam pelo olhar transformador do outro.

O espaço de Capacitação docente existente na Rede em que atuava nessa época constituía-se num curso formatado por profissionais contratados para esse fim, que julgavam conhecer do espaço da sala de aula e das mudanças que esse espaço precisava. Éramos colocados como alunos que assistem aulas sobre como “dar aulas” e efetivamente pouco do que vivenciávamos naquele espaço ia pra dentro de nossas salas de aula. Aos poucos, acabamos carregando para esse espaço todo tipo de tarefa que pudesse ser realizada naquelas duas horas sem chamar muito atenção, das quais precisávamos nos livrar. Recortar um jogo novo que resolvemos confeccionar, realizar registros sobre os alunos que por ventura tivessem ficado por fazer.

Em 2013, não mais como professora, exercendo a docência a partir da Supervisão Educacional (acredito que uma vez professor isso se perpetua, torna-se parte de sua essência, então não importa a posição que ocupe dentro da área da educação, partiremos sempre da nossa essência docente, não deixamos de ser professor), trabalhando junto a Equipe da EMEF Padre Francisco Silva, situada na Vila Castelo Branco, em Campinas, cujo segmento de atuação é Ensino Fundamental de Anos Iniciais (1º ao 5º ano) recebi o desafio, junto com todos da escola, de começarmos 2014 como uma escola de Educação e Tempo Integral. Passamos o ano de 2013 em incansáveis reuniões para discussão e organização do trabalho que queríamos implementar em 2014. A primeira decisão foi que a escola, junto com sua comunidade, desenharia esse projeto Piloto cujo objetivo central seria a Educação Integral dos alunos e não apenas extensão do tempo de permanência do aluno na escola.

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