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ALFAZENDO: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM CIDADE DE DEUS

Por:   •  27/6/2017  •  Trabalho acadêmico  •  5.738 Palavras (23 Páginas)  •  288 Visualizações

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ALFAZENDO: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO POPULAR EM CIDADE DE DEUS

Maria Cristina Oliveira do Nascimento[1]

Resumo: Este artigo relata a experiência de educação popular em Cidade de Deus no Município do Rio de Janeiro, com o grupo ALFAZENDO, que desenvolveu um significativo trabalho de alfabetização, pautado na reflexão e ação pedagógica, a partir da concepção de Paulo Freire nos anos de 1990. Foi investigado o processo de formação local do educador e suas possibilidades de emancipação como sujeito social ativo em sua realidade comunitária. A fundamentação teórica se pauta no referencial de Paulo Freire, por entender, a necessidade constante de uma educação continuada para o educador e a constatação que cada vez mais há a necessidade de uma educação que leve em consideração a realidade vivenciada por cada sujeito, principalmente quando esses sujeitos são excluídos da sociedade, sendo negado a eles o direito do conhecimento.

Palavras chave: Alfabetização. Educação de Jovens e Adultos. Paulo Freire.

Introdução: Esse artigo tem por objetivo analisar e evidenciar o trabalho do grupo ALFAZENDO, localizado na Cidade de Deus, zona oeste da Cidade do Rio de Janeiro.  A referida instituição desenvolveu trabalho de alfabetização de adultos, no final dos anos de 1990 e tinha como escopo político-pedagógico as concepções do educador Paulo Freire. Ao longo de sua trajetória de atuação, o grupo se comprometia como uma educação emancipatória e libertadora. Compreendendo assim, nesse processo, todas as suas etapas do processo de alfabetização, desde a codificação, que representa uma dimensão da realidade dos sujeitos envolvidos, como a busca do tema gerador, que procura explicitar o pensamento do homem a partir de sua inserção no seu meio, como ser histórico e estimulado ao diálogo e até o desenvolvimento de um olhar mais crítico pela própria consciência, possibilitando assim novas tomadas de decisões. Essa dimensão político-pedagógica se materializava em todas as ações do grupo, principalmente na formação do educador que iria atuar na instituição e no acompanhamento de seu trabalho.[pic 1][pic 2][pic 3][pic 4]

E é sobre esse processo: formação local do educador e suas possibilidades de emancipação como sujeito social ativo em sua realidade comunitária e que esse trabalho irá se aprofundar. Problematizando a concepção político-pedagógica de uma professora e seus determinantes de emancipação a partir da sua experiência como educadora do ALFAZENDO.  

Para o desenvolvimento do trabalho, organizamos dois capítulos. No primeiro capítulo, intitulado, REFLETINDO A ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS COM PAULO FREIRE, iremos estabelecer uma breve reflexão sobre a alfabetização de adultos na perspectiva freireana. No segundo capítulo, ALFAZENDO: HISTÓRIA E CONCEPÇÕES POLÍTICO-PEDAGÓGICAS, subdividido em três itens, apresentaremos as seguintes questões: 1. Um breve histórico do ALFAZENDO; 2. A problematização de suas concepções político-pedagógica, principalmente aquelas, em torno da formação dos alfabetizadores e 3. Um estudo de caso, relatando a trajetória de vida de uma educadora atuante na instituição como alfabetizadora popular.

Capítulo 01: Refletindo a alfabetização de adultos com Paulo Freire

Esse capítulo pretende fazer uma breve reflexão teórica sobre a contribuição de Paulo Freire para as discussões sobre Alfabetização de Adultos. Faço essa opção por reconhecer, que tal pensador se constitui em alicerce nas concepções político-pedagógicas e na atuação do ALFAZENDO, objeto de pesquisa desse trabalho monográfico.

A concepção de alfabetização refletida por Paulo Freire, indica uma abordagem sobre educação emancipatória e libertadora. Nessa concepção, a codificação inicial consiste numa espécie de figura, um desenho representativo de uma situação existencial real ou construída pelos alunos. Ao elaborar essa representação, os alunos realizam uma operação de distanciamento do objeto cognoscível. Desta forma, professor e alunos poderão refletir conjuntamente de forma crítica sobre os objetivos que os mediatizam.

A codificação representa uma dimensão da realidade dos indivíduos, e implica analises realizadas num contexto diferente daquele no qual eles vivem:  “Através da decodificação da palavra o alfabetizando vai se descobrindo como homem, sujeito de todo o processo histórico” (FREIRE, 1987, pg. 06)

 Transforma, pois, o que consiste numa maneira de viver, no contexto real, em um objeto do contexto teórico. Os alunos poderão receber informações e analisar os aspectos de sua própria experiência existencial que foi representada na codificação.

A busca de o tema gerador objetiva explicitar o pensamento do homem sobre a realidade e sua ação sobre ela, o que constitui a sua práxis. Na medida em que os homens participam ativamente da exploração de suas temáticas, sua consciência crítica da realidade se aprofunda.

A busca da temática implica busca do pensamento dos homens, pensamento este que se encontra somente no meio deles, os quais, reunidos indagam a realidade. A posição interacionista de Freire é bastante clara: os homens, enquanto seres em situação, encontram-se imersos em condições espaço-temporais que neles influem e nas quais eles igualmente influem, constituindo o desenvolvimento nesta interação construtivista.

Utilizando situações vivenciais do grupo, e forma de debate, Paulo Freire delineou uma concepção de alfabetização, que tem como características básicas: ser ativo, dialógico e crítico. Criar um conteúdo programático próprio, e usar técnicas tais como redução e codificação.

O diálogo implica relação horizontal de pessoa a pessoa, sobre alguma coisa, e nisto reside o novo conteúdo programático da educação. A palavra é vista em duas dimensões: a da ação e da reflexão. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí se afirmar que dizer a palavra verdadeira consiste em transmitir o mundo e em transformá-lo.

A palavra destituída de ação transforma-se em verbalismo. Quando, porém, se enfatiza a ação sem reflexão, a palavra se converte em ativismo. E a ação pela ação, ao minimizar a reflexão, nega a práxis verdadeira, impedindo o diálogo. Qualquer destas dicotomias gera democratização e implica (Maciel, 1963, p.30): “igualdade ontológica de todos os homens, acessibilidade ilimitada ao conhecimento e a cultura e a comunicabilidade ilimitada do conhecimento e da cultura. ”

É a partir da consciência que se tenha da realidade que se irá buscar o conteúdo programático da educação. O diálogo da educação como prática de liberdade é inaugurado no momento em que é realizado o que Paulo Freire denomina de universo temático do povo ou o conjunto de seus geradores. A investigação deste universo temático implica uma metodologia que não pode contradizer a dialogicidade da educação libertadora. Sendo dialógica e conscientizadora, proporciona não só a apreensão dos temas geradores, mas a conscientização destes.

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