AS CRENÇAS DO CORPO DOCENTE SOBRE O FRACASSO ESCOLAR DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL

AS CRENÇAS DO CORPO DOCENTE SOBRE O FRACASSO ESCOLAR DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL

Eni Laura Pujak Ienke^[1]

Prof. Ms. Carine Suder Fernandes^[2]

RESUMO

O propósito do presente estudo é caracterizar as crenças dos professores sobre a rede de multideterminações do desempenho escolar de estudantes do Ensino Fundamental. Este trabalho com característica de investigação quanti-qualitativa, desenvolveu-se com dezesseis professores de duas sextas série de uma escola pública de pequeno porte do interior do Paraná. Considerando o baixo desempenho escolar como a manifestação de um problema, é essencial buscar soluções para o enfrentamento do mesmo. Os resultados revelam que os professores atribuem o baixo desempenho escolar apenas aos alunos e as causas externas, isentando-se da responsabilidade pelo fracasso escolar. Assim, destaca-se a importância do papel do professor como articulador do processo de ensino tendo que repensar sua prática enquanto mediador do conhecimento.

Palavras-chave: desempenho escolar, estudantes, professores, gestão pedagógica.

ABSTRACT

The intention of the present study is to characterize the beliefs of the teachers on the net of multidetermination of the school performance of students of Elementary School. This work with characteristic of quanti-qualitative study was developed with sixteen teachers of two sixth series of a small public school of the state of Paraná. Considering the school performance as the manifestation of a problem, it is essential to search solutions for the confrontation of the same. The results revealed teachers that the underachieving only to the students and the external causes, exempting them from the responsibility for the school failure. Thus, we highlight the importance of the teacher's role as the articulator of the teaching process and to rethink their practice as a mediator of knowledge. 

Key-words: school performance, students, teachers, educational management

1. INTRODUÇÃO

O fracasso escolar sempre foi foco de meus interesses pedagógicos, na minha condição de professora de Matemática das Séries Finais do Ensino Fundamental. Por cinco anos leciono em turmas de sexta série em uma escola pública da rede estadual, e tive a oportunidade de investigar tal problemática. Tal procedimento levou-me a repensar não apenas a pesquisa, mas também a minha postura enquanto educadora, por meio de uma nova forma de olhar a escola e as práticas pedagógicas em sala de aula. A observação do cotidiano de uma sala de aula mostra algumas diferenças no rendimento escolar e a mais comum é a qualidade individual da aprendizagem dos alunos: alguns aprendem com mais facilidade e outros com mais dificuldades.

De acordo com Bicudo (2007) o fracasso escolar pode ser entendido como o aumento significativo de crianças que deixam de progredir academicamente e que traduz as diferenças sociais e que são expressas nas classes escolares. O quadro de fracasso escolar emerge claramente de alguns dados gerais: apenas 43% das crianças que entram na escola pública concluem o ensino fundamental; menos de um quarto dos alunos concluem as quatro séries iniciais sem repetência; praticamente dois terços deles estão acima da faixa etária compatível com a sua série (PILATI, 1994).

As características marcantes do fracasso escolar centralizam-se na evasão e na repetência escolar. Logo, a questão mais urgente da educação, em nossos dias, não seria somente a de garantir o acesso a toda e qualquer criança em idade escolar a uma sala de aula, e sim, fazer com que as que lá se encontram, lá permaneçam. No entanto, os dados recentes de pesquisas sobre a Educação Básica no Brasil são pouco animadores, pois, indicam que, apesar do avanço da universalização do Ensino Fundamental a qualidade da escolarização dos estudantes está piorando.

As avaliações realizadas no sistema educacional brasileiro demonstram um quadro preocupante dos índices de aprendizagem, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB (2007) que avalia os alunos em Português e Matemática na 8ª série revelam que em todos os dados comparativos, o desempenho dos alunos na avaliação de 2005 é inferior a de 1995. Esses dados indicam a necessidade urgente de investimentos na educação pública, principalmente no que se refere à formação dos profissionais da educação.

O desempenho escolar é um fenômeno dinâmico, ou seja, suas características se transformam ao longo das décadas, mostrando-se como uma problemática cotidiana das escolas que necessita de análise e reflexão sob diferentes perspectivas, a fim de compreender o máximo possível de sua complexidade e procurar soluções efetivas. Patto (1993) discute a complexidade do fracasso escolar, utilizando o materialismo histórico como referencial teórico e define a necessidade de se conhecer a realidade na qual se produziu uma determinada versão sobre as diferenças de rendimento escolar existentes entre os estudantes.

Dessa forma, entende-se que o rendimento de um estudante ultrapassa o espaço escolar, e que não deve ser estudado de forma fragmentada, direcionando o olhar apenas para um foco. Sabe-se que o desempenho escolar também é determinado por múltiplos fatores, cuja origem se encontra nas questões sociais, econômicas, políticas, médicas e outras. Em outras palavras, assumir que o desempenho escolar se refira apenas ao estudante, por se tratar de um problema psicológico ou moral ou por considerar que tais situações sejam reflexos do meio em que vivem é um erro.

O desenvolvimento e o desempenho do estudante apenas são alvos de preocupação e discussão quando se encontram abaixo do esperado, manifestando-se por meio de notas baixas e problemas de comportamento. Nessas situações os diversos atores do contexto escolar/ educacional culpabilizam-se mutuamente, sem a existência de diálogo e debates que possam gerar soluções efetivas para essa problemática. Partindo dessas reflexões , o presente estudo tem como objetivo principal caracterizar as representações na ótica dos educadores sobre a rede de multideterminações do desempenho escolar, a fim de verificar quais fatores que na opinião dos docentes afetam o aproveitamento escolar.