Alguns pontos sobre a Formação Continuada
Por: Guilherme_Carval • 14/11/2015 • Artigo • 754 Palavras (4 Páginas) • 376 Visualizações
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES[1]
Artur Motta[2]
Embora receba contribuições de pesquisas desenvolvidas em diversas universidades, a Formação Continuada de Professores ainda se restringe, na prática de muitas instituições, aos aspectos ligados aos conteúdos das disciplinas e às didáticas ligadas à sua transmissão.
Dentre essas contribuições, porém, destacam-se aquelas que reforçam, na figura do Professor, a idéia do profissional reflexivo desenvolvida por D. Schön e reforçada por autores como Nóvoa, Perrenoud, Tardif, Alarcão, etc.: o trabalho docente produz um conhecimento a partir das práticas, capaz de produzir, mais do que habilidades técnicas[3], verdadeiras teorias[4].
Nessas e em outras propostas semelhantes, porém, o que torna o profissional reflexivo é a reflexão sobre suas práticas, realizada não somente em nível pessoal, mas também, coletivamente.
As contribuições que nos chegam permitem, então, que acrescentemos outras dimensões àquelas que tradicionalmente constituem os processos de Formação Continuada de Professores, chegando à lista que se segue. Nunca é demais ressaltar que essas dimensões nunca são estanques. Recordando as contribuições de Edgar Morin, podemos aplicar aqui a característica holográfica do pensamento complexo: as partes, por mais que divididas, não deixam de conter o todo. Convém ter sempre este conceito presente, para não cairmos na tentação de dicotomizar o olhar que temos sobre essas dimensões, quando conceituamos cada uma delas isoladamente.
- Dimensão do conteúdo – refere-se às necessidades ligadas à atualização dos conteúdos de cada disciplina, mas indica, ainda, a necessidade de perceber as relações deles com os conteúdos das demais. Podemos pensar, ainda, na epistemologia[5] na qual se apóia o conteúdo trabalhado pelo Professor, e tantas outras questões.
- Dimensão didático-pedagógica – numa visão mais tradicional, entram aqui as discussões sobre metodologia, avaliação, planejamento, etc. Se pensarmos, porém, na perspectiva que relaciona todas essas dimensões, veremos, por exemplo, que a metodologia, a avaliação e outros procedimentos docentes acabam por traduzir, também, um “conteúdo.
- Dimensão Sociocultural – é importante, aqui, não reduzir a cultura apenas à sua dimensão de manifestação artística ou intelectual. Esta dimensão visa aprofundar os vínculos de pertencimento do Professor, tanto do ponto de vista social (pertencer a um povo, a uma classe social, a uma categoria profissional, concretizando isso numa participação sindical, de militância social e política), assim como manifestar-se como elemento de etnia, gênero, etc. Isso não exclui o enriquecimento cultural do Professor, entendido no sentido do senso comum, mas trata-se de algo muito mais abrangente do que, por exemplo, distribuir vale-cultura para que ele possa comprar livros ou ingressos de teatro e cinema...
- Dimensão da Subjetividade – trata-se de trabalhar com os elementos de realização pessoal do Professor. Se acreditamos (com base em Freud, Fromm e outros) que o ser humano se realiza no amor e no trabalho, é fundamental que possamos nos perguntar sobre o sentido do nosso trabalho docente para nossa realização pessoal. Mais uma vez, lembro Bachelard, quando nos diz que o tempo não existe: o que existe são memórias de lugares que foram, de algum modo, significativos para nós. A Escola SESC de Ensino Médio precisa estar atenta para fazer-se lugar significativo na trajetória de vida de cada um de seus profissionais... E isto se faz através do trabalho exercido em relações impregnadas de amor não só entre os que trabalham, mas em direção aos Alunos e a todos que freqüentam esta comunidade.
- Dimensão Expressivo-Comunicativa – diz respeito à capacidade que todo Professor deve desenvolver: comunicar aquilo que é e aquilo que sabe aos seus companheiros de trabalho. Se a reflexão que se pretende tem uma dimensão coletiva, é fundamental dar voz e vez ao Professor para compartilhar. Mais uma vez, apelemos à etimologia: companheiro tem sua origem em cum + panem, isto é, aqueles que compartilham o pão. A dimensão expressivo-comunicativa visa, exatamente, a prática desta partilha.
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