Animação Sociocultural - Infância
Por: mamoca • 17/6/2017 • Projeto de pesquisa • 3.172 Palavras (13 Páginas) • 313 Visualizações
A Criança e a Infância
A construção de qualquer conceito subjetivo é elaborada a partir da visão de mundo de uma sociedade, portanto tanto a concepção de criança quanto de infância, são produtos histórico e cultural, não sendo possível formular um único conceito, fechado e restrito, sobre o que sejam infância e criança, conceitos que variam conforme o tempo e espaço.
Os autores não podem chegar a um consenso a respeito ao conceito de criança, mas podem apontar de acordo com cada tempo e lugar características do que é ser criança. Algumas características são tidas como universais segundo Stearns (2006). Sendo assim toda criança é dotada de fragilidade e necessita de atenção e cuidados especiais como cuidados físicos, alimentação, ao longo de muito tempo, além de que as crianças são vistas como seres diferentes dos adultos, e que precisão ser preparadas para esta outra fase da vida. No entanto o tratamento dessas características tidas como universais nem sempre foram respeitadas. Nos séculos XV e XVI as crianças eram vistas como seres inseridos socialmente, e muitas morriam, pois não tinham a devida atenção para com sua saúde. Só a partir do século XVII e XVIII as crianças começaram a ser vistas de outra forma.
Segundo Zilberman (2003, p. 15):
“A mudança se deveu a outro acontecimento da época: a emergência de uma nova noção de família, centrada não mais em amplas relações de parentesco, mas num núcleo unicelular, preocupado em manter sua privacidade (impedindo a intervenção dos parentes em seus negócios internos) e estimular o afeto entre seus membros.”
Essas transformações ocorridas na Idade Moderna delimita a infância como uma faixa etária com o tratamento diferenciado.
Observando as características tidas como universais, percebemos logo que as expressões criança e infância são bem distintas: Kuhlmann e Fernandes (2004) diferenciam criança e infância de seguinte forma: infância refere-se a um período da vida humana, enquanto criança trata-se de uma “realidade psicobiologica” do indivíduo. É extremamente importante essa diferenciação, porque apesar, de serem expressões comumente usadas para descrever um período de vida, ambas possuem suas especificidades.
O estudo dessas concepções não é tão simples, pois a história da criança e da infância foram sempre narradas por um adulto, revelando assim seu olhar sobre a criança. “Lidar com a questão da infância pode ser muito pessoal”, questões subjetivas sempre envolvem a formação de um pensamento e/ou ideia muito própria do indivíduo (STEARNS, 2006). Envolvendo uma visão de mundo própria do adulto e do contexto sociocultural deste. Por isso encontramos na literatura sobre infância diversas discursões e posicionamentos diferentes.
Um grande estudioso deste tema, Ariès (1978), enxergou a Idade Média como um período em que as crianças em seu universo não eram valorizadas e respeitadas, e afirmou:
“O homem moderno ficará surpreso com a inconveniência desses costumes: eles nos parecem incompatíveis com nossas ideias sobre a infância e a primeira adolescência, e já é muito os toleramos nos adultos das classes populares, como indício de uma idade mental ainda aquém da maturidade. Nos séculos XVI e XVII, os contemporâneos situavam os escolares no mesmo mundo picaresco dos soldados, criados, e, de modo geral, dos mendigos.” (p. 184)
Nem todos os estudiosos concordam com Ariès. Alguns afirmam que era comum observar as relações afetivas positivas entre mães e filhos, e segundo Kuhlmann e Fernandes (2004), “a transposição imediata das questões de Ariès sobre a infância francesa para outros países pode implicar desvios de interpretação, ao se nivelarem realidades distintas”.
Com essas divergências concluímos que estamos tratando de conceitos muitos complexos que são construídos de maneiras diferentes por cada sociedade em cada tempo histórico, sendo contexto de total importância. Hoje em dia com o processo de globalização, em que as informações ocorrem num mundo, com a velocidade da luz, onde quase toda a população tem acesso aos costumes e ideias das mais diversas culturas, as crianças e a infância continuam sendo percebidas de formas diferentes, e ainda não chegamos a um consenso, a uma unidade no que se refere a esses conceitos e certamente não sendo necessário unificá-los. Ao longo dos anos muita coisa mudou e hoje em dia a criança desempenha um papel fundamental na maioria das sociedades, mas cada qual dentro de seu tempo e de sua maneira de se relacionar com elas. Como serem multáveis passiveis de transformações, pode ser que esses conceitos se modifiquem no futuro, já que somos frutos da sociedade que vivemos.
Ambiente Lúdico e Brincadeiras
A criança atua na realidade que a cerca, interpretando-a e produzindo significações sobre ela. Nesse sentido, a brincadeira possui um papel especial por se configurar enquanto um dos principais mediadores da relação que ela estabelece com o mundo. No entanto, cada vez mais se restringem os espaços e tempos disponíveis para meninos e meninas vivenciarem momentos lúdicos.
Stabelini Neto et al. (2004) afirmam que atividades motoras enquanto criança é crucial, e que tempos atrás elas eram vivenciadas espontaneamente pelas crianças em seu dia-a-dia, pois elas dispunham de espaços livres como parques, ruas e praças para as suas brincadeiras, mas que atualmente as crianças são “relegadas a brinquedos, na maioria das vezes eletrônicos, ou a atividades desenvolvidas em pequenos espaços, que limitam a aventura lúdica e a experimentação ampla de movimentos”. (p.136)
De acordo com Maluf (2008) o ambiente lúdico precisa ser levado a sério, pois o ato de brincar possibilita o aumento da autoestima e do autoconhecimento da criança. Biscoli (2005), diz que ao deixarmos a criança se expressar respeitando a sua linguagem, imaginação e individualidade, valorizamos sua autoestima. Desse modo, o ambiente lúdico possibilita às crianças o enriquecimento de suas próprias capacidades mediante o estímulo, a iniciativa, a melhoria nos processos de comunicação e criatividade.
Segundo Vygotsky (1984), a brincadeira é importante para a criança, pois é por meio dela que se desenvolve o seu estado cognitivo, visual, auditivo, tátil, motor, seu modo de aprender e lidar com o mundo.
“A brincadeira cria para as crianças uma “zona de desenvolvimento próxima” que não é outra coisa senão a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver independentemente um problema, e o nível atual de desenvolvimento
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