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Centro de Investigação em Educação Básica, Instituto Politécnico de Bragança

Por:   •  23/11/2022  •  Projeto de pesquisa  •  4.842 Palavras (20 Páginas)  •  119 Visualizações

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Referenciais de competências digitais para a formação de professores

Manuel Meirinhos, meirinhos@ipb.pt

Centro de Investigação em Educação Básica, Instituto Politécnico de Bragança,

António Osório, ajosorio@uminho.pt Instituto de Educação, Universidade do Minho,

Resumo: A necessidade de adaptar os sistemas educativos à sociedade digital tem levado a que muitos países desenvolvam políticas de formação de professores a fim de os capacitar para a utilização das tecnologias digitais em contexto de aprendizagem e de formação. Organismos internacionais como a UNESCO, a OCDE e a União Europeia procuram influenciar as políticas de formação docente dos países-membros, por vezes criando referenciais de competências digitais. Neste trabalho analisaremos alguns desses referenciais que identificamos com mais interesse para a formação docente: o referencial de competências com estudo de implementação de Portugal, o referencial TIC UNESCO, o referencial C2i2e Francês e o referencial comum da competência digital docente desenvolvido em Espanha. No final, apresentamos uma reflexão resultante da análise realizada.

Palavras-chave: Competências digitais, formação de professores, referenciais de competências.

Abstract: The need to adapt educational systems to the digital society has led many countries to develop teacher training policies in order to enable them to use digital technologies in the context of learning and training. International organizations such as the UNESCO, the OECD and the European Union seek to influence these policies of teacher training in their member countries, sometimes creating standards for digital skills. In this work, we will analyze some of these standards of competence that we identify with more interest for teacher education: the standards of competence with implementation study (Portugal), the UNESCO ICT reference framework, the C2i2e benchmark (France) and the common reference of the digital teaching competence, developed in Spain. At the end we present a reflection resulting from this analysis.

Keywords: Digital competences, teacher training, standards of competence.

Introdução

A necessidade de adaptar os sistemas educativos à sociedade digital tem suscitado uma preocupação constante sobre a adequação da formação de professores ao novo contexto tecnológico e social. Esta preocupação é bem patente nas políticas

Challenges 2019: Desafios da Inteligência Artificial, Artificial Intelligence Challenges

de formação de professores dos países ocidentais e de organizações, como a UNESCO, a OCDE e a União Europeia, que procuram apoiar ou nortear essas políticas.

As tecnologias digitais, desde o seu surgimento e crescente implementação em maior escala na sociedade, sempre exerceram pressão sobre a escola e o desenvolvimento profissional do professor. Hoje, essa pressão é ainda maior e, as políticas de formação de professores para educar na sociedade digital, são questionadas por muitos investigadores. Alguns criticam as políticas de formação em relação aos fracos efeitos que produzem, outros evidenciam esse desajuste, exprimindo mesmo que continuamos a formar professores para um mundo que já não existe ou para contextos educativos cuja existência já perdeu sentido.

Neste contexto propomo-nos fazer uma reflexão sobre alguns modelos ou referenciais de competências digitais desenvolvidos por países ou organizações, que visam capacitar os professores para a escola da sociedade digital. Acreditamos que esta comparação poderá ser útil para investigadores e responsáveis de políticas educativas de formação contínua, criando uma visão de contexto do que está a ser realizado em matéria de competência digital docente.

Neste sentido, faremos uma análise em torno da formação de professores e da aquisição de competências digitais. Na impossibilidade de analisarmos todos os referenciais identificados, estudaremos quatro que nos parecem de referência, optando por utilizar a língua como critério de seleção (Português, Inglês, Francês e Espanhol): o referencial de competências com estudo de implementação desenvolvido por Costa et al (2008) para o Ministério de Educação em Portugal; o ICT Competency Standards for Teachers desenvolvido pela UNESCO (2008 e 2011); o referencial C2i2e (Compétences Informatique et Internet niveau 2 “enseignant”), implementado pelo Ministério de educação Francês e o Referencial Comum da Competência Profissional Docente de Espanha (2017), baseado nos mesmos princípios do DigComp 2.0. No final apresentaremos uma reflexão baseada na análise dos referenciais.

Formação docente e standards de competências digitais

Tradicionalmente, tem-se atribuído o monopólio da formação de professores à formação inicial. A formação contínua tem surgido num plano mais secundário comparado com a formação inicial. As competências adquiridas na formação inicial têm, nos tempos de hoje, uma utilidade cada vez mais relativa, em função dos avanços produzidos pela investigação, desenvolvimento tecnológico, produção e circulação de conhecimentos. Já vão distantes os tempos em que se podia pensar a formação inicial como uma etapa capaz de fornecer uma bagagem de conhecimentos e de competências para toda a vida profissional. Hoje, tornam-se

Referenciais de competências digitais para a formação de professores

frequentes as críticas aos programas da formação inicial e à sua limitação atual para preparar os professores para exercer uma profissão ao longo da vida.

A emergência crescente da importância de formação contínua como etapa fundamental de formação não retira importância à formação inicial, simplesmente se reconhece que para além da formação inicial existe todo um contínuo formativo que é mais importante que a formação inicial. Parece ser cada vez mais evidente que deixaram de fazer sentido as fronteiras que tradicionalmente separavam a formação inicial e a formação contínua.

Os referenciais de competências digitais têm sido uma preocupação desde a primeira década do séc. XXI. A International Society for Technology in Education (ISTE), desenvolveu o Standards Teachers (2008) e o ISTE Standards of Educators em 2017. Em Portugal, Costa et al (2008) desenvolveram um referencial de competências com estudo de implementação para o Ministério de Educação em Portugal. O Chile em 2011, apresenta o projeto Enlaces, um projeto interessante que inclui padrões de competências para várias entidades do sistema escolar, incluindo o referencial Competencias y stándards TIC para la profesión docente. A UNESCO (2008 e 2011) desenvolveu o ICT Competency Standards for Teachers, a fim de orientar os países interessados em apostar no desenvolvimento dos sistemas educativos para a era digital. O Ministério da Educação em França, desde o início do século que manifestou preocupação com a formação dos professores em competências TIC e criou o referencial C2i2e (Compétences Informatique et Internet niveau 2 “enseignant”). O referencial foi criado em 2004 e teve atualização em 2010, quando de facto iniciou a implementação em larga escala. O DigComp 2.0 - quadro de referência europeu para o desenvolvimento e compreensão da competência digital (2017), desenvolvido pela Comissão Europeia como recomendação aos estados membros, vem confirmar a preocupação que esta organização sempre teve pela preparação dos cidadãos para viver na sociedade digital. O Joint Research Centre (JRC, 2017) da Comissão Europeia desenvolveu o referencial DigCompEdu (Digital Competence of Educators), a fim de capacitar os professores para ir ao encontro das competências do DigComp 2.0. Quase paralelamente, foi desenvolvido pelo Ministério de Educação de Espanha e por um conjunto de outras entidades deste país, o Marco comum de la competência profesional docente (2017), baseado nos mesmos princípios do DigComp 2.0 e com inspiração no DigCompEdu. Este referencial pretende servir como recomendação da União Europeia para os países membros. Praticamente todos os países ocidentais (ou regiões) têm desenvolvido projetos, mais ou menos abrangentes, no âmbito da capacitação docente em competência digital.

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