Educação do olho

O artigo faz uma reflexão sobre a distinção entre Educação do olho e Educação do olhar e a influencia do processo de produção industrial de imagens (cinema, tv, internet, entre outros) na Educação visual.

Para aprofundar essa tese central, Miranda (2001) apontou seus argumentos utilizando o diálogo com outros autores, escritores e filósofos como: Descartes, Zola, Almeida e Benjamin, através de suas obras e citações, no qual discutirei ao longo deste fichamento literal.

O conhecimento humano, em grande parte, tem sua origem na percepção visual. Com isso, se pode afirmar que, ao longo da vida, a maioria das informações que o ser humano recebe são transmitidas por meio de imagens. Assim sendo, de acordo com Aumont:

 “as imagens, isto é inegável, há mais de 100 anos, multiplicaram-se quantitativamente em proporções impressionantes e sempre crescentes. Além disso, percebemos que essas imagens invadem nossa vida cotidiana, e seu fluxo não pode ser contido” (1993, 314).

Diante do exposto, pode se afirmar que o homem é um ser predominantemente visual e que se existem imagens é porque temos olhos. Logo, o envolvimento da nossa sociedade com as imagens e tudo aquilo que é considerado objetos visuais, são cada vez mais abundantes.

O autor destaca que há uma distinção entre Educação do olhar e Educação do olho. Para ele, a educação do olhar está ligada ao olhar dos aparelhos, ou seja, é a representação do real vivido em movimento, porém esta representação não se resume somente a isso. Ainda, argumenta que o olhar dos aparelhos ou através deles, pois o olho é considerado um aparelho, permite produzir outro olhar, outra forma de ver e, assim, recriar a realidade, ou seja, transformar o real vivido em movimento, dessa forma, proporcionando outras e, talvez, novas experiências perceptivas e representa-las em uma sequência temporal como, por exemplos, nas filmagens.

Já a Educação do olho, para Miranda (2001), visa às mudanças das formas de visibilidade do real que o olhar dos aparelhos provoca e, por sua vez, participa da Educação do olhar, pois ambas se complementam, uma vez que é necessário educar o olho e o olhar, e não apenas um, como normalmente é o que acontece nas escolas, pois ambos atuam juntos e não se podem separar, assim, permitindo aos indivíduos a compreensão na íntegra da alma, do corpo e de seus movimentos.

Assim sendo, a respeito da metodologia que se deve trabalhar nas escolas, no qual o autor afirma que há uma ausência crítica em relação aos processos de produção de imagens e do desconhecimento de suas origens históricas, acredito que se pode pautar em trabalhar com os diferentes produtos da indústria da imagem, porém através da Educação do olho e da Educação do olhar, educar os alunos de forma a ver o real, o homem e o mundo. Contudo, a educação visual é transmitida, muitas vezes, pelas escolas, de forma conservadora e alienada, adquirida por tal desconhecimento.

Segundo Miranda (2001), “somos educados pelos sons e imagens produzidas pelos aparelhos” (p. 32). Dessa forma, as tecnologias deveriam ser a preocupação fundamental dos educadores e não somente sua aplicação em sala de aula. Para o autor, a modernidade construiu um projeto de educação visual, no qual o olhar cartesiano nos ensinou a ver o mundo como matemático e essa forma de olhar fora incorporada conservadoramente pela escola, desvalorizando os sentidos na produção do conhecimento. Novas tecnologias são sempre discutidas em termos antagônicos, os que defendem sua positividade e os que temem as transformações que elas podem provocar. Contudo, o fato é que não se pode fugir delas, mas sim refletir e posicionar-se diante da forma pela qual essas tecnologias afetam as percepções e as relações socioculturais.