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Ergonomia e Trabalho Docente

Por:   •  17/10/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.096 Palavras (13 Páginas)  •  155 Visualizações

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O USO DA ERGONOMIA NO ESTUDO DO TRABALHO DOCENTE: revisão de literatura

Resumo

O trabalho docente é definido como uma prática situada, contextualizada e complexa, resultante de um processo que abrange múltiplos saberes da formação, das disciplinas, do currículo, da experiência, da prática social e da cultura em que se insere. A partir desta concepção do trabalho docente, este artigo de revisão descreve como esta atividade vem sendo abordada conceitualmente sob o enfoque da ergonomia nas pesquisas científicas, com vistas a criação de subsídios que auxiliem a compreensão da complexidade da atividade docente. Conclui-se, por meio da revisão de literatura realizada, que o estudo do trabalho docente sob a perspectiva ergonômica é relevante para a investigação dos casos fortuitos e imprevisíveis que podem ocorrer no cotidiano docente, uma vez que o professor está sujeito a estes ao se deparar com certas condições laborais, objetos de estudo da ergonomia. Neste sentido, a ergonomia contribui para a compreensão da atividade docente como um processo complexo e particular, a partir da análise do trabalho, como algo concreto, e que envolve variáveis dinâmicas de natureza física, social, institucional e política. Observa-se, ainda, que é incipiente a oferta de estudos da ergonomia aplicada ao trabalho docente.

Palavras-chave: Trabalho docente, Ergonomia.

  1. INTRODUÇÃO

Therrien e Loiola (2001) definem o trabalho docente como uma prática situada, contextualizada e complexa, resultante de um processo que abrange múltiplos saberes da formação, das disciplinas, do currículo, da experiência, da prática social e da cultura em que se insere.

Esta complexidade advém da diversidade de características exigidas do professor para formação do aluno e sua própria formação; da pluralidade de ações que são executadas para a realização do trabalho docente; e das diversas interações e relações estabelecidas para sua execução. Enquanto prática situada, a atividade docente está condicionada a singularidade dos contextos em que se realiza, sendo sua compreensão de forma aprofundada a da análise em situações reais nas quais se insere (THERRIEN; LOIOLA, 2001).

Segundo expressam Reis e colaboradores (2006), a atividade docente tem sido considerada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) como uma profissão estressante, tendo em vista que existem repercussões desgastantes desta atividade na saúde física, mental e no desempenho profissional do docente.

Complementa este entendimento a exposição de Barros e colaboradores (2007), ao expressar que desgastes osteomusculares se associam com aspectos de transtornos psicológicos, identificados pela depressão, desesperança, apatia e desânimo que, frequentemente, surgem em decorrência da atuação docente ao longo da profissão.    

De acordo com Abrahão e Pinho (2002), a Ergonomia tem como interesse saber o que realmente os trabalhadores fazem, como e por que fazem, e se há uma forma de fazerem melhor. Nesse sentido, seu objeto específico de estudo é a atividade real ou o trabalho realizado, por meio do qual busca compreender a interação do homem com os outros elementos, que constituem uma situação de trabalho.

Neste contexto, as questões que guiaram o presente estudo são: qual a relevância de estudar o trabalho docente sob a perspectiva ergonômica? Qual a contribuição da ergonomia para a compreensão do trabalho docente? Como a ergonomia vem se dedicando aos estudos do trabalho docente?

As considerações apresentadas motivaram o presente estudo para conhecer como o trabalho docente vem sendo abordado conceitualmente sob o enfoque da ergonomia nas pesquisas científicas, e com vistas a criação de subsídios que auxiliem a compreensão da complexidade da atividade docente.

  1. MÉTODO

De modo a responder as questões norteadoras, e atingir os objetivos deste trabalho, realizou-se uma revisão conceitual e narrativa da literatura, que descreve e discute o desenvolvimento da temática proposta, sob o ponto de vista teórico e contextual (ROTHER, 2007).

Adotou-se neste levantamento a busca e seleção de pesquisas publicadas em artigos de periódicos indexados na biblioteca eletrônica SCIELO, para o levantamento da literatura nacional, utilizando-se os termos “Ergonomia”, “Trabalho Docente” e “Trabalho do Professor”.

 Para a seleção dos textos utilizados nesta revisão adotou-se estudos acerca dos conceitos do trabalho docente e ergonomia, além de estudos cerca da relação destes dois temas, contudo não foi delimitado um recorte cronológico de publicação dos trabalhos, pois investigações mais antigas serviram de base para o levantamento histórico desta revisão.

A revisão de literatura está dividida em seções, que desenvolvem o referencial teórico da temática proposta, após a contextualização, apresentada na Introdução.

Na seção “Trabalho Docente” é desenvolvido o referencial teórico acerca da atividade docente, a partir dos contextos socioeconômicos e políticos desta atividade, com ênfase nos aspectos laborais inerentes a condições e a estrutura aos quais está submetido o docente.

A seção “Ergonomia do Trabalho Docente”, além de apresentar e discutir os principais conceitos da ergonomia, aponta a relação entre esta disciplina e o trabalho docente, com destaque para a atividade prescrita e o trabalho concreto no magistério.

A conclusão traz a interpretação do autor acerca dos principais argumentos da literatura consultada, de acordo com as questões de pesquisa, e objetivos delimitados.

  1. TRABALHO DOCENTE

O trabalho docente é uma atividade que ocorre no cotidiano, constituindo-se em uma prática social situada e condicionada pela singularidade dos contextos nos quais se realiza (THERRIEN; LOIOLA, 2001), e pode ser compreendida a partir das situações reais em que ocorre, pois somente nestas é possível verificar o que os professores de fato fazem, por que fazem, e que saberes mobilizam para realizar, o que é definido pelas prescrições.

Esta atividade pode ser estudada por meio da análise das atividades materiais e simbólicas dos trabalhadores, tais como são realizadas nos próprios locais de trabalho, considerando-se a totalidade do trabalho, sendo relevante mencionar que o sistema educacional, as escolas, a organização, os sujeitos, os objetos, os processos, os conhecimentos e os resultados são partes fundamentais para o entendimento acerca da docência e seu aspecto laboral (TARDIF; LESSARD, 2005).

Contudo, o cotidiano e a rotina da docência não têm relevância apenas na evidência e na preocupação com a saúde física e mental dos docentes, mas também é imperioso ressaltar as mudanças ocorridas no contexto social, econômico e político ao longo das últimas décadas, as quais desencadearam diversas mudanças nas políticas educacionais, que geram reformas nos sistemas de ensino desde a década de 1990. Estas alterações ocorreram dentro de um contexto de reforma do Estado, no sentido de novas formas de gestão pública descentralizada e direcionadas por conceitos neoliberais, que têm como base a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2002) e a Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 1996).

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