O Artigo Métodos e técnicas
Por: Paulo Victor Azevedo • 20/6/2018 • Trabalho acadêmico • 2.235 Palavras (9 Páginas) • 239 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
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Disciplina: Métodos e Técnicas de Pesquisa em Educação
Docente: José Rubens de Lima Jardilino
Discente: Paulo Victor Mendes de Azevedo
Matrícula: 13.1.3177
INTRODUÇÃO:
Ao pensarmos as questões relativas à estratificação social e escolar no território brasileiro, questões que tocam às relações de gênero, classe social e raça devem ser analisadas com a profundidade exigida e, mesmo que num opúsculo, tratadas com o devido rigor e ciência de sua profunda imbricação na sociabilidade do povo brasileiro. Bem como das reminiscências históricas que reverberam continuamente em nosso cotidiano. Em razão disso o presente trabalho, mesmo que rapidamente, é um esforço de conexão entre os elos históricos que permeiam tais questões e a atualidade, as problemáticas que se nos apresentam quando olhamos para a contemporaneidade brasileira.
Num primeiro momento é interessante fazer uma pequena regressão ao século XIX e XX em seus momentos mais decisivos para que a sociedade brasileira se configurasse no formato que conhecemos hoje.
A economia colonial sempre fundamentada no poder do patriarcado, da detenção exclusiva do saber é um marco inicial dessa história da educação nacional, importando valores europeus, a partir da educação recebida pelos filhos homens que iam se formar fora do país, era assim perpetuadora de um poder que não se aliava senão ao seu semelhante em termos de classe, raça e gênero. Um monopólio do saber que trouxe profundas consequências dentro do período monárquico e posteriormente da república. O que explica em grande medida a morosidade no processo de transformação social que em outras partes do mundo se desdobrou com bem menor resistência por parte das classes mais abastadas da sociedade. Uma mimética cavaleiresca que se viu refletida numa sociedade de bases profundamente desiguais e mesmo cruéis com aqueles que não tinham acesso ao saber e a outros direitos básicos – tendo em mente que os tratados sobre direitos humanos são formatados posteriormente a esses períodos.
“a economia colonial brasileira fundada na grande propriedade e não na mão de obra escrava teve implicações de ordem social e política bastante profundas. Ela favorece o aparecimento da unidade básica do sistema de produção, de vida social e do sistema de poder representado pela família patriarcal”
(ROMANELLI, 2001: 33).
Século XIX
Durante o século XIX, marcado no mundo todo por ser gestor de profundas transformações na estruturação das sociedades, o Brasil vivia então momentos de dualidade. Os ecos da revolução francesa, o ideário criado a partir da revolução burguesa e seus pensadores basilares, sem dúvida foram de grande influência em todo o mundo, onde colônia após colônia, estado após estado dissolviam os direitos de escravização e também os estatutos coloniais. Perseguindo sua independência, libertando cativos e de certa maneira, buscando os ideais burgueses.
Não obstante, nosso país, já ao final do século, era um dos países retardatários no que concerne a escravidão. Aqui ela coexistia com a ideia de modernidade – ideais iluministas e da revolução francesa na alta sociedade. O domínio colonial sobre os cativos persistia em uma demonstração única de cinismo das classes altas. Igualdade, Fraternidade e Liberdade aos do mesmo nível social.
Na sociedade civil comum a educação era feita principalmente por meio da intervenção clerical, tão medievalmente grotesca, inimiga declarada do pensamento crítico, agarradas à ideia da revelação, do pecado e julgadora do esclarecimento. O que de alguma forma ajudou no desenvolver das letras em território nacional, mas sempre estando presa a sua moralidade retrógrada e que em nada buscava realmente interferir no panorama desigual e marcadamente cruel com as classes mais baixas da população.
Uma sociedade fundamentalmente agrária, permanecia conectada inevitavelmente ao seu passado colonial, as heranças dos colonizadores se encarnavam nas figuras dos coronéis, resistentes à mudança ao mesmo tempo que profundamente ligados a seu direito de posse, seja de conhecimento, de terra ou de homens. Ao avançar do século a pressão aumenta, com a crise do sistema açucareiro e todos os movimentos abolicionistas ao longo do território mundial, o sistema escravista não consegue se manter. E dentro da sociedade civil brasileira o movimento abolicionista ganha força. As pressões internacionais, ideias progressistas, acabam por resultar na Lei Áurea – 13 de maio de 1888 – liberando os cativos do julgo da escravatura, mesmo que tardiamente.
Contudo, a lei por si só, configura muito mais um dar de ombros das classes administrativas que, propriamente, uma libertação para os cativos. O estado brasileiro, que se torna república poucos anos após, não pensa em nenhuma lei que pudesse incluir os antigos cativos ou dar qualquer tipo de acesso a educação. Homens e mulheres que acabam por formar uma massa imensa de pessoas jogadas à própria sorte, sem nenhuma base em que pudessem se sustentar. De modo que, muitos dentre os libertos, acabam por aceitar um destino muito próprio ao que os esperava enquanto na condição de escravos. Permanecendo ao lado de seus antigos “proprietários” em condições muito semelhantes às que vivenciavam anteriormente, alijados de qualquer perspectiva educacional e mesmo humanitária.
A abolição também gera outro tipo de movimento, o êxodo de grande parte da população do ambiente rural para o ambiente urbano. Uma saída vista para eles – que nada possuíam que lhes pudessem prover vida digna no campo – como talvez a única esperança. O que se vê é o acúmulo de uma massa de miseráveis nas principais capitais do país, formação de aglomerados de moradias sem nenhuma salubridade e mínimas condições, desemprego, analfabetismo.
É importante ressaltar que a situação dos libertos – libertos da escravatura mas cativos do pauperismo – contrasta com outro movimento: concomitantemente com esse panorama começam a chegar os primeiros imigrantes europeus. Incentivados pelo estado brasileiro ganham, ao contrário da população negra, formas de se estabelecerem no país, um processo de branqueamento calculado que deixa marcas profundas na configuração nacional e que também nos mostra com clareza a distinção eugenista que permeia a política adotada nos primeiros anos da república – não que a consideremos dispensada pelos mecanismos estatais brasileiros, basta lançar um olhar para a população carcerária brasileira nos dias atuais.
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