TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

O Desenho em uma perspectiva psicogenética

Por:   •  6/9/2015  •  Trabalho acadêmico  •  5.029 Palavras (21 Páginas)  •  841 Visualizações

Página 1 de 21

PSICOLOGIA CONSTRUTIVISTA

O Desenho em uma perspectiva psicogenética

O desenho segundo Luquet

De acordo com Piaget, ao final do estádio sensório-motor (por volta dos 2 anos), surge na criança uma capacidade cognitiva de representação – um significado por meio de um significante –, e o meio que utiliza para isso pode ser a linguagem, o jogo simbólico, a imitação, a imagem mental e o desenho.

O desenho, nessa perspectiva, não é apenas um ato criativo e espontâneo da criança, mas sim uma função de pensamento, simbólica e semiótica, que possibilita a representação da realidade. Em outras palavras, o desenho é uma das manifestações da função simbólica ou semiótica que surge na criança por volta dos 2 anos (estádio pré-operatório), possibilitando a representação intencional da realidade por meio do grafismo.

No livro “A representação do espaço na criança”, Piaget apresenta um estudo muito interessante sobre as relações espaciais elementares e o espaço gráfico.

Piaget considera o desenho uma forma de representação do pensamento e, embora não tenha estudado o desenvolvimento do grafismo infantil, refere-se em seus textos aos célebres estudos de Georges-Henri Luquet (1876-1965), que foi o primeiro a tabular em etapas evolutivas.

Luquet inicia seus estudos observando de maneira sistemática os desenhos de seus filhos, Simone e Jean Luquet. Percebe o desenhar como um ato de representação da realidade, uma imitação do real através da representação e, nesse sentido, afirma que o desenho é realista na intenção. Portanto, o “realismo” do desenho é uma concepção-chave em sua teoria.

A característica fundamental do desenho infantil é ser realista, a criança quando desenha expressa uma intenção de representar a realidade tal qual ela se apresenta. Nesse sentido, o desenho infantil é uma imitação do real por meio de uma representação e, por isso, é realista na intenção.

Compreende o desenvolvimento do grafismo infantil em quatro importantes etapas, demonstrando que o desenho sofre mudanças e destacando um realismo que se desenvolve à medida que a criança vai avançando em idade.

Essa característica realista apontada por Luquet sofre modificações ao longo do desenvolvimento infantil. Gradativamente o desenho vai evoluindo em etapas e, em cada uma delas, há um tipo de realismo.

Em outras palavras, o realismo do desenho infantil ocorre em diferentes fases:

- Realismo fortuito (2 e 3 anos) -  è analogia entre o traço e o objeto, dando nome/“sem querer”.

- Realismo mal sucedido (3 e 4 anos) - è a criança aprende a representar, há fracassos e sucessos; badameco girino e badameco.

- Realismo intelectual (4 a 8/9 anos) - è a criança desenha o que sabe e não o que vê; Transparência/Plano Deitado/Rebatimento.

- Realismo visual (8/9 a 11/12 anos) - è a criança desenha o que vê/perda da espontaneidade para desenhar.

Realismo fortuito

O desenho, para Luquet, é um conjunto de traços feitos intencionalmente para representar um objeto real. No entanto, no início, não existe essa intenção de fazer uma imagem, o desenho é resultado da livre exploração que a criança faz sobre os materiais. Munida de vários acessórios e dos movimentos de sua mão, realiza marcas acidentais no papel, uma obra involuntária, que reconhece como sendo sua, resultado de sua atividade, à qual não atribui significado. A criança limita-se a fazer traços aleatórios no papel sem qualquer objetivo ou significação, manipula e explora os materiais, e no grafismo é o olho que segue a mão e não as marcas impressas no papel.

[pic 1]

               Débora (2a 2m)

Por volta dos 2 e 3 anos, a criança começa a fazer traços intencionais no papel, percebe certa analogia entre seus traçados e objetos da realidade e faz uma interpretação: surge, então, o desenho intencional, o desenho como representação. A criança que antes rabiscava aleatoriamente passa a fazer uma analogia entre um objeto e seu traço, dando-lhe um nome e isso acontece de modo fortuito, uma representação da realidade ao acaso.

Essa representação, por ser fortuita, não se mantém em todos os desenhos que a criança faz: é apenas acidentalmente que ela é capaz de fazer um traçado que se pareça com um objeto, e isso explica o porquê de ora nomear seu desenho de uma maneira, ora de outra.

Realismo malsucedido

Na segunda fase de evolução do desenho infantil, a criança desenha com a intenção realista de representar, mas encontra dois obstáculos que dificultam a representação da realidade: um de ordem física ou gráfica, que consiste em coordenar seus movimentos motores para dar ao traçado o aspecto do objeto desenhado; e o outro de ordem psíquica, que consiste na falta de atenção da criança para desenhar pormenores. Por causa desses obstáculos, o desenho infantil nessa fase é marcado por sucessos e fracassos; por isso, Luquet o chamou de “réalisme manqué ou l’incapacité synthétique” , uma fase de imperfeição geral do desenho, que se inicia geralmente entre 3 e 4 anos.

Vários autores traduzem réalisme manqué como “realismo fracassado”, levando a uma conotação pejorativa esse momento evolutivo do desenho. Na interpretação de Luquet, há uma incapacidade sintética e não uma percepção “fracassada” da criança sobre sua representação. Por isso preferimos utilizar o termo malsucedido.

A falta de proporções nos elementos desenhados é a primeira manifestação da incapacidade sintética, isto é, os traços são feitos de maneira independente, a criança não estabelece as relações entre os traçados. Luquet explica que essa desproporção pode ser resultado da imperícia gráfica da criança ou pela maneira como procura ocupar o espaço no papel: se faltar espaço, encurta o traço, se sobrar espaço, procura ocupá-lo e se o objeto ou o tema tratado é importante para ela, exagera em seu tamanho (em um jogo de bola os braços são enormes). No entanto, tais desproporções ocasionam justaposições ou síntese falsa. Segundo Piaget e Inhelder (1966,1968), essa justaposição não retrata inabilidade técnica, mas revela modos de pensar da criança, ou seja, fatores operatórios.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (31.9 Kb)   pdf (1.5 Mb)   docx (1.6 Mb)  
Continuar por mais 20 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com