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O Desenho em uma perspectiva psicogenética

Por:   •  6/9/2015  •  Trabalho acadêmico  •  5.029 Palavras (21 Páginas)  •  834 Visualizações

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PSICOLOGIA CONSTRUTIVISTA

O Desenho em uma perspectiva psicogenética

O desenho segundo Luquet

De acordo com Piaget, ao final do estádio sensório-motor (por volta dos 2 anos), surge na criança uma capacidade cognitiva de representação – um significado por meio de um significante –, e o meio que utiliza para isso pode ser a linguagem, o jogo simbólico, a imitação, a imagem mental e o desenho.

O desenho, nessa perspectiva, não é apenas um ato criativo e espontâneo da criança, mas sim uma função de pensamento, simbólica e semiótica, que possibilita a representação da realidade. Em outras palavras, o desenho é uma das manifestações da função simbólica ou semiótica que surge na criança por volta dos 2 anos (estádio pré-operatório), possibilitando a representação intencional da realidade por meio do grafismo.

No livro “A representação do espaço na criança”, Piaget apresenta um estudo muito interessante sobre as relações espaciais elementares e o espaço gráfico.

Piaget considera o desenho uma forma de representação do pensamento e, embora não tenha estudado o desenvolvimento do grafismo infantil, refere-se em seus textos aos célebres estudos de Georges-Henri Luquet (1876-1965), que foi o primeiro a tabular em etapas evolutivas.

Luquet inicia seus estudos observando de maneira sistemática os desenhos de seus filhos, Simone e Jean Luquet. Percebe o desenhar como um ato de representação da realidade, uma imitação do real através da representação e, nesse sentido, afirma que o desenho é realista na intenção. Portanto, o “realismo” do desenho é uma concepção-chave em sua teoria.

A característica fundamental do desenho infantil é ser realista, a criança quando desenha expressa uma intenção de representar a realidade tal qual ela se apresenta. Nesse sentido, o desenho infantil é uma imitação do real por meio de uma representação e, por isso, é realista na intenção.

Compreende o desenvolvimento do grafismo infantil em quatro importantes etapas, demonstrando que o desenho sofre mudanças e destacando um realismo que se desenvolve à medida que a criança vai avançando em idade.

Essa característica realista apontada por Luquet sofre modificações ao longo do desenvolvimento infantil. Gradativamente o desenho vai evoluindo em etapas e, em cada uma delas, há um tipo de realismo.

Em outras palavras, o realismo do desenho infantil ocorre em diferentes fases:

- Realismo fortuito (2 e 3 anos) -  è analogia entre o traço e o objeto, dando nome/“sem querer”.

- Realismo mal sucedido (3 e 4 anos) - è a criança aprende a representar, há fracassos e sucessos; badameco girino e badameco.

- Realismo intelectual (4 a 8/9 anos) - è a criança desenha o que sabe e não o que vê; Transparência/Plano Deitado/Rebatimento.

- Realismo visual (8/9 a 11/12 anos) - è a criança desenha o que vê/perda da espontaneidade para desenhar.

Realismo fortuito

O desenho, para Luquet, é um conjunto de traços feitos intencionalmente para representar um objeto real. No entanto, no início, não existe essa intenção de fazer uma imagem, o desenho é resultado da livre exploração que a criança faz sobre os materiais. Munida de vários acessórios e dos movimentos de sua mão, realiza marcas acidentais no papel, uma obra involuntária, que reconhece como sendo sua, resultado de sua atividade, à qual não atribui significado. A criança limita-se a fazer traços aleatórios no papel sem qualquer objetivo ou significação, manipula e explora os materiais, e no grafismo é o olho que segue a mão e não as marcas impressas no papel.

[pic 1]

               Débora (2a 2m)

Por volta dos 2 e 3 anos, a criança começa a fazer traços intencionais no papel, percebe certa analogia entre seus traçados e objetos da realidade e faz uma interpretação: surge, então, o desenho intencional, o desenho como representação. A criança que antes rabiscava aleatoriamente passa a fazer uma analogia entre um objeto e seu traço, dando-lhe um nome e isso acontece de modo fortuito, uma representação da realidade ao acaso.

Essa representação, por ser fortuita, não se mantém em todos os desenhos que a criança faz: é apenas acidentalmente que ela é capaz de fazer um traçado que se pareça com um objeto, e isso explica o porquê de ora nomear seu desenho de uma maneira, ora de outra.

Realismo malsucedido

Na segunda fase de evolução do desenho infantil, a criança desenha com a intenção realista de representar, mas encontra dois obstáculos que dificultam a representação da realidade: um de ordem física ou gráfica, que consiste em coordenar seus movimentos motores para dar ao traçado o aspecto do objeto desenhado; e o outro de ordem psíquica, que consiste na falta de atenção da criança para desenhar pormenores. Por causa desses obstáculos, o desenho infantil nessa fase é marcado por sucessos e fracassos; por isso, Luquet o chamou de “réalisme manqué ou l’incapacité synthétique” , uma fase de imperfeição geral do desenho, que se inicia geralmente entre 3 e 4 anos.

Vários autores traduzem réalisme manqué como “realismo fracassado”, levando a uma conotação pejorativa esse momento evolutivo do desenho. Na interpretação de Luquet, há uma incapacidade sintética e não uma percepção “fracassada” da criança sobre sua representação. Por isso preferimos utilizar o termo malsucedido.

A falta de proporções nos elementos desenhados é a primeira manifestação da incapacidade sintética, isto é, os traços são feitos de maneira independente, a criança não estabelece as relações entre os traçados. Luquet explica que essa desproporção pode ser resultado da imperícia gráfica da criança ou pela maneira como procura ocupar o espaço no papel: se faltar espaço, encurta o traço, se sobrar espaço, procura ocupá-lo e se o objeto ou o tema tratado é importante para ela, exagera em seu tamanho (em um jogo de bola os braços são enormes). No entanto, tais desproporções ocasionam justaposições ou síntese falsa. Segundo Piaget e Inhelder (1966,1968), essa justaposição não retrata inabilidade técnica, mas revela modos de pensar da criança, ou seja, fatores operatórios.

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