O Ensino de Música na Educação Infantil
Por: Gabrienathan • 17/11/2015 • Trabalho acadêmico • 12.098 Palavras (49 Páginas) • 992 Visualizações
O Ensino de música na Educação Infantil
RESUMO
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo mostrar as práticas do ensino de música na educação infantil.
Baseia – se numa proposta de pesquisa bibliográfica baseada nas diferentes percepções da sociedade sobre essa atividade. Ideias equivocadas sobre conteúdos, formas e funções podem comprometer o retorno da Educação Musical como componente curricular obrigatório.
O Brasil não possui uma tradição em ensinar musica na escola regular.
Nos mostra também que, a música no ensino básico não está desaparecendo, ela sempre existiu, está presente no cotidiano escolar há muito tempo, apenas não foi devidamente percebida e reconhecida como uma rica e poderosa prática de ensino pelos especialistas.
Entendemos por práticas musicais as ações de ouvir/ apreciar, executar um instrumento ou cantar, compor ou improvisar.
Se pensarmos que a música é um discurso, como o professor Swamwick (2003) propõe, talvez fique mais fácil entender à ideia que funda a proposta de ensino. Qualquer um pode desenvolver práticas musicais – compor, executar, ouvir -, se tiver intenção.
Isso porque o que entendemos por música é definido por nós mesmos na nossa relação social com os outros.
As representações sociais dizem respeito, as crenças, valores e atitudes construídos por meio da comunicação e da argumentação entre as pessoas. As práticas musicais são formas de argumentar para emocionar os outros a partir das ideias que estamos veiculando por meio dos sons.
A falta de compreensão sobre o que é educação musical, o que é o que aborda e como faz, é das principais causas das dificuldades que se tem em justificar sua presença na educação formal básica do individuo. Educar - se na música é crescer plenamente com alegria, desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem se desenvolver, tampouco é educar.
PALAVRAS CHAVE: Educação Infantil. Arte musical. Prática musical. Musicalização. Trabalho colaborativo. Identidade. Formação.
ABSTRACT
The work presented here aimed to show the music teaching practices in early childhood education.
Based - on a proposal of literature based on different perceptions of the society about the activity. Misconceptions about content, form and function can compromise the return of Music Education as a compulsory curriculum component.
Also shows us that the music in primary education is not disappearing, it has always existed, is present in the daily school long ago, just was not properly perceived and recognized as a rich and powerful practice of teaching by experts.
We understand the actions of musical practices hear / enjoy, perform an instrument or sing, compose or improvise.
If we think that music is a speech, as Professor Swamwick (2003) proposes, may be easier to understand the idea that founded the teaching proposal. Anyone can develop musical practices - compose, perform, listen - if you intend.
This is because what we mean by music is set for ourselves in our social relationships with others.
Social representations concerning the beliefs, values and attitudes built through communication and argument between people. The musical practices are ways of arguing to thrill others from the ideas that we are conveying through sounds.
The lack of understanding about what is music education, which is what addresses and as it does, is a major cause of the difficulties that have to justify their Presence in basic formal education of the individual.
Educate - if the music is fully grow with joy, develop without giving joy is not sufficient.
Give joy without develop, nor is it to educate.
When this process is driven by people aware and completely, no longer just recreation, favoring a rich experiences stimulating the development of more spontaneous means of expression.
KEYWORDS: Early Childhood Education. Music Art. Music Education. Practice Music. Collaborative Work. Identity. Training.
1- INTRODUÇÃO-----------------------------------------------------------------------10 CAPÍTULO 1 A HISTÓRIA DA MÚSICA-----------------------------------------------------------11 CONCEPÇÃO NO TRABALHO COM A MÚSICA-----------------------------12 OBJETIVOS 1.1—Geral--------------------------------------------------------------------------------13 1.2---Específicos------------------------------------------------------------------------13- METODOLOGIA------------------------------------------------------------------------14 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-----------------------------------------------------14 CAPITULO 2 O QUE É MUSICALIZAÇÃO----------------------------------------------------------24 O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO FORMAL DO INDIVIDUO-----------------------------------------29 REFLEXÕES SOBRE OS VALORES DA EDUCAÇÃO MUSICAL----------------------------------------------------------31 2.1 Valor Social--------------------------------------------------------------------------32 2.2 Valor Psicológico-------------------------------------------------------------------37 2.3 Valores Tradicionais---------------------------------------------------------------38 A MÚSICA COMO MEIO DE INTEGRAÇÃO DO SER -----------------------40 CONCLUSÃO-----------------------------------------------------------------------------42 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA-----------------------------------------------------43 INTRODUÇÃO Desde o inicio da história, o homem interage com as pessoas usando linguagens com a escrita, a fala, o corpo, a plástica e a música. A música tem um caráter ritualístico. Existe musica para adormecer, para dançar, para chorar os mortos, para a luta etc. Em muitas culturas, a música segue costumes, além de estar intensamente presente no cotidiano: radio televisão, brincadeiras e no contexto familiar. Neste segmento fala - se sobre a música no contexto educacional, nas brincadeiras escolares. Desde o nascimento, a criança conta com um ambiente com muitos estímulos sonoros e já reage a eles manifestando sons com balbucios ou gritos. Aos poucos, vai construindo um repertório de sons que lhe permite se comunicar. Quanto mais estímulos tiverem, maior será o uso da linguagem sonora ou musical. O trabalho com a musica é uma boa oportunidade para o desenvolvimento da expressão do equilíbrio, da autoestima e do autoconhecimento, portanto, promove a integração social. O papel da música na educação, não apenas como experiência estética, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem, como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo, e também ampliando o conhecimento musical do aluno, afinal a música é um bem cultural e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos. Sugere que a escola deve oportunizar a convivência com os diferentes gêneros, apresentando novos estilos, proporcionando uma análise reflexiva do que lhe é apresentado, permitindo que o aluno se torne mais crítico. Também aborda a questão da Inteligência Musical, apresentada por Howard Gardner (1995) na teoria das inteligências múltiplas, e apresenta alguns motivos pelos quais ela deva ser considerada no currículo escolar. Por fim, indica a música como um elemento importante para estabelecer a harmonia pessoal, facilitando a integração, a inclusão social e o equilíbrio psicossomático. | |||
CAPÍTULO 1 A HISTÓRIA DA MÚSICA HÁ 4000 anos antes de Cristo, já apareciam, em esculturas, as primeiras provas da existência musical. Mas a historia da música inicia-se no período mais rico da Grécia. A teoria musical dos gregos ainda é fundamental para o estudo da nossa arte. Porém, a música praticada naquele período desconhecia a polifonia (combinações simultâneas de varias melodias independentes). Esta só vai surgir depois da invasão dos bárbaros, quando as civilizações grega e romana desaparecem e se dá o inicio da idade media. Mesmo assim, a união de diversas vozes e das diferentes melodias independentes precisou de muitos séculos para desconstruir a rigidez e a desorganização. Foi a partir dos séculos XV e XVI que a musica apresentou toda a perfeição técnica e virtuosismo no desenvolvimento artístico. Hoje pode- se dizer que a origem da musica se divide em duas partes: a primeira, na expressão de sentimentos por meio da voz humana, que seria a raiz da musica vocal, e a segunda seria o conjunto de duas ou mais vozes, ou seja, a origem da musica instrumental. A música, segundo a teoria musical, é formada de três elementos principais: ● o ritmo; ● a harmonia; ● e a melodia. Esses três elementos são a base e o fundamento de toda expressão musical. O ritmo é o mais importante dos três, pois é o único elemento que pode existir independente dos outros. A harmonia , segundo elemento mais importante, é responsável pelo desenvolvimento da arte musical. Enquanto a melodia, por sua vez, e a primeira e imediata expressão de capacidades musicais, já que se desenvolve a partir da língua, da acentuação das palavras e forma uma sucessão de notas características que por vezes, resulta num padrão rítmico e harmonioso reconhecível. O que resulta da função da melodia, harmonia e ritmo soa as consonâncias e as dissonâncias. Porem, as definições de dissonâncias e consonâncias variam de cultura para cultura. Um exemplo é a comparação da musica ocidental com a oriental. Quando um ocidental escuta uma musica oriental parece incompreensível, pois não está acostumado com o tipo de melodia organizada pela musica orienta. Isso quer dizer que as consonâncias e as dissonâncias dependem de cada povo, pois cada um tem costumes e subjetividades. E a musica nada mais é do que a expressão dos sentimentos por meio dos sons artisticamente combinado de modo parecido ao da linguagem materna, sendo assim um de seus fundamentos. | |||
CONCEPÇÃO NO TRABALHO COM A MÚSICA Devemos encarar a música como uma linguagem cujo conhecimento se constrói, não apenas como um produto pronto ou como uma proposta de reprodução. Em muitas práticas, a música na educação infantil tem sido usada para atender a propósitos como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos para trabalhar com datas comemorativas e para o trabalho e a memorização de conteúdos como letras ou números. Devemos encarar a música como uma linguagem cujo conhecimento se constrói, não apenas como um produto pronto ou como uma proposta de reprodução. OBJETIVOS Seu objetivo na concepção do trabalho com a música é analisar as contribuições que o ensino musical pode proporcionar no desenvolvimento das crianças na educação infantil e a forma como é usada pelos educadores que atuam nesta Faixa etária. Verifica – se também a importância do aprendizado de musica na socialização e aprendizagem, conhecer a dinâmica do ensino de música nas escolas, percebe – se as formas de interação da música com os demais eixos de trabalho nesta fase da educação escolar da criança. Para abordar a teoria num plano mais amplo não podemos optar nem pela abordagem clássica nem pela abordagem da ciência moderna, notadamente as ciências empírico-formais. O desenvolvimento da linguagem musical ocorre de modo parecido ao da linguagem materna, sendo assim um elo que liga pensamento e realidade, ou seja, o real ao racional e o racional do real e atribui o caráter de música concentricidade tanto a um como a outro elemento. Em todos os aspectos que investigamos nesta relação é o homem que deve estar no centro. O homem, com sua ação, sua presença que é ação, sobre o mundo material, e, consequentemente, sobre si mesmo.
1.1 Geral Divulgar a importante da música na vida das crianças e na educação infantil, contribuindo para a formação de seres humanos sensíveis, criativos e reflexivos. 3.2 ESPECÍFICOS ● Conhecer a história da música; ● Apresentar conceitos e teorias referentes à música; ● Mostrar como a música pode contribuir com a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e sócio- afetivo da criança; ● Verificar de que maneira a música favorece o desenvolvimento do potencial criativo e da sensibilidade da criança, bem como o estímulo à sua concentração e autodisciplina; ● Observar de que maneira o gosto musical é despertado na criança. METODOLOGIA Neste trabalho será utilizado o método hipotético-dedutivo, onde as conclusões sendo verdadeiras, as hipóteses serão comprovadas. Trata-se, portanto, de uma pesquisa bibliográfica, de método monográfico, com total auxílio de livros, textos e trabalhos que tratam do tema, onde as informações colhidas poderão dar subsídios no sentido de se orientar os trabalhos que serão desenvolvidos. | |||
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ao longo da história humana, inúmeros filósofos, psicólogos, pedagogos, enfim, pensadores de todas as vertentes do conhecimento e até pessoas comuns teorizaram, escreveram ou falaram da importância da música para a humanidade. Na Grécia antiga, por exemplo, praticamente todos os filósofos postularam sobre o papel da música no universo e na formação do homem. Pitágoras de Samos, um dos filósofos dessa época, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano. Segundo Brescia (2003, p 31), vem se estudando a relação entre música e saúde, durante algum tempo, “Pitágoras demonstrou que a sequencia correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar os padrões de comportamento e acelerar o processo de cura”. Em alguns hospitais a música tem sido utilizada antes, durante e após cirurgias, os resultados vão desde pressão sanguínea e pulso mais baixos, menos ansiedade, sinais vitais e estado emocional mais estáveis, até menor necessidade de anestésico. A Faculdade de Medicina do Centro de Ciências Médicas e Biológicas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo realizou uma pesquisa que avalia os efeitos da música em pacientes com câncer. A pesquisa revela que a musicoterapia pode contribuir para a diminuição dos sintomas de pacientes que fazem tratamento quimioterápico. Os filósofos pré-socráticos davam tanta importância à música que muitos a viam como o elemento que dava ordem ao Universo, que harmonizava o caos inicial do qual o mundo foi originado. É nessa época histórica que a música é relacionada com a matemática pela primeira vez. A música, no entanto, antecede à Antiguidade Clássica. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais, como nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música passou a ser utilizada também em louvor a líderes, como as executadas nas procissões reais no Egito antigo e na Suméria. Atualmente, a música pertence ao universo das belas-artes, pois se manifesta pela escolha dos arranjos e combinações de sons. É considerada ainda ciência na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas. A falta de compreensão sobre o que é educação musical, o quê ela aborda e como o faz, é uma das principais causas da dificuldade que se tem em justificar sua presença na educação formal básica do indivíduo. Terminologias da área, como musicalização, educação musical, ou até mesmo o próprio conceito de música, são constantemente concebidas de forma equivocada, tornando o trabalho do profissional que lida com a educação Musical uma verdadeira incógnita para muitos. De acordo com Hentschke, talvez a explicação para a falta de entendimento que a sociedade tem sobre o que é educação musical “esteja ligada à própria concepção que o homem ocidental, como já citamos, tem da arte, ou seja, do seu engajamento com o processo criador em geral, ou ainda pela ideia generalizada de que arte refere-se a um inatingível processo subjetivo” (HENTSCHKE, 1991, p57). As artes em geral, são tipos de linguagens que intencionam expressar sensações e\ou sentimentos, contudo, sem o mesmo grau de automatismo e comunicabilidade da linguagem falada (DUARTE JUNIOR, 1991, P.4647; PENNA, 1991, p.22). No caso específico da música, a ideia da música e sentimentos do homem é expressa em formas sonoras (SWANWICK, 2003, p.18). Por serem criadas pelo homem, tais formas estão vinculadas ao tempo e ao espaço, e as combinações de seus elementos ocorrem de maneiras diferentes em cada época e local, determinando o que chamamos de “estilo”. Assim a linguagem musical é uma linguagem socialmente construída e compartilhada, o que significa que pode ser também estudada e compreendida (PENNA, 1991, p.22). Nesta perspectiva, abandona-se a ideia de que o estudo da arte musical, e da música, mais especificamente, seja um processo tão subjetivo a ponto de ser inatingível. Para que a linguagem musical seja compreendida e compartilhada, há necessidade do conhecimento de seus códigos. Esse conhecimento, segundo Penna, pode ser adquirido não apenas nas escolas, mas também de maneira dita “informal”, pela vivência, pelo contato cotidiano, o que leva à sua familiarização (PENNA, 1991, p.20-21). De acordo com Warwick, para que haja a compreensão da música e sua linguagem, ela precisa ser vista como uma “forma simbólica com camadas de significados” (SWANWICK, 2003, p.50). Swanwick remete a quatro elementos para definir o que ele chama de “discurso” artístico o que colabora na compreensão da música enquanto linguagem. São eles: ● Internamente, representamos ações e eventos para nós mesmos: nós imaginamos. ● Reconhecemos e produzimos relações entre essas imagens. ● Empregamos sistemas de sinais, vocabulários compartilhados. ● Negociamos e trocamos nossos pensamentos com outros. O autor argumenta que, ao compreender a música enquanto discurso, o indivíduo é capaz de trabalhar internamente conhecimentos previamente adquiridos, mas agora em um novo contexto, assimilando-os em uma situação. Assim, confere-lhe novo significado, tal qual processo da metáfora. Segundo ele, “o processo metafórico reside no coração da ação criativa, capacitando-os a abrir novas fronteiras, tornando possível para nós reconstruir ideias, ver as coisas de forma diferente” (SWANWICK, 2003, p. 26). A educação musical existe para auxiliar o individuo a alcançar esta compreensão da música enquanto linguagem. Para o desenvolvimento, manifestação e mesmo para avaliação desta compreensão, a pessoa pode utilizar-se das modalidades do “fazer musical”, conhecidas como execução, onde se faz música através da execução instrumental e\ou vocal; da apreciação, que é a modalidade na qual a pessoa ouve música de maneira crítica e participativa; e também da composição, que implica na criação musical através da manipulação dos elementos da música (FRANÇA; SWANWICK, 2002). Assim, a educação musical pode envolver diversos estágios da aprendizagem musical, indo dos seus primórdios até graus mais elevados de instrução. No que tange á sua definição, Houaiss (apud BRÉSCIA, 2003, p.25) diz que a música é uma “combinação harmoniosa e expressiva de sons e a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc.” Através dessa combinação harmoniosa de sons, a música funciona como elemento de comunicação e identificação dos povos. Decorre dai a sua função de transmissão cultural entre as diversas gerações desses povos. Nesse sentido, a música tem um papel fundamental na educação, pois serve como um elo na transmissão de conhecimentos acumulados pelas gerações passadas. Por sua vez, a importância da música no processo educacional infantil está no fato de que esta consegue, de certa forma, trabalhar a personalidade da criança o desenvolvimento de hábitos, atitudes e comportamentos que expressam sentimentos e emoções, como atesta Gainza (1988, p.95): Em todo o processo educativo confundem-se dois aspectos necessários e complementares: por um lado à noção de desenvolvimento e crescimento (o conceito atual de educação está intimamente ligado à ideia de desenvolvimento); por outro lado, a noção de alegria, de prazer, num sentido amplo [...] Educar-se na musica é crescer plenamente e com alegria. Desenvolver sem dar alegria não é suficiente. Dar alegria sem desenvolver, tampouco é educar. Da constatação acima, podemos afirmar que o acesso à música é necessário ao processo de educação da criança. Quando esse processo é conduzido por pessoas conscientes e competentes, deixa de ser apenas recreação, favorecendo uma rica vivência e estimulando o desenvolvimento dos meios mais espontâneos de expressão. Isso recupera a música a sua condição de linguagem natural, viva, de pensamentos e emoções. A primeira etapa da educação musical é chamada de musicalização (PENNA, 1991, p.37). Nessa fase o educador busca desenvolver no individuo os instrumentos de percepção básicos, necessários para que este compreenda o material sonoro de maneira significativa, enquanto linguagem artística, ou como prefere Swanwick (2003), enquanto discurso. Contudo, o nível de domínio dos códigos musicais durante a etapa da musicalização seria diferente do de um profissional, por se ater ao fornecimento de “um referencial básico,” os esquemas de percepção necessários para sustentar uma disposição de se apropriar de obras musicais (PENNA, 1991, p.43). Penna tem o cuidado de ressaltar que, diferentemente do que comumente se acredita a musicalização não é um processo dirigido exclusivamente ao público infantil, mas sim a qualquer faixa etária, embora haja a necessidade de adaptação da linguagem, dos estímulos motivacionais, do repertório, e o respeito pela capacidade de abstração de cada faixa etária específica (53). Um eixo comum sugerido por Penna para o trabalho metodológico com a musicalização envolveria primeiramente a vivência musical, a qual permitiria a “atividade perceptiva” (PENNA, 1991, p.53). Em seguida, há a formação de conceitos fundamentais da linguagem musical, seu reconhecimento e identificação. Tais aspectos devem acontecer através de atividades que promovam a formação de imagens auditivas e de representações simbólicas; e atividades de expressão para que os conceitos aprendidos sejam aplicados. Tal ação pedagógica deve ser capaz de dar condições para a “compreensão critica da realidade cultural de cada um“ (p33). Processo semelhante é também descrito por Martins, o qual afirma que a aprendizagem musical passaria primeiramente por um momento do desenvolvimento da percepção, onde se deve focar determinado elemento para a atenção do individuo. Em seguida teríamos “operações internas de classificação, de categorização e de organização”, momento onde aconteceria a formação de conceitos (MARTINS, 1985, p.19). Na etapa da musicalização, diversos autores alertam para a necessidade de tornar o processo significativo para o aluno (ARROYO, 1990; FREIRE, 2001; GROSSI, 1990). Isso implica a não redução do trabalho na pura focalização dos elementos musicais, como por exemplo, a altura, duração, intensidade, andamento, timbre, etc.; esquecendo-se do caráter musical, pois a “linguagem musical é uma linguagem artística e expressiva, e deverá ser aprendida enquanto tal” (PENNA, 1991, p.49). Para Swanwick esses elementos seriam apenas “materiais” sonoros, e apenas uma maneira de analisar a experiência musical. O educador musical deve estar consciente de que existe a necessidade de ultrapassar a simples conceituação e reconhecimento de tais elementos, e fazê-los adquirir sentido dentro do contexto musical, caso contrário, não haverá nenhum envolvimento nos níveis metafóricos do discurso musical (SWANWICK, 2003, p.59). Martins adverte para que tentativas de explicar a percepção a partir do conceito, ao invés da própria percepção deste conceito, não evoluam “em um significado musical, o que transforma o estudo de música numa atividade pseudoteoria, estéril e anti - musical” (MARTINS, 1985, p.19). Ao compreendermos a musicalização enquanto uma etapa dentro da educação musical automaticamente colocou esta ultima dentro de um processo mais amplo. Ela pode atingir fases que ultrapassam a musicalização, podendo, por exemplo, abordar a notação musical enquanto representação simbólica convencionada Penna (1991, p.36). Já a musicalização trabalharia nos níveis da concentricidade sonora. Com os pressupostos acima citados, acreditamos que a discussão que se segue a respeito do papel da educação musical na formação básica do individuo, bem como do que é ensinado e de como se almeja faze-lo, estará mais bem situada. Sintetizando essa seção, de acordo com Swanwick, “em educação musical a principal meta é, certamente, trazer a conversação musical do fundo de nossa consciência para o primeiro plano” (Swanwick, 2003, p.50). Nessa mesma linha, Brescia (2003, p.15) afirma: “O trabalho de musicalização deve ser encarado sob dois aspectos: os aspectos intrínsecos à atividade musical, isto é, decorrentes de uma vivência musical orientada por profissionais conscientes, de maneira a favorecer a sensibilidade, a criatividade, o educador musical busca a concentração, a atenção, a autodisciplina, o respeito ao próximo, o desenvolvimento psicológico, a socialização e a afetividade, além de originar a uma efetiva consciência corporal e de movimentação”. De fato, a associação da música, enquanto atividade lúdica, com os outros recursos dos quais dispõem o educador, facilita o processo de ensino-aprendizagem, pois incentiva a criatividade do educando através do amplo leque de possibilidades que a música disponibiliza. Aliar a música à educação também obriga o professor a assumir uma postura mais dinâmica e interativa junto ao aluno. ”O processo de aprendizagem se torna mais fácil quando a tarefa escolar atender aos impulsos deste último para a exploração e descoberta, quando o tédio e a monotonia se tornarem ausentes das escolas, quando o professor, além das aulas expositivas e centralizadoras, possa propiciar experiências diversas com seus alunos, facilitando assim a aprendizagem”. Portanto, a integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de integração e comunicação social, conferem um caráter significativo à linguagem musical. Além disso, a música uma das mais importantes formas de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação de um modo geral e principalmente, na educação infantil particularmente. Edgar Willems, pedagogo musical, nasceu na Bélgica em 13 de outubro de 1890, mas foi na Suíça o local onde desenvolveu o seu trabalho musical e pedagógico através de pesquisa e experiência no campo sensorial da criança com relação a musica e relações – psique - humanas. Descobriu a interligação existente entre a música e o ser humano, Willems relacionou o triplo aspecto do homem (filosófico, afetivo e mental) com os elementos característicos da musica (o ritmo, a melodia e a harmonia). Assim ele propôs um método baseado nos aspectos da filosofia do ouvido humano e apontava para a importância do preparo auditivo antes do ensino instrumental. Utilizava jogos, sono de diferentes natureza e teclados especiais. Baseou-se ainda em pensadores contemporâneos à sua época. Sua metodologia propõe uma educação musical ativa e criadora, seguindo as etapas do desenvolvimento psicológico da criança. Segundo ele a música está ligada à natureza humana, porque desperta e desenvolve competências do homem. Ele relaciona assim o homem e a música: ● Instinto - ritmo; ● emocional - melodia; ● intelecto-harmonia. Para ele, os princípios fundamentais são: ● As relações psicológicas estabelecidas entre a música e o ser humano; ● Não utilizar recursos extramusicais no ensino musical; ● Enfatizar a necessidade do trabalho prático antes do ensino musical propriamente dito; As características principais segundo ele são: ● Acessibilidade a todos, portadores ou não de um dom musical, a influencia favorável à educação inclusiva; ● Favorecimento à passagem homogênea do instinto a consciência e da consciência ao automatismo, empregando processos naturais e vivos que vão do concreto ao abstrato: ● Utilização consciente na prática de elementos inspirados só na música. Este trabalho discute a música como ferramenta pedagógica na educação infantil e teve como seu problema entender aspectos favoráveis que o ensino de música pode proporcionar às crianças da educação infantil, perceber as formas de interação da música com os demais eixos de trabalho, ou seja, como a música pode auxiliar em diversas atividades pedagógicas na educação infantil. Seu objetivo é analisar as contribuições que o ensino de música pode proporcionar no desenvolvimento das crianças na educação infantil e a forma como é usada pelos educadores que atuam nesta Faixa etária. Verifica – se também a importância do aprendizado de musica na socialização e aprendizagem, conhecer a dinâmica do ensino de música nas escolas, percebe – se as formas de interação da música com os demais eixos de trabalho nesta fase da escolarização. Para abordar a teoria num plano mais amplo não podemos optar nem pela abordagem clássica nem pela abordagem da ciência moderna, notadamente as ciências empírico-formais. O desenvolvimento da linguagem musical ocorre de modo parecido ao da linguagem materna, sendo assim um elo que liga pensamento e realidade, ou seja, o real ao racional e o racional do real e atribui o caráter de música concentricidade tanto a um como a outro elemento. Em todos os aspectos que investigamos nesta relação é o homem que deve estar no centro. O homem, com sua ação, sua presença que é ação, sobre o mundo material, e, consequentemente, sobre si mesmo. Todas as pessoas nascem com maior ou menor sentido musical, é algo inato. A música se faz presente em todas as manifestações sociais e pessoais do ser humano desde os tempos mais remotos. Antes mesmo da descoberta do fogo, o homem já se comunicava através de gestos e sons rítmicos. Da China ao Egito, passando pela Índia e a Mesopotâmia, os povos atribuem poderes mágicos à música, sendo que essa linguagem musical antecede até mesmo a fala. De acordo com Brescia (2003, p.25), a música é uma linguagem independentemente do tempo e do espaço em que se localizam. De fato, a música é um elemento sempre presente na cultura humana. Sendo imprescindível na formação da criança para que ela, ao se tornar adulta, atinja sua maioridade intelectual e exerça sua criatividade de maneira crítica e livre. O filósofo grego Platão, na República, corrobora com essa afirmação ao colocar a música (e também a dança) como disciplina fundamental na formação do corpo e da alma, isto é, do caráter das e dos adolescentes. Na contemporaneidade, com o surgimento e o desenvolvimento da psicologia e as suas consequentes descobertas, a pedagogia pôde contar com novas técnicas e instrumentos para trabalhar o processo de ensino-aprendizagem. Diversas atividades lúdicas vieram então contribuir para a educação infantil. A música ganha ainda mais importância por ser universal e por arrebatar não só as crianças, mas também os adolescentes e os adultos. Hoje, em qualquer escola que trabalha com educação infantil predomina, interagindo com as outras disciplinas do currículo, como, por exemplo, a matemática (a própria escala musical é matematizada). Nesse sentido, este trabalho se justifica na medida em que procura demonstrar a importância da música para a formação da criança. Isso vale tanto para as atividades escolares quanto para todas as outras atividades desenvolvidas para e com a criança. Ademais, a música, além de contribuir para que os diversos conhecimentos sejam mais facilmente apreendidos pelo infante, faz com que ele desenvolva sua criatividade, sua subjetividade e exerça sua liberdade, tornando-o futuro, um ser autônomo e capaz de exercer com responsabilidade seu papel de ser autônomo e cidadão. Conhecendo o benefício da música na educação infantil, torna-se bem mais fácil desenvolver modelos pedagógicos que possibilitem adentrar no mundo da criança e, consequentemente, contribuir para a formação integral. Ao proporcionar às oportunidades de vivenciarem experiências envolvendo a música, pode-se esperar delas que reconheçam e utilizem-na como linguagem expressiva, conscientes de seu valor como instrumento de comunicação e expressão. Nesse sentido os conteúdos, devem priorizar a possibilidade de desenvolver a comunicação e a expressão por meio da linguagem musical, de modo a ser trabalhado como conceito em construção, organizado num processo contínuo e integrado que deve abranger: ● A exploração de materiais e a escrita de obras musicais, para propiciar contato e experiência com a matéria-prima da linguagem musical: -O som (são expressões da vida, do universo em movimento, e indicam situações, paisagens sonoras: a natureza, os animais, os seres humanos e o que suas maquinas traduzem, também sonoramente sua presença, seu “ser e estar”, integrado ao todo orgânico e vivo deste planeta). -O silencio (são vibrações como uma onda, seja porque têm um movimento muito lento, seja porque são muito rápidas). É importante tornar observável para as crianças que o fazer musical implica em organizar e relacionar expressivamente “som e silencio”, refletindo sobre a distinção entre barulho, que uma interferência desorganizada que incomoda, e música, que é uma interferência intencional que organiza som e silencio e que comunica. A reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano é uma importante forma de conhecer e representar o mundo. Contudo a inexistência de uma tradição em ensinar música na escola regular no Brasil pode levar a diferentes ideias da sociedade a respeito dos conteúdos, objetivos e funções dessa disciplina. Partindo deste pressuposto, é importante refletir sobre o papel que a música deve desempenhar na escola regular, bem como suas funções e valores, para que seu retorno à escola (lei 11.769/2008) aconteça de uma forma bem compreendida e fundamentada pela comunidade de educadores musicais. CAPÍTULO 2 O QUE É MUSICALIZAÇÃO Musicalização é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória, concentração, atenção, autodisciplina, do respeito ao próximo, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação, Bréscia (2003). As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o outro. Weigel (1988) e Barreto (2000) afirmam que atividades podem contribuir de maneira indelével como reforço no desenvolvimento cognitivo/ linguístico, psicomotor e sócio afetiva da criança, da seguinte forma: Desenvolvimento cognitivo/ linguístico: A fonte de conhecimento da criança são as situações que ela tem oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma, quanto maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências, rítmico - musicais que permitem uma participação ativa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com os sons ela desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou dançar ela está trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela esta descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o ambiente em que vive. Desenvolvimento psicomotor: As atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação motora e aliviando as tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto completo (e complexo) de atividades coordenadas. Por isso atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências importantes para a criança, pois elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e da escrita. Desenvolvimento sócio afetivo: A criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. Nesse processo a autoestima e a auto realização desempenha um papel muito importante. Através do desenvolvimento da autoestima ela apela demonstra seus sentimentos, libera suas emoções, desenvolvendo um sentimento de segurança e auto realização. É importante salientar a importância de se desenvolver a escuta sensível e ativa nas crianças. Mársico (1982) comenta que nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento auditivo se tornam cada vez mais reduzida, as principais causas são o predomínio dos estímulos visuais sobre os auditivos e o excesso de ruídos com que estamos habituados a conviver. Por isso, é fundamental fazer uso de fazer uso de atividades de musicalização que explorem o universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá desenvolver sua capacidade auditiva, exercitar a atenção, concentração e a capacidade de análise e seleção de sons. As atividades de exploração sonora devem partir do ambiente familiar da criança, passando depois para ambientes diferentes. Por exemplo, o educador pode pedir para que as crianças fiquem em silêncio e observem os sons ao seu redor, depois elas podem descrever desenhar ou imitar o que ouviram. Também podem fazer um passeio pelo pátio da escola para descobrir novos sons, ou aproveitar um passeio fora da escola e descobrir sons característicos de cada lugar. Gravar sons e pedir para que as crianças identifiquem cada um, ou produzir sons sem que elas vejam os objetos utilizados e pedir para que elas os identifiquem, ou descubram de que material é feito o objeto (metal, plástico, vidro, madeira) ou como o som foi produzido (agitado, esfregado, rasgado, jogado no chão). Assim como são de grande importância as atividades onde se busca localizar a fonte sonora e estabelecer a distância em que o som foi produzido (perto ou longe). Para isso o professor pode pedir para que as crianças fiquem de olhos fechados e indiquem de onde veio o som produzido por ele, ou ainda, o professor pode caminhar entre onde veio o som produzido por ele, ou ainda, o professor pode caminhar entre os alunos utilizando um instrumento ou outro objeto sonoro e as crianças vão acompanhando o movimento do som com as mãos. Posteriormente o educador pode trabalhar os atributos do som: Posteriormente o educador pode trabalhar os atributos do som: Altura: agudo, médio, grave. Intensidade: forte, fraco. Duração: longo, curto. Timbre: é a característica de cada som, o que nos faz diferenciar as vozes e os instrumentos. Os atributos do som podem ser trabalhados por meio de comparação, diferenciando um som agudo de um grave, forte de um fraco, ou longo de um curto. Mas é mais interessante o uso de jogos musicais, como por exemplo, o Jogo do Grave e Agudo (baseado no Morto Vivo, só que usa um som agudo para ficar em pé e um grave para abaixar, o som pode ser produzido por um instrumento, por apitos com alturas diferentes ou pela voz). O jogo de Esconde - Esconde onde as crianças escolhem um objeto a ser escondido, e uma delas se retira da classe enquanto as outras escondem o objeto. A criança que saiu retorna para procurar o objeto e as outras devem ajudá-la a encontrar produzindo sons com maior intensidade quando estiver perto, e menor intensidade quando estiver longe. O som poderá ser produzido com a boca, palmas, ou da forma que acharem melhor. Essa brincadeira leva a criança a controlar a intensidade sonora e desenvolve a noção de espaço. Para trabalhar a noção e o controle da intensidade sonora as crianças podem desenhar o som. Não é desenhar a fonte sonora, mas sim descrever a impressão que o som causou, se foi demorado ou breve, ascendente ou descendente. Por fim, para se trabalhar o timbre o educador pode pedir para que uma criança fique de costas para a turma enquanto estes cantam uma canção, ao sinal do professor todos param de cantar e apenas uma criança continua a que estava de costas deve adivinhar quem continuou. Estas são apenas sugestões, existem diversos outros jogos que podem ser realizados. Bréscia (2003) ressalta que: Os jogos musicais podem ser de três tipos correspondentes às fases do desenvolvimento infantil: Sensório-Motor: (até os dois anos): São atividades que relacionam o som e o gesto. A criança pode fazer gestos para produzir sons e expressar-se corporalmente para representar o que ouve ou canta. Favorecem o desenvolvimento da motricidade. Simbólico: (a partir dos dois anos): Aqui se busca representar o significado da música, o sentimento, a expressão. O som tem função de ilustração, de sonoplastia. Contribuem para o desenvolvimento da linguagem. Analítico ou de Regras: (a partir dos quatro anos) : São jogos que envolvem a estrutura da música, onde são necessárias a socialização e organização. Ela precisa escutar a si mesma e aos outros, esperando sua vez de cantar ou tocar. Ajudam no desenvolvimento do sentido de organização e disciplina.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO FORMAL DO INDIVIDUO Campbell; Campbell; Dickinson (2000, p.147) ao comentarem sobre a inteligência musical, resumem os motivos pelos quais ela deve ser valorizada na escola: - Conhecer música é importante. - A música transmite nossa herança cultural. É tão importante conhecer Beethoven e Louis Armstrong quanto conhecer Newton e Einstein. - A música é uma aptidão inerente a todas as pessoas e merece ser desenvolvida. - A música é criativa e auto expressiva, permitindo a expressão de nossos pensamentos e sentimentos mais nobres. - A música ensina os alunos sobre seus relacionamentos com os outros, tanto em sua própria cultura quanto em culturas estrangeiras. - A música oferece aos alunos rotas de sucesso que eles podem não encontrar em parte alguma do currículo. Como mencionado anteriormente, o processo de educação musical pode acontecer de maneira “natural”, ou também dita “informal” (PENNA, 1991, p.22). Tal fato pode dificultar uma tentativa de explicar qual seria então a função de um trabalho com a música nas escolas, já que tal processo independeria, até certo ponto, dela. Apesar de processos não formais de musicalização estarem presentes na vida de muitas pessoas, eles não seriam equivalentes, obtendo resultados distintos que dependeriam diretamente das condições socioculturais de cada um (PENNA, 1991, p.23). Neste sentido, a escola, é mais especificamente a escola publica – entidade aberta a todas as classes e, portanto, um espaço democrático, por excelência – seria o espaço ideal para promover o acesso à linguagem musical a todos que dela participem (LOUREIRO, 2004, p.66; PENNA, 1991, p.25-26; QUEIROZ; MARINHO, 2007, p.70). Encontramos diversos motivos que legitimam a presença e a necessidade do ensino musical nas escolas. O primeiro deles invoca o fato de que a artes e suas diferentes formas de manifestações são produtos do homem, e por isso uma forma de registro de sua própria história (SANTOS, 1990, p. 49). Duarte Junior (1991) acredita que o ensino das artes permite que o indivíduo reconheça e eduque o seu próprio processo de se sentir, que fora perdido numa concepção de mundo onde a “primazia da razão”, a “primazia do trabalho” e “a natureza infinita” orientam o comportamento e pensamento do mundo ocidental (DUARTE JUNIOR, 1991, p.63-77). Neste sentido, o ensino das artes contribuiria para que houvesse o resgate da capacidade do homem de criar um sentido pessoal que oriente sua ação no mundo. De acordo com suas palavras: Encontramos nas formas artísticas simbolizações para os seus sentimentos, os indivíduos ampliam o seu conhecimento de si próprios através da descoberta dos padrões e da natureza de seu sentir. Por outro lado, a arte não possibilita apenas um meio de acesso ao mundo dos sentimentos, mas também o seu desenvolvimento, a sua educação. Como, então, podem ser educados e desenvolvidos os sentimentos? Da mesma forma que o pensamento lógico, racional, se aprimora com a utilização constante de símbolos lógicos (linguísticos, matemático, etc.), os sentimentos se refinam pela convivência com os símbolos da arte. [...] Conhecer as próprias emoções e ver nelas os fundamentos de nosso próprio “eu” é a tarefa básica que toda escola deveria propor, se elas não estivessem voltadas somente para a preparação de mão – de – obra para a sociedade industrial (DUARTE JUNIOR, 1991, p.66 – 67). Poder – se – ia dizer então que o papel da educação musical na vida escolar dos indivíduos seria o de democratizar o acesso à linguagem musical, a partir de um engajamento dos educadores musicais com uma sólida fundamentação teórica que conduza sua prática nesse ambiente, buscando ações que possibilitem o desenvolvimento perceptivo para as diferentes manifestações musicais que nos cercam. | |||
REFLEXÕES SOBRE OS VALORES DA EDUCAÇÃO MUSICAL A importância e o valor que determinada área do conhecimento possui para uma determinada sociedade na medida em que analisamos a estrutura de seu currículo escolar vai se diferenciando. O íntimo espaço atual concedido às artes musicais na escola, e a virtual inexistência da musica, demonstra que esta não faz parte do que se estabeleceu como ”importante” pelo senso comum de nossa sociedade (HENTSCHKE, 1991, p.56). Duarte Júnior menciona que o intelectualismo de nossa sociedade é reforçado dentro do ambiente escolar, onde o que é considerado relevante é apenas aquilo que se pode conceber racionalmente, logicamente, e as artes musicais não se enquadram nesta perspectiva (DUARTE JÚNIOR, 1991, p.66). Logo, o papel que a música desempenha numa escola que a encara desta forma restringe – se apenas ao lúdico, a um mero lazer e divertimento, em contraste com “as atividades úteis das demais disciplinas” (p.81). Hentschke (1991) levanta a questão da necessidade de uma conscientização dos valores da música entre os agentes de toda prática educacional. Essa autora, baseada na literatura ocidental de educação musical e em fundamentos encontrados em diversas áreas, como a filosofia, a sociologia, a psicologia, e etmo - musicologia discute como tai s valores sofreram transformações ao longo da história, causando consequências na estruturação dos currículos em cada época. Fonterrada reforça tal pensamento, ao afirmar que “o impacto que determinada profissão pode ter na sociedade depende, em grande parte, do entendimento do que ela tem a oferecer (FONTERRADA, 2005, p.11)”. Assim, essas duas autoras discutem como a falta de compreensão sobre os valores da música e da educação musical afetam a inserção do ensino de musica nas escolas regulares brasileiras. Merriam (apud SWANWICK, 2003, p.47) identifica e categoriza determinadas funções que a música geralmente desempenha na sociedade, Swanwick, no entanto, tem o cuidado de separar tais categorias em duas listas distintas. Na primeira lista encontram – se as categorias que possuem um caráter com potencial para o desenvolvimento do discurso simbólico, que são: “expressão emocional”, comunicação, prazer estético e representação simbólico. A segunda lista que swanwick faz sobre as categorias de Marrian, enquadra as funções da música vinculadas ao apoio e/ou reprodução cultural. São eles: • reforço da conformidade e música vinculadas a normas sociais, • validações de instituições Sociais, • rituais religiosos, • contribuições para a continuidade e estabilidade da cultura e preservação da integração social. Já que tais categorias não tendem a criar ou encorajar a exploração metafórica, não seriam, de acordo com Swanwick (2003, p.49), funções a serem atribuídas à educação musical. Contudo, isso não significa que não possam estar presentes, desde que não ocupam o objetivo primeiro da Educação Musical. Conhecer e discutir tais valores são importantes para que o fazer musical seja concebido como interligado á outras áreas do conhecimento humano, demonstrando assim “que a questão do sucesso ao fazer artístico ultrapasse a do lazer ou da industrialização do conhecimento” (fonterrada, 2005, p.10-11). Tais valores serão discutidos de forma mais aprofundada na sequência. 2.1 VALOR SOCIAL Há grande significação no campo da maturação social da criança. É por meio do repertório musical que nos iniciamos como membros de determinado grupo social. Um bom exemplo são os acalantos ouvidos por um bebê. No Brasil não são os mesmos ouvidos por um bebê nascido na Islândia; da mesma forma, as brincadeiras, as adivinhas, as canções, as parlendas que dizem respeito à nossa realidade nos inserem na nossa cultura. Pediatras são unânimes em estimular esse contato Além disso, a música também é importante do ponto de vista da maturação individual, isto é, do aprendizado das regras sociais por parte da criança. Quando uma criança brinca de roda, por exemplo, ela tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações de perda, de escolha, de decepção, de dúvida, de afirmação. As cantigas nos foram transmitidas oralmente, através de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria humana inventou para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de temas tão complexos e belos, falam de amor, de disputa, de trabalho, de tristezas e de tudo que a criança enfrentará no futuro, queiram seus pais ou não. Relatam experiências de vida que nem o mais sofisticado brinquedo eletrônico pode proporcionar. Especialistas relatam que, criança quieta, que dorme sozinha, que não reclama companhia, nem sempre é sinônimo de criança feliz. Muitas vezes, o bebê independente de agora, poderá vir a ser o adulto carente de amanhã. Na adolescência, ainda uma vez a música tem papel de destaque. Sem sombra de dúvida, a música é uma das formas de comunicação mais presente na vida os jovens. É por meio da canção que temáticas importantes ajudam na inserção social dos jovens, não mais como crianças, mas agora como preparação para a vida adulta. Como exemplo, temos os videoclipes que apresentam a jovens de classe média a dura realidade do racismo, da vida nas periferias urbanas e que podem ser utilizados por pais e educadores como forma de estabelecer um diálogo, uma porta para a construção da consciência cívica. Reflexões sobre como podem os pais, educadores e adultos se incumbirem da educação e de como agem as crianças em relação à sua formação musical, nos fez pesquisar sobre o útero humano. Pesquisas feitas com fetos nos mostram que eles reagem a estímulos sonoros externos e, portanto, deve ser benéfico que a mãe possa, ela mesma, desenvolver atividades musicais. As oportunidades de aprender um instrumento musical e praticar é muito importante durante a gravidez. Cantar bastante, também, pois esse instrumento – a voz – está bem aí ao alcance de todos utilize-o, entre para um coral, aprenda cantigas de ninar, cante no banheiro! Além de cantar, ouça também boa música. Muitos pais reclamam, com razão, do lixo musical que infesta os grandes meios de comunicação. Contudo, há um razoável número de CDs de boa qualidade, voltado para o público infantil, como por exemplo, toda a obra de Bia Bedran, a Coleção Palavra Cantada, entre outros. Vale a pena buscar aqueles discos de vinil que fizeram sua alegria quando pequena (Saltimbancos, Arca de Noé, Coleção Disquinho), pois a maior parte deles já se encontra remasterizada para CD. Os pais podem se dispor a formar um pequeno acervo, não se preocupando com o lixo que seu filho ouvirá lá fora: oferecendo outras alternativas, dentro de casa, certamente ele terá prazer em ouvir aquilo a qual foi selecionado criando uma escolha critica. Na área da saúde, podemos citar trabalhos em hospitais que utilizam a música como elemento fundamental para o controle da ansiedade dos pacientes. A origem deste trabalho remonta à segunda Guerra Mundial, quando músicos foram contratados para auxiliar na recuperação de veteranos de guerra por hospitais norte-americanos. Pode-se afirmar que esse foi um grande impulso para a área de musicoterapia, hoje com reconhecimento acadêmico consolidado. É cada vez mais comum a presença da música nestes locais, seja para diminuir a sensação de dor em pacientes depois de uma cirurgia, junto a mulheres em trabalho de parto (para estimular as contrações) ou na estimulação de pacientes com dano cerebral. Nesse sentido, não é exagero afirmar que os efeitos da música sobre os sentimentos humanos estão, cada vez mais, migrando da sabedoria popular para o reconhecimento científico. Nas escolas do século XIX, o valor social da música foi utilizado como argumento para justificar a presença da educação musical, pois serviam como reforço aos valores religiosos e de ornamento em seus rituais, bem como para ajudar no desenvolvimento de uma boa conduta social, como já mencionado anteriormente neste trabalho. Contudo, tal visão é limitadora, pois a utilização da música apenas como apoio a determinada função social não propiciava o seu desenvolvimento enquanto linguagem simbólica (SWANWICK, 2003, p.54). A área da musica que se ocupa com a organização social da prática musical é conhecida por sociologia da música. Segundo Green (1997, p.25), as pessoas se agrupam socialmente, podendo tais grupos ser organizados por classe, etnia, gênero, etc. Os usos que tais grupos fazem da música podem ser os mais variados. Neste sentido, a sociologia da música se interessa em conhecer tanto a organização social da prática musical, quanto em estudar a construção social do significado musical para os diferentes grupos. Green coloca – nos o significado musical chamado por ela de “significado delineado” (GREEN, 1997, p.28 e 29) como atrelado aos contextos de produção, distribuição, e receptividade da música. Tal significado afeta diretamente nossa forma de compreender música. Segundo essa autora ao ouvirmos determinada música costumou delinear aspectos extramusicais, consciente ou inconscientemente. Por exemplo, imaginamos o que o interprete esta vestindo ou que tipo de pessoa escuta aquela (PENNA, 2002, p.18). Do valor social que se atribui à educação musical espera – se a oportunidade para o desenvolvimento de um pensamento crítico da realidade de cada um, onde o aluno é capaz de transformar uma postura de consumidor passivo do que lhe é imposto, pela mídia, tendo condições de agir de forma mais refletida sobre aquilo que ouve (HENTSCKHE, 1991, p.59). Outra função atribuída ao valor social para legitimar a educação musical em escolas e de que ele seria uma forma de preservar e perpetuar o que é produzido social e culturalmente, o que proporcionaria uma compreensão e valorização das nossas bases culturais (HENTSCKHE, 1991, p.59). Além disso, tais limites poderiam ser ultrapassados permitindo que, ao conhecer nossa própria cultura, posamos adentrar contextos distintos dos nossos (SWANWICK, 2003, p.36). Schafer (2001) acredita que estudar a música de outras culturas ajuda a nos colocar em uma perspectiva adequada (SCHAFER, 2001, p.296). Tais pensamentos geraram uma ramificação do valor social, denominado multicultural, considerado um dos mais recentes valores atribuídos à educação musical. Ao considerar a inexistência de sociedades mono culturais, já que, todos carregaram, de certa maneira, uma dificuldade de identificar nossas raízes (SWANWICK, 1988, p.25, apud HENTSCHKE 1991, p.59), não poderíamos mais ignorar este aspecto dentro da educação musical. Por isso, acredita – se na musica como um meio de propiciar uma melhor integração entre as mais diversas culturas nas escolas. Este valor se vincula diretamente com o valor social, pois ambos tendem a expandir o olhar do individuo sobre a diversidade cultural, muitas vezes, dentro da própria comunidade onde vive ou até mesmo dentro da escola, pois “morar no mesmo bairro ou frequentar a mesma escola não corresponde necessariamente a pertencer à mesma rede de relação social, econômica, simbólica, ideológica” (SANTOS, 1990, p.42). Tal diversidade está presente em espaços menores, como a sala de aula, onde os valores podem se confrontar em virtude do posicionamento cultural de cada um. Neste sentido a música favoreceria a integração e a socialização através das trocas de experiências que o educador terá que favorecer. 2.2 - VALOR PSICOLÓGICO A música estimula áreas do cérebro da criança que vão beneficiar o desenvolvimento de outras linguagens quando iniciada na Educação Infantil e nas series iniciais do fundamental. Portanto por atender a diferentes aspectos do desenvolvimento humano, a música principalmente na Educação Infantil tem como função ser um agente facilitador integrador do progresso Educacional. Houve um aumento considerável em pesquisas que procuram investigar e conhecer o aspecto cognitivo da experiência musical nas ultimas décadas (HENTSCHKE, 1991, p. 59; ILARI 2002 e 2003; PARIZZI, 2006). Através da aquisição destes novos conhecimentos, a cada dia que passa o valor psicológico vem exercendo uma influência maior na justificativa da presença da educação musical nas escolas. De acordo com Hentschke (1991, p.59), os primeiros interesses por esta área, datados do início do século XIX até meados da década de 1970, envolviam principalmente a observação e experimentação da maneira pela qual o individuo processa a música e quais seriam os possíveis efeitos nele exercidos. Após este período, as investigações voltam – se para a tentativa de conhecer as etapas do desenvolvimento musical nos indivíduos, e o acúmulo de conhecimento nesta área têm inspirado muitos educadores musicais a elaborarem currículos baseados em tais descobertas (BEYER, 1995, p.56). Hoje em dia sabe – se que a percepção e a cognição musical podem ser estimuladas já no primeiro ano de vida do bebê (ILARI, 2002, p.88). Parizzi, ao estudar o canto espontâneo da criança de zero a seis anos de idade, afirma que é possível notar uma previsibilidade da evolução do curso deste canto, assim como já se conhece o desenvolvimento cognitivo e musical da criança (PARIZZI, 2006, p.15). Tal dado permite reforçar a contribuição que um educador musical pode fazer ao desenvolvimento musical desde a mais tenra idade, principalmente através de atividades que estimulem o envolvimento da criança com a música, desde que com um bom planejamento. Desde o surgimento em 1983 da teoria das inteligências múltiplas, de Howard Gardner, que a partir da constatação da existência de várias áreas distintas de cognição no cérebro, sugeriu que a inteligência não é unitária, mas sim compartimentada por competências especificas (ILARI, 2003, p. 12), a música e seu estudo podem encontrar justificativa a partir do momento que este pesquisador estudou a inteligência musical. Tal inteligência corresponde à capacidade para perceber e classificar diferenças de sons, de nuances de intensidade, de andamento, de timbres, estilos, etc... Que podem ser manifestos não apenas na execução instrumental – como não raramente se associa – mas também através da composição e da apreciação de música. O surgimento dessa teoria ajuda a separar a inteligência musical do conceito de “talento”. Segundo Ilari (2003): A teoria de Gardner (1983) sugere que todos os seres “normais” (isto é, não portadores de doenças congênitas como autismo ou síndrome de Down) possuem todos os tipos de inteligência, todos abertos ao desenvolvimento. Ou seja, diferentemente do talento, a inteligência musical é um traço compartilhado e mutável, isto é, um traço que todos possuem em certo grau e que é passível de ser modificado (ILARI, 2003, p.12). Também encontramos estudos que procuram demonstrar o desenvolvimento que pode ocorrer em outros campos do conhecimento humano como decorrência de experiências musicais. Acredita – se que a prática musical estimule o desenvolvimento do cérebro da criança, auxiliando, além do aprendizado da música em si, também o desenvolvimento da afetividade e da socialização, na aquisição da linguagem, etc. (ILARI, 2003, p. 14). 2.3 - VALOR TRADICIONAL Para uma sociedade que não possui tradição no ensino musical escolar, a concepção acerca do que seria uma educação musical quase sempre se restringe à ideia da prática musical que ocorrem escolas especializadas, ou seja, de que ao desempenho musical em um determinado instrumento é tida como “referencia de realização musical” (FRANÇA e SWANWICK, 2002, p. 8). Segundo Hentschke (1991): Esta concepção parte de certos princípios que asseveram que a musica significa demonstrar habilidade em ao menos um instrumento, capacidade de compor de acordo com o sistema tonal e capacidade de discriminar elementos, estilos e compositores da música. O papel do educador musical neste caso restringe – se ao de dispensador de um sistema tradicional vigente. No entanto se tal valor for tomado como carro chefe de práticas da educação Musical, o mesmo pode encaminhar – nos a uma prática egocêntrica, ou seja, liminar o repertório musical do aluno à nossa cultura ocidental, ou mais especificamente a repertórios regionais (HENTSCHKE, 1991, p. 60). Portanto para a educação musical destinada à escola regular, o tipo de aprendizado mencionado acima nem sempre é o mais indicado, seja pelas próprias condições oferecidas pelo sistema (aulas com turmas com número grande de alunos, ausência de equipamentos tais como instrumentos musicais, além da carga horária insuficiente), seja pelo próprio objetivo da Educação Musical neste contexto (o de não formar músicos – instrumentistas, mas sim desenvolver a capacidade de compreensão da linguagem musical como discurso simbólico) (PENNA, 1991; FRANÇA; SWANWICK, 2002; SWANWICK, 2003). Neste sentido, França e Swanwick acreditam no que chama de “uma educação musical abrangente”, como aquela que vai além da concepção tradicional de ensino de música (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p. 8). Tais autores defendem que não só a performance, mas também que a composição e a apreciação devem constar de forma integrada e interativa à Educação Musical. Isto porque “embora diferentes em sua natureza psicológica, [as modalidades de composição, apreciação e performance] são indicadores da compreensão musical e as janelas através das quais ela pode ser investigada” (p.7). “A crença de que o fazer musical restringe – se apenas à performance instrumental pode reforçar a ideia, preconceituosa, de que a música é uma atividade reservada apenas para alguns indivíduos portadores de um merecimento “divino”, ou inspirado”. A prática instrumental requer determinadas habilidades motoras que são adquiridas tão somente através de muita prática e esforço ao longo de certo tempo de estudo. Contudo, como já mencionado, a prática instrumental não é a única maneira de adquirir conhecimento em musica e de demonstrar tal conhecimento. Para França e Swanwick, a “performance musical abrange todo e qualquer comportamento musical observável, desde o acompanhar de uma canção com palmas à apresentação formal de uma obra musical para a plateia” (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p. 14). Outro campo de desenvolvimento é o que lida com a afetividade humana. Muitas vezes menosprezado por nossa sociedade tecnicista, é nele que os efeitos da prática musical se mostram mais claros, independendo de pesquisas e experimentos. Todos nós que lidamos com crianças percebemos isso. O que tem mudado é que agora estes efeitos têm sido estudados cientificamente também. Em pesquisa realizada na Universidade de Toronto, Sandra Trehub (apud CAVALCANTE, 2004) descobriu algo que muitos pais e educadores já imaginavam: os bebês tendem a permanecerem mais calmos quando expostos a uma melodia serena e, dependendo da aceleração do andamento da música, ficam mais alerta. Isso ocorre também entre nossos avós que já sabiam que colocar um bebê do lado esquerdo, junto ao peito, o deixa mais calmo. A explicação científica é que nessa posição ele sente as batidas do coração de quem o está segurando, o que remete ao que ele ouvia ainda no útero, isto é, o coração da mãe. Além disso, a eficácia das canções de ninar é prova de que música e afeto se unem em uma mágica alquimia para a criança. Muitas vezes, mesmo já adultos, nossas melhores lembranças de situação de acolhimento e carinho dizem respeito às nossas memórias musicais. Vivências em grupos de professores que, a princípio, não apresentavam memórias de sua primeira infância, ao ouvirem certos acalantos, contudo, emocionaram-se e passaram a relatar situações acontecidas há muito tempo, depois confirmadas por suas mães. Por isso, a linguagem musical tem sido apontada como uma das áreas de conhecimento mais importantes a ser trabalhada na Educação Infantil, ao lado da linguagem oral e escrita, do movimento, das artes visuais, da matemática e das ciências humanas e naturais. Em países com mais tradição que o Brasil no campo da educação da criança pequena, a música recebe destaque nos currículos, como é o caso do Japão e dos países nórdicos. Nesses países, o educador tem, na sua graduação profissional, um espaço considerável dedicado à sua formação musical, inclusive com a prática de um instrumento, além do aprendizado de um grande número de canções. Este é, por sinal, um grande entrave para nós: o espaço destinado à música em grande parte dos currículos de formação de professores é ainda incipiente, quando existe. É preciso investir significativamente na formação estética (e musical, particularmente) de nossos professores, se realmente querem obter melhores resultados na educação básica. Ainda abordando os efeitos da música no campo afetivo, estudos recentes ampliam ainda mais nosso conhecimento a respeito: o campo de desenvolvimento que lida com a afetividade humana.
A MÚSICA COMO MEIO DE INTEGRAÇÃO DO SER Cantar é uma atividade que exige controle e uso total da respiração, proporcionando relaxamento e energização. Fregtman apud Gregori (1997 p. 89) comenta que: “O canto desenvolve a respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e, portanto, modifica a consciência do emissor”. A prática do relaxamento traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e mental. De acordo com Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o controle da mente e o uso da imaginação, dá descanso, ensina a eliminar as tensões e leva à expansão da nossa mente”. Cantar é uma atividade que exige controle e uso total da respiração, proporcionando relaxamento e energização. Fregtman apud Gregori (1997 p. 89) comenta que: “O canto desenvolve a respiração, aumenta a proporção de oxigênio que rega o cérebro e, portanto, modifica a consciência do emissor”. A prática do relaxamento traz muitos benefícios, contribuindo para a saúde física e mental. De acordo com Barreto e Silva (2004, p. 64): “O relaxamento propicia o controle da mente e o uso da imaginação, dá descanso, ensina a eliminar as tensões e leva à expansão da nossa mente” As atividades de musicalização e a prática do canto também trazem benefícios para a aprendizagem, por isso deveria ser mais explorada na escola. Bréscia (2003) afirma que cantar pode ser um excelente companheiro de aprendizagem, contribui com a socialização, na aprendizagem de conceitos e descoberta do mundo. Tanto no ensino das matérias quanto nos recreios cantar pode ser um veículo de compreensão, memorização ou expressão das emoções. Além disso, o canto também pode ser utilizado como instrumento para pessoas aprenderem a lidar com a agressividade. O relaxamento propiciado pela atividade de cantar também contribui com a aprendizagem. Barreto (2000, p. 109) observa que: “O relaxamento depende da concentração e por isso só já possui um grande alcance na educação de crianças dispersivas, na reeducação de crianças ditas hiperativas e na terapia de pessoas ansiosas.” Comenta ainda que crianças com problemas de adaptação geralmente apresentam respiração curta e pela boca, o que dificulta a atenção concentrada, já que esta depende do controle respiratório. E de grande benefício e provoca estímulos para crianças com dificuldades de aprendizagem e contribuem para a inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. As atividades de musicalização, por exemplo, servem como estímulo a realização e o controle de movimentos específicos, contribuem na organização do pensamento, e as atividades em grupo favorecem a cooperação e a comunicação. Além disso, a criança fica envolvida numa atividade cujo objetivo é ela mesma, onde o importante é o fazer, participar, não existe cobrança de rendimento, sua forma de expressão é respeitada, sua ação é valorizada, e através do sentimento de realização ela desenvolve a auto-estima. Sadie apud Bréscia ( 2003, p.50) afirma que: Crianças mentalmente deficientes e autistas geralmente reagem à música, quando tudo o mais falhou. A música é um veículo expressivo para o alívio da tensão emocional, superando dificuldades de fala e de linguagem. A terapia musical foi usada para melhorar a coordenação motora nos casos de paralisia cerebral e distrofia muscular. Também é usada para ensinar controle de respiração e da dicção nos casos em que existe distúrbio da fala. Já que a música comprovadamente pode trazer tantos benefícios para a saúde física e mental porque a escola não a utiliza mais? Incluí-la no cotidiano escolar certamente trará benefícios tanto pra professores quanto para alunos Comprovadamente a música pode trazer tantos benefícios para a saúde física e mental porque a escola não a utiliza mais? Incluí-la no cotidiano escolar certamente trará benefícios tanto pra professores quanto para alunos. Os educadores encontram nela mais um recurso, e os alunos se sentirão motivados, se desenvolvendo de forma lúdica e prazerosa. Como já foi comentado, a música ajuda a equilibrar as energias, desenvolve a criatividade, a memória, a concentração, autodisciplina, socialização, além de contribuir para a higiene mental, reduzindo a ansiedade e promovendo vínculos (BARRETO e SILVA, 2004). CONCLUSÃO O Sucesso de uma boa Educação Musical no contexto da Educação formal exige a compreensão sobre suas etapas, valores e funções, que devem ser os principais guias para o trabalho do educador musical. Saber aonde se quer e se pode chegar através da educação musical, bem como utilizar de maneira consciente os meios que se podem adotar para alcançar determinados objetivos são coisas que precisam estar claras a todos os educadores musicais. Para que haja maior clareza em relação a tudo isso, é extremamente importante refletir e planejar ações para que a educação musical não se torne apenas um elemento alegórico no currículo escolar. Devemos trabalhar para que seus valores sejam compreensíveis não só por músicos, mas pela sociedade em geral, incluindo diretores de escolas, pais, alunos e todos aqueles dispostos pela causa da educação. É preciso conhecer as potencialidades da música no desenvolvimento humano, desde o aspecto físico até o aspecto mental, explorando todos os níveis de compreensão da música enquanto linguagem. Conseguindo - se oferecer esse tipo de educação musical, estaremos dando importantes contribuições para que tenhamos, num futuro próximo, indivíduos mais capazes de agir de maneira crítica e consciente sobre o produto artístico de sua sociedade, e isso poderá se refletir em questões sociais, políticas e, sobretudo, aquelas intrinsecamente humanas. Por todas essas razões, a linguagem musical tem sido apontada como uma das áreas de conhecimentos mais importantes a serem trabalhadas na Educação Infantil, ao lado da linguagem oral, escrita, do movimento, das artes visuais, da matemática, das ciências humanas e naturais. Em países com mais tradição que o Brasil no campo da educação da criança pequena, a música recebe destaque nos currículos, como é o caso do Japão e dos países nórdicos. Nesses países, o educador tem, na sua graduação profissional, um espaço considerável dedicado à sua formação musical, inclusive com a prática de um instrumento, além do aprendizado de um grande número de canções. Este é, por sinal, um grande entrave para nós: o espaço destinado à música em grande parte dos currículos de formação de professores é ainda incipiente, quando existe. É preciso investir significativamente na formação estética (e musical, particularmente) de nossos professores, se realmente quisermos obter melhores resultados na educação básica.
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