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O Pensamento Filosófico Moderno

Por:   •  11/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.645 Palavras (7 Páginas)  •  222 Visualizações

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Questão 1 – Verificar no texto Didactica Magna, de J. A. Comenius ( notadamente, nos capítulos VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XXVIII, XXIX, e XXX) as ideias que caracterizam o pensamento filosófico moderno (retomando, portanto, o quadro elaborado pela própria classe).

Quando se fala de uma escola em que as crianças são respeitadas como seres humanos dotados de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, logo pensamos em concepções e práticas mais modernas de ensino. Também acreditamos que o direito de todas as pessoas à educação é um princípio que só surgiu há algumas dezenas de anos. De fato, essas ideias se consagraram apenas no século XX e, assim mesmo, não em todos os lugares do mundo. Contudo, elas já eram defendidas em pleno século XVII por Comenius (1592-1670), o pensador que é considerado o primeiro grande nome da moderna história da educação.

No livro Didactica Magna, o pensador realiza uma racionalização de todas as ações educativas, indo da teoria didática até as questões do cotidiano da sala de aula. A prática escolar, para ele, deveria imitar os processos da natureza. Nas relações entre professor e aluno, seriam consideradas as possibilidades e os interesses da criança. O professor passaria a ser visto como um profissional, não um missionário, e seria bem remunerado por isso.

Na abordagem comeniana, observa-se uma constante preocupação com o aprender fazendo, ou seja, era necessário que o aluno tivesse um contato direto com a natureza. Daí a organização de visitas ao campo para que as crianças e jovens pudessem, através dos sentidos, aprender de maneira diferente do que constava nos livros apenas:

...tanto quanto possível, a tirarem o conhecimento não dos livros, mas do céu, da terra, dos carvalhos e das faias, isto é, é preciso ensiná-los a conhecer e a investigar as coisas em si mesmas e não por intermédio das observações e testemunhos alheios. Isso significará trilhar o caminho percorrido pelos antigos sábios, haurindo o conhecimento das coisas tão-somente em seu próprio arquétipo. Seja, pois, determinado que: I. Tudo deve ser deduzido dos princípios imutáveis das coisas. II. Nada deve ser ensinado por autoridade pura e simples, mas por demonstrações sensíveis e racionais. III. Nada deve ser ensinado apenas pelo método analítico, mas pelo sintético. (COMENIUS, 2006, pg. 192-193)

O modelo mais perfeito que Comenius encontrou para moldar todos os passos de sua didática foi a natureza. Ela torna-se o guia ideal a ser reproduzido por todo aquele que se propõe a ensinar. Mas como o ensino não é algo natural, e sim artificial, só pode ser ministrado por uma arte que repita a natureza. 

Comenius ousou ser o principal teórico de um modelo de escola que deveria ensinar "tudo a todos" e defendia que o cultivo dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento racional. Para o desenvolvimento da criança eram necessários materiais diversos que seriam internalizados, tornando assim a experiência mais concreta e a possibilidade do brincar e do aprender pelos sentidos.

Esse método racional e preciso de educação pode ser comparado ao cultivo dos pomares. Isto porque as crianças de seis anos, bem preparadas pelos pais e pelas amas, são semelhantes às arvorezinhas plantadas com perícia, que têm raízes bem desenvolvidas e já começam a emitir os primeiros ramos. As crianças de doze anos são semelhantes às árvores que já têm ramos e gemas: o que produzirão ainda não está claro, mas logo estará. Os adolescentes de dezoito anos, que já sabem as línguas e as várias artes, são semelhantes às árvores floridas, que oferecem aprazível espetáculo e odor agradável, prometendo frutos suculentos. Finalmente, os jovens de vinte e quatro anos ou vinte e cinco anos, completamente formados pelos estudos universitários, parecem-se a árvores carregadas de frutos, que já podem ser colhidos de vários modos. (COMENIUS, 2006, pg.323)

A razão era a grande responsável para guiar os impulsos humanos, pois somente a sabedoria poderia levar os alunos a julgarem as coisas pelo seu justo valor. Ao contrário de uma educação contemplativa e de recitações que prevaleceu durante o período medieval, Comenius enfatizava a necessidade do educando interiorizar os valores morais e, além disso, exercer uma espécie de autovigilância sobre o seu próprio comportamento:

Que os homens aprendam a temperança para que se habituem a observá- la sempre, durante todo o período de sua educação, no comer e no beber, no sono e na vigília, no trabalho e na diversão no falar e no calar. Esta regra de ouro deverá ser lembrada aos jovens, “Nunca em excesso”: é preciso parar sempre, antes da saciedade e do tédio. (COMENIUS, 2006, pg. 264-265)

De Francis Bacon, Comenius adotou o método empírico de explorar o mundo, em contraposição às verdades impostas pelo ensino medieval. Pela experimentação, ele acreditava que todos poderiam vir a enxergar a harmonia do universo sob o caos aparente. Ele queria mudar a escola com a didática e a sociedade com a educação.

Seu método de aprendizagem também previa um ensino sequencial, sem lacunas ou interrupções. Havia uma nítida preocupação com o controle do tempo. O mestre deveria programar muito bem todas as atividades, para que não sobrasse espaço para o ócio. A ociosidade deveria ser combatida de todas as formas.

Realmente, é pela corrupção da natureza que os males medram com maior facilidade e vigor; por isso, é preciso lançar mão de todos os meios para afastar os jovens das ocasiões em que podem ser corrompidos... e o ócio, para que os espíritos não aprendam a agir mal por não terem o que fazer e não se tornem preguiçosos. Por isso, é importante mantê-los sempre ocupados, em coisas sérias ou divertidas, e nunca os deixar ociosos. (COMENIUS, 2006, pg. 269)

        A didática comeniana tem como ponto de partida e fundamento imediato, a natureza, mas também o método da ciência, a força das ideias dos interlocutores e o método de trabalho. Esta é uma obra que trata de forma clara e objetiva a discussão sobre o papel do professor e questão técnica, pedagógicas e políticas.

Pensando na realidade brasileira, podemos dizer que nosso sistema educacional ainda não foi capaz de criar uma escola plenamente democrática, não só no acesso, mas também na qualidade da educação. Industrializamo-nos rapidamente, superamos problemas econômicos que pareciam insolúveis, mas temos uma enorme dívida com a educação que vem de séculos e até agora, apesar de várias reformas. Por tudo isso, e tantos outros problemas, podemos verificar que sequer a proposta básica da Didática Magna foi ainda plenamente consolidada entre nós, ou seja, “a arte de ensinar tudo a todos”.

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