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OS GÊNEROS ORAIS E AS HABILIDADES FONOLÓGICAS: PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS.

Por:   •  20/1/2020  •  Artigo  •  6.161 Palavras (25 Páginas)  •  217 Visualizações

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OS GÊNEROS ORAIS E AS HABILIDADES FONOLÓGICAS: PERSPECTIVAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS.

Vandilma Salvador Cabral

Edeil Reis do Espírito Santo

Secretaria Municipal de Educação de Senhor do Bonfim

Edna Lima

Secretaria Municipal de Educação de Miguel Calmon

Resumo

O presente artigo reúne o conhecimento teórico-prático acerca dos gêneros da tradição oral e da sua efetiva contribuição para a percepção e compreensão da relação fala/escrita durante o processo de alfabetização. Ao longo do texto, os autores se valem de experiências, adquiridas por meio de ações interventivo-mediadoras no Ciclo de Alfabetização e de fundamentos teóricos sobre gêneros orais e traçam um diálogo em que evidenciam o papel da sonoridade, das atividades extra-linguísticas, que envolvem movimento, ritmo, gestualidade, afetividade e toda uma gama de procedimentos que englobam ações sociocognitivas numa abordagem ludopedagógica desses textos e, nesse emaranhado de encaminhamentos, desenvolvem ações de letramento e de compreensão dos “segredos” que regem o Sistema de Escrita Alfabética – SEA.

Palavras-chave: Gêneros da Tradição Oral. Sonoridade. Consciência Fonológica.

  1. Considerações preliminares

Desde a publicação dos PCN no final da década de 1990 as diversas propostas curriculares propõem o ensino das propriedades e dos usos sociais dos gêneros textuais. Os gêneros orais estão presentes na vida de qualquer cidadão desde que o mesmo esteja em interação com o mundo e as pessoas. Podemos perceber esta presença nos telejornais, nas entrevistas de empregos, nas conversas, nas palestras, nos seminários, nos jogos e brincadeiras infantis, enfim no contexto de amigos, de trabalho, de família.

Marcuschi (2006, p. 24) afirma que os gêneros são “rotinas sociais de nosso dia-a-dia”, e, logo, “formas culturais e cognitivas de ação social”. O Trabalho com gêneros orais garante além das formas linguísticas, os valores, a cultura e o discurso que circulam nos espaços sociais, posto que os gêneros da tradição oral refletem todo um fazer sociocultural e questões muito simbólicas que fazem parte de um processo de ensino e de aprendizagem da cultura com caráter formador e educativo.

Na concepção de Dolz, Schneuwly e Haller (2010), os gêneros se constituem mega instrumentos de ensino, são parte dos processos de aprendizagem do falar e do escrever, são, portanto, suportes que criam a possibilidade de comunicação e de aprendizagem. Encarados sob essa perspectiva, os gêneros possuem, na compreensão do autor, uma “configuração estabilizada de vários subsistemas semióticos (sobretudo linguísticos, mas também paralinguísticos)” que favorecem ao desenvolvimento das capacidades de linguagem, o que produz um agir comunicativo de forma mais efetiva (DOLZ; SCHNEUWLY; HALLER, 2010, p. 25).

  1.  Gêneros Orais - definições e características

A presença marcante dos gêneros orais nas práticas pedagógicas da Educação Infantil e no Ciclo de Alfabetização talvez tenha como motivos principais o fato de esses textos serem curtos em sua estrutura e, por isso, facilmente memorizáveis, bem como serem lúdicos e divertidos por sua sonoridade e seu caráter “non sense”. Por sua estrutura simples e por seu tom de jogo oral, de ludicidade linguística e, sobremaneira, por serem ricos em rimas, aliterações, divisões silábicas, etc.

Os gêneros textuais orais, tais como parlendas, travalínguas, quadras, poemas e poemetos, adivinhas, cantigas folclóricas e de roda, dentre outros, são fortes bases auxiliares do/a professor/a no processo de apropriação e de reflexão do Sistema de Escrita Alfabética (SEA) pelas crianças desde a Educação Pré-escolar.

Esses gêneros têm o poder de criar um vínculo prazeroso das crianças com a leitura e a escrita, já que são textos jocosos, cuja despretensão lógica e a transformação da língua em algo cheio de desafios e de gracejos, como no caso dos trava línguas e das parlendas é o principal ingrediente. Esses textos, cheios de magia infantil, criam condições de reflexão fonológicas e, por isso, infindas possibilidades de refletir sobre a língua em sua estrutura sonora, semântica e composicional.

Segundo Arapiraca e Araújo (2011, p.13),

Os textos da tradição oral são, entretanto, antes de mais nada, objetos de brincadeiras e jogos orais, não escritos. Brincar com eles, sabê-los, usá-los é usar a linguagem. Estar na linguagem. E isso é já de importância cabal. Em sua essência, circulam através da memória e da voz humana, muitos deles ligados a brincadeiras corporais, por isso é muito importante que essa dimensão não seja perdida, ao defendermos sua utilização para o aprendizado da leitura e da escrita.

Os gêneros textuais orais ou textos que se sabem de cor mais usados são: as parlendas, os trava-línguas, as cantigas, quadras, acalantos, textos que se tornam significativos para as crianças, pois falam do seu mundo simbólico, se prestam à seriedade da sua necessidade lúdica.Os gêneros orais têm um papel significativo no exercício da aprendizagem especialmente na Educação Infantil e na alfabetização justamente porque problematizam de modo muito espontâneo as línguas oral e escrita, provocando uma reflexão natural sobre suas semelhanças e distinções. Eis porque esses textos precisam compor o universo da sala de aula, como nos alertam Ferreira e Ramos (2010):

Dessa forma, é imprescindível a utilização dos gêneros orais na sala de alfabetização, pois esses gêneros, posteriormente, facilitarão à criança trabalhar de maneira articulada a comunicação em seminários, apresentações e saber expor seus pontos de vista em relação a determinado conteúdo. Além disso, os gêneros orais estão sempre interligados aos gêneros escritos, por isso, no momento de aprendizagem, não existe o trabalho de um único gênero, mas dos dois, partindo-se do gênero oral para as práticas escritas (gênero escrito). (FERREIRA; RAMOS, 2010, p.58). 

Dada a sua riqueza e a sua diversidade, esses gêneros, embora estejam imbricados, requerem algumas definições e especificações:

  1. Parlendas

As parlendas sofrem modificações de um lugar para outro, já que não possuem autor, pois se desenvolvem no seio da sabedoria popular, nas suas muitas tipologias e refletem parte da riqueza da cultura oral de um povo. Haja vista ser um gênero inerente à oralidade, serve como incentivo à iniciação da leitura pelas crianças, uma vez que, por serem textos que se sabe de cor, os pequenos se sentem mais seguros em iniciar suas aventuras nas atividades leitoras por meio deles, pois permitem de modo mais efetivo o desenvolvimento de estratégias não convencionais de leitura.

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