Os Professores no Ensino Superior Brasileiro
Por: Jéfte Batista • 29/10/2019 • Resenha • 1.307 Palavras (6 Páginas) • 346 Visualizações
Universidade Federal da Bahia
Faculdade de Educação
EDCA12 - Didática e Práxis Pedagógica II
Professora: Jamile Borges
Estudante: Jéfte Batista
RESENHA
Obra resenhada: LOCATELLI, Cleomar. Os professores no ensino superior brasileiro: transformações do trabalho docente na última década. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 98, n. 248, p. 77–93, jan. 2017. Disponível em:
Locatelli tem como ponto de partida um entendimento de que a educação superior no Brasil tem vivenciado um grande processo de expansão, se tornando enorme campo de investimentos privado, cujo as possibilidades e a rentabilidade tem se mostrado extremamente satisfatórios para os grandes conglomerados de educação. Desse modo, a educação superior se configura atualmente como um negócio altamente lucrativo, com uma alta taxa de investimentos. Essa transformação vem associada com um deslocamento de uma formação voltada para o interesse público para uma formação voltada em atender os anseios e interesses do mercado. No contexto local, essas mudanças se consolidam com a reforma do estado e da administração pública no governo Fernando Henrique Cardoso. Todo esse contexto, trouxe consigo questões importantes que influem diretamente no trabalho docente no ensino superior, dentre as quais podemos citar a perda da condição de exercício da capacidade crítica e intelectual, uma vez que o professor é voltado para formar profissionais para o mercado e a ser produtivo para fins avaliativos.
Na tentativa de buscar entender melhor as transformações no ensino superior a nível nacional e internacional, o autor argumenta que é necessário compreender as dinâmicas e processos que estão embarcadas no seio do capitalismo contemporâneo, com ênfase na chamada reestruturação produtiva. O autor cita o sociólogo português Boaventura de Souza Santos, quando ele afirma que o trabalho docente na atualidade se insere em meio a uma mudança na estrutura produtiva, ideias e valores e também a uma série de reformas de caráter neoliberal que visam redefinir o papel do estado com a educação. De maneira resumida pode-se elencar alguns fatores característicos da reestruturação produtiva: a instabilidade do local de trabalho; o aumento e a expansividade da carga de trabalho, com o advento das TICs; o espirito de concorrência e vigilância entre os trabalhadores; a cultura do empreendedorismo; a busca incessante atribuída aos trabalhadores por qualificação; e a flexibilização e precarização do trabalho.
Essa nova natureza do trabalho engendra uma série de consequências na educação e no trabalho docente. Com a educação sendo cada vez mais dotada de sentido mercadológico, sua própria oferta é condicionada a partir de uma variável de classe social e de divisão social do trabalho. As camadas mais pobres da sociedade possuem acesso as séries iniciais da educação básica e do ensino técnico, enquanto as camadas mais favorecidas economicamente podem escolher o itinerário formativo que lhe for mais conveniente. O fenômeno da reestruturação produtiva se manifesta também nos conteúdos ensinados na escola, estes com caráter cada vez mais funcionalistas e utilitários para o mercado de trabalho. Já no que se refere ao impacto direto nas instituições de ensino, na visão dos autores há um movimento crescente nas reformas educacionais em tornar os ambientes educacionais com características empresariais do contexto pós-fordista, baseado no discurso da gestão técnica e eficiente, utilizando para tal fim o instrumento dotado de intencionalidades políticas, que é a regulação estatal.
Diante de tais circunstâncias, Locatelli faz questão de ressaltar que o perfil mais impactado nesse contexto é o perfil dos professores das instituições privadas, que diante da expansão do ensino superior brasileiro e consequentemente das instituições de ensino constituem um número razoável de trabalhadores. Os professores da rede privada de educação superior estão imersos em diversos problemas no exercício de seu fazer docente: 1) são mal remunerados financeiramente; 2) possuem cargas horárias altíssimas; 3) estão desprovidos de direitos e garantias sociais; 4) enfrentam uma grande instabilidade e rotatividade laboral; 5) gozam de pouca ou nenhuma autonomia política, ideológica e intelectual, uma vez que estão submetidas aos interesses do empregador e dos “clientes”; 6) precisam se transformar em “animados de plateia”, para que sua aula seja atraente e vendável. Todos esses problemas interferem diretamente nas condições do exercício docente, na saúde desses trabalhadores e consequentemente na qualidade do ensino oferecido. Desta forma, o autor é contundente ao cravar que a lógica do mercado é diametralmente oposta a prática pedagógica.
A última seção do trabalho nos traz alguns dados sobre a composição do quadro docente no ensino superior do Brasil durante os anos de 2003 a 2013. Os dados foram obtidos pelo autor por meio do Censo do Ensino Superior, do Ministério da Educação. O primeiro dado trazido no texto diz respeito ao aumento de 36,62% do número de professores atuando no ensino superior no intervalo de tempo entre 2003 a 2013. Ainda sobre esse dado, o autor especifica que o regime de trabalho sofreu mudanças significativas, em especial com diminuição do número de professores horistas e o aumento de contratos de tempo integral ao longo dos anos. Os dados também revelam outro detalhe interessante que é sobre a qualificação acadêmica dos docentes do ensino superior, que outrora continham muitos professores apenas com graduação e hoje em sua maioria com pós-graduação em seus diversos níveis, sendo baixo o número de professores graduados.
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