Os desafios para o diagnóstico do Autismo
Por: Karina Piva • 6/11/2015 • Artigo • 3.158 Palavras (13 Páginas) • 486 Visualizações
AUTISMO INFANTIL: O DESAFIO DO DIAGNÓSTICO
Penteado, Rebeca Soares
Neuropsicopedagogia e Educação Especial
RESUMO
Este artigo tem como objetivo conceituar e analisar através de pesquisa bibliográfica a importância do diagnóstico assertivo do Autismo Infantil bem com analisar as dificuldades encontradas para um diagnóstico do distúrbio que está classificado entre os transtornos invasivos do desenvolvimento assim como a Síndrome de Asperger – seu principal diagnóstico diferencial. Um diagnóstico precoce e preciso do Autismo permite a orientação da família de forma a promover a compreensão das limitações e potencialidades da criança e permite que ela seja dirigida a serviços que propiciam sua inclusão e o melhoramento dos déficits o mais cedo possível , e desta forma, um diagnóstico equivocada pode prejudicar o desenvolvimento do indivíduo. Embora, os critérios diagnósticos do Autismo sejam preconizados pelo Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria DSM-10 (APA, 1995) há pelo menos 96 quadros clínicos diferentes considerando diferentes enfoques teóricos e graus de acometimento.
Palavras chave: autismo, diagnóstico, síndrome de asperger, transtornos invasivos do desenvolvimento, distúrbio sócio/afetivo.
ABSTRACT
This article aims to conceptualize and analyze through literature the importance of assertive diagnosis of Autism and to analyze the difficulties encountered for a diagnosis of the disorder that is ranked among the pervasive developmental disorders like Asperger's syndrome - their main diagnosis differential. An early and accurate diagnosis of autism allows the orientation of the family in order to promote understanding of the limitations and the child's potential and allows it to be directed to services that promote their inclusion and improving the deficits as soon as possible, and thus, one wrong diagnosis can harm the development of the individual. Although, autism diagnostic criteria are recommended by the Diagnostic and Statistical Manual of the American Psychiatric Association's DSM-10 (APA, 1995) for at least 96 different clinical situations considering different theoretical approaches and degrees of involvement.
Keywords: autism, diagnosis, Asperger syndrome, pervasive developmental disorders, social / emotional disorder.
INTRODUÇÃO
O autismo infantil ou distúrbio autístico do contato afetivo é uma severa desordem da personalidade, que se manifesta na infância precoce descrito pela primeira vez por Leo Kanner, em 1943, com base nas características cognitivas de 11 onze crianças que apresentavam uma tríade de prejuízos que, até a atualidade, norteiam o diagnóstico do transtorno: interação social, comunicação e interesses restritivos e repetitivos (COSTA E NUNESMAIA, 1998; BOSA E CALLIAS, 2000).
A síndrome que também já foi denominada de esquizofrenia infantil passou a ser elencada entre os transtornos invasivos do desenvolvimento (TIDs) segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IVTM) da Associação Americana de Psiquiatria e se caracteriza “por severas deficiências e prejuízo invasivo em múltiplas áreas do desenvolvimento, incluindo perdas na interação social recíproca e na comunicação, apresentando comportamentos, interesses e atividades estereotipadas” (COSTA E NUNESMAIA, 1998).
Tal transtorno afeta aproximadamente 1 a 5 crianças em cada 10.000 nascimentos com predominância no sexo masculino, sendo a prevalência quatro vezes maior do que no sexo masculino. Estudos epidemiológicos apontam que quando diferentes faixas de QI são examinadas, tem-se um predomínio ainda maior de indivíduos do sexo masculino, chegando-se a razões de 15:1, contrariamente a quando são avaliadas populações com QI superior a 50. No entanto, as meninas são mais severamente afetadas devido à tendência de meninas com autismo apresentarem QI mais baixo que os meninos (BOSA E CALLIAS, 2000; ASSUMPÇÃO JÚNIOR & PIMENTEL, 2000).
O diagnóstico do autismo infantil é baseado principalmente no quadro clínico do paciente, ou seja, na análise de seu desenvolvimento cognitivo e, não há marcador biológico que o caracterize. Desta forma, o diagnóstico ocorre, mais frequentemente, ao redor dos 3 anos de idade embora possa ser bem estabelecido ao redor dos 18 meses de idade (COSTA E NUNESMAIA, 1998; ASSUMPÇÃO JÚNIOR & PIMENTEL, 2000).
Isto ocorre porque o conceito de autismo ainda é nos dias de hoje, de contorno bastante impreciso, imprecisão esta que pode se dar em diferentes níveis ou, quando analisadas grandes amostras de portadores verifica-se uma distribuição bimodal, com um grupo de crianças apresentando graves problemas já nos primeiros anos de vida, enquanto o outro apresenta essas dificuldades somente após um período de desenvolvimento aparentemente normal e, ainda, quanto às características comportamentais, podemos encontrar, diagnosticadas como autistas, crianças que falam e outras que não falam; crianças com pouco ou nenhum tipo de contato social e outras com um tipo bizarro de relacionamento; crianças com deficiência mental e outras com um nível de desenvolvimento adequado para sua idade (ASSUMPÇÃO JÚNIOR & PIMENTEL, 2000, LAMPREIA, 2004).
A imprecisão do conceito de autismo está refletida no Manual Estatístico e Diagnóstico da Associação Americana de Psiquiatria DSM-10 (APA, 1995) que descreve pelo menos 96 quadros clínicos diferentes que devem levar em conta dois critérios de interação social, um critério de comunicação e um de padrões restritos e repetitivos combinados para definir o diagnóstico. Além disso, diferentes enfoques teóricos classificam o transtorno ora como um problema afetivo/social, ora como um problema cognitivo (LAMPREIA, 2004).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As técnicas diagnósticas do autismo são recentes e começaram a ser desenvolvidas em meados do último século. Antes disso, as crianças portadoras da síndrome eram fadadas ao isolamento da sociedade e colocadas no grande grupo de deficientes mentais (KUPFER,1999).
Kanner, em seus estudos, descreve o autismo predominantemente, ora como um distúrbio social/afetivo, ora como um distúrbio cognitivo. O que justifica os dois enfoques que predominam até os dias de hoje, o cognitivista e o desenvolvimentista (KUPFER,1999; LAMPREIA, 2004).
Os conceitos que norteiam o diagnóstico da patologia se divide em três fases: na primeira fase que se refere à formulação inicial de Kanner, o autismo é visto como um distúrbio de contato afetivo, onde há o autoisolamento extremo e a insistência obsessiva na preservação da rotina, que se manifestam nos dois primeiros anos de vida. Porém, o desligamento de relações humanas, antes dos 12 meses de idade aparece desde o início de sua pesquisa em 1943. Desta forma, as crianças autistas eram incapazes de estabelecer relações; as que tinham linguagem não a usavam para comunicar-se; possuíam uma excelente capacidade de memorização decorada, reagiam com horror a ruídos fortes ou objetos em movimento, tendiam à repetição, mas eram dotadas de boas potencialidades cognitivas (KUPFER,1999; LAMPREIA, 2004).
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