Paulo Frei - Primeiras Palavras
Por: Isabella Thereza • 20/11/2018 • Resenha • 4.140 Palavras (17 Páginas) • 755 Visualizações
Pedagogia da esperança
- A educação é uma prática política tanto quanto qualquer prática política é pedagógica. Não há educação neutra. Toda educação é um ato político. Assim, sendo, os educadores necessitam construir conhecimentos com seus alunos tendo como horizonte um projeto político de sociedade. Os professores, são, portanto, profissionais da pedagogia da política, da pedagogia da esperança.
- Não leva em consideração os conhecimentos e a cultura dos educadores. Respeitando-se a linguagem, a cultura e a história de vida dos educandos pode-se levá-los a tomar consciência da realidade que os cerca, discutindo-a criticamente. Conteúdos, portanto, jamais poderão ser desvinculados da vida.
- A base da pedagogia de Paulo Freire é o diálogo libertador e não o monólogo opressivo do educador sobre o educando. Na relação dialógica estabelecida entre o educador e o educando faz-se com que este aprenda a aprender.
- A realidade vivida é a base para qualquer construção de conhecimento. Respeita-se o educando não o excluindo da sua cultura, fazendo-o de mero depositário da cultura dominante. Ao se descobrir como produtor de cultura, os homens se vêem como sujeitos e não como objetos da aprendizagem.
- A pedagogia da esperança é um reencontro com a pedagogia do oprimido.
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Primeiras palavras:
Nas primeiras palavras Paulo Freire faz um convite para que o leitor crítico interfira no seu texto pra incorporar novos elementos na análise. E ao justificar a retomada de temas que ele já havia analisado nas obras anteriores, ele explica, inclusive de forma coerente com a sua pedagogia, que o que ele faz não é apenas repetir o que já havia escrito. Porque o seu próprio pensamento se transformou, as suas ideias se desenvolveram no decorrer dos anos e isso o levou a rever as suas reflexões sob novos ângulos.
Ou seja, ele deixou explícita a sua consciência de que todo conhecimento é inacabado, no sentido de que é um processo que se desenvolve continuamente, incorporando novas referências e jamais deixando de questionar, sobretudo a si mesmo. Isso tem a ver com uma noção freireana importante, que parte do princípio de que o próprio ser humano é um projeto ainda inconcluso.
E a perspectiva de Paulo Freire é que se nós participamos da humanidade, com a nossa inteligência e com a nossa sensibilidade, relacionando os conhecimentos com o mundo, é assim que nos humanizamos.
Mas se a gente apenas se adapta ao mundo, nós estamos desperdiçando a oportunidade de nos humanizarmos. De participar do mundo. A noção de consciência ingênua, ou consciência mágica, e a conquista da consciência crítica pela educação é outro princípio fundamental da pedagogia da autonomia.
A consciência mágica é aquela que atribui um poder superior ao conhecimento, às coisas e às relações, de modo que a pessoa se sente necessariamente dominada e subjugada por uma força que ela não se sente capaz de compreender, e muito menos de interferir. Por isso, a pessoa simplesmente se rende a alguma autoridade que se anuncia como detentora do saber, como se o conhecimento fosse uma propriedade inabalável, inatingível, inquestionável, restando à pessoa aceitar a realidade, se adaptar e se submeter àquele modelo de educação autoritário e desumanizador que mencionamos no vídeo anterior.
Já a consciência crítica é aquela que parte do princípio de que os conhecimentos, a cultura e a história são produtos humanos e se transformam permanentemente a partir da nossa ação sobre o mundo. E é aí que compreendemos, mais uma vez, o sentido de humanização da pedagogia da autonomia. E assim ele reafirma a sua crítica àquele modelo escolar regido pela ideologia do mercado, que para ele, está focado em treinar alunos para que ele se adaptem às
regras que restringem as suas potencialidades.
E é aí que compreendemos, mais uma vez, o sentido de humanização da pedagogia da autonomia. E assim ele reafirma a sua crítica àquele modelo escolar regido pela ideologia do mercado, que para ele, está focado em treinar alunos para que ele se adaptem às regras que restringem as suas potencialidades. Aquele modelo que, no lugar do diálogo, ensina a repetição de um slogan.
Toda a educação é política.
Não foi Paulo Freire quem inventou que a educação tem que ser ideológica. Não é ele quem prega que a educação tem que ser política. Ele simplesmente constatou que não há neutralidade na educação, e que toda prática de ensino, sobretudo aquela que se diz neutra, está carregada de ideologia.
Desde o momento da escolha dos conteúdos do currículo, da ênfase nisso e não naquilo e sobretudo desde o estabelecimento do perfil que a escola deseja para o seu aluno, um perfil que é registrado naquilo que, não por acaso, se chama projeto político-pedagógico da escola, que toda escola tem, e muitas vezes com uma coisa no papel e outra coisa na prática, o fato é que todo ensino está necessariamente carregado de ideologia, às vezes de forma explícita, mas na maioria das vezes de forma oculta.
Quando a gente pega um conteúdo de qualquer disciplina, é interessante fazer as seguintes perguntas: O que a escola está ensinando? Por quê? Para que fim? Com que objetivo? Qual o sentido em estudar isso, mas não aquilo? Se há tantos conhecimentos no mundo, e nem tudo cabe no currículo, quais os critérios que fizeram com que isso aparecesse e aquilo não? Quais são os valores incorporados nos livros didáticos? Os alunos são incentivados a fazer o quê com os conhecimentos escolares? Ou são incentivados a não fazer nada?
Todo projeto político-pedagógico de qualquer escola é permeado por uma visão de mundo, e portanto, por uma escolha política que privilegia um determinado conjunto de saberes, que necessariamente expressa um determinado conjunto de crenças e valores.
Quando a escola é democrática, gestores, professores, alunos e as suas famílias participam ativamente da redação e da revisão do projeto político-pedagógico.
Que formação queremos para os nossos filhos?
A comunidade escolar é que decide.
Mas quando a gestão da escola é autoritária, esse documento é redigido unicamente pelos chamados especialistas, que sob o discurso da neutralidade técnica, acabam impondo os seus próprios valores. Por isso é prudente desconfiar de quem prega “neutralidade” no ensino, porque certamente essa pessoa está apenas tentando esconder a sua posição ideológica a favor de alguma coisa e contra alguma coisa, ou melhor, a favor de alguns e contra outros.
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