Pinoquio as avessas
Por: RicardoBLyrio • 5/10/2015 • Resenha • 1.618 Palavras (7 Páginas) • 349 Visualizações
Introdução
Li as duas releituras do clássico Pinóquio do autor italiano Carlo Collodi, tanto a de 2005, quanto a de 2010 com ilustrações de Maurício de Sousa, excelentes, recomendo as releituras, os direcionamentos e os trabalhos a serem feitos tendo ambos como base, para pais, responsáveis, filhos, alunos e professores, principalmente a mais atual, pois as ilustrações ajudam no trabalho. É emocionante comentar sobre o autor, Rubem Alves, sua biografia, fala por si e seu legado o coloca na categoria de imortal, um autor ímpar, insubstituível, guardo seus livros como herança. Seria inválido pensarmos em qualquer tipo de transformação nas escolas sem nos preocuparmos com a formação dos professores, quero dizer que quando nos assumimos como professores temos que ter preparo e estarmos preparados para situações como falta de caráter, violência ou preconceito no cotidiano escolar, para que tenhamos a possibilidade e a lucidez de discutir e até de reverter a negação ao que é diferente a partir do que entendemos como compreensão, ética e solidariedade. Precisamos ficar atentos. Sair da zona de conforto, aplicar o conteúdo dos PCN’s, utilizar os temas transversais e trazer a comunidade para a escola, juntamente com os pais e responsáveis.
Desenvolvimento
O livro, Pinóquio às avessas de Rubem Alves, conta a história de Felipe, uma criança muito esperta e curiosa, que adora perguntar, mas quando pergunta algo a seus pais, estes sempre dizem que na escola ele receberá a resposta para todas suas perguntas e não respondem as indagações do filho, deixando a cargo da escola a sua responsabilidade de pais e responsáveis. Essa postura impede a construção do entendimento do mundo pela criança e a deixa a parte nessa construção, é comum os adultos não responderem às questões desconhecidas pelas crianças... E, como não bastasse, transferem a responsabilidade para a escola, pois quando não sabiam das respostas, respondiam, conforme a página 16: “Na escola, você aprenderá. Felipe dormia feliz, pensando que a escola deve ser um lugar maravilhoso! Lá os professores responderão às suas perguntas.”
Interessante no livro é que os pais de Felipe sonham com o futuro brilhante do filho, mas não formavam a base no presente. Felipe desde sua infância, vivência suas expectativas de criança com relação à escola ser destruída, quando descobre que a vida dentro da escola não é como ele sempre sonhou, colocando em conflito o que os pais disseram e o que vivência na escola. Lá tem regras e horários para tudo e muitas vezes os questionamentos não são respondidos, ou seja, não existe parceria entre escola x pais x alunos, que deixam de ser os sujeitos da ação, sendo desrespeitado nos seus direitos.
A história do Pinóquio ensina que as crianças nascem de pau e, só depois de passarem pela escola, viram crianças de verdade. Se elas não passarem pela escola, correm o risco de se tornar jumentinhos, com rabo e orelhas, de burro. É com essa referência base que essa história contada às avessas, que Rubem Alves nos presenteia com uma leitura poética e prazerosa e que nos leva a refletir profundamente questões já tão debatidas, mas ainda atuais, em busca de mudanças: a importância da contribuição da educação informal dos pais para a transformação da criança para a vida. A proposta de educação das escolas e dos professores, no modelo de formatação, com o foco apenas para o mercado de trabalho (formar profissionais rapidamente), a insistência dos professores em praticar um ensino conteudista, descontextualizado, sem significado para a criança e sua vida, mas que garante a profissionalização, e, por fim, o processo de alienação da criança-aluno em adulto-profissional com sucesso, mas infeliz, por ter tido seus sonhos e desejos tolhidos, reprimidos, sem respostas e sem realização. Às avessas, porque a escola apresenta uma proposta de ensino de formação para a vida e termina por praticar uma educação formatada.
No livro original, Pinóquio era um boneco de madeira que sonhava em virar gente, na releitura, a história vai de desencontro com a outra. Felipe é um menino de verdade que com o tempo acaba se transformando em madeira, o personagem não se transforma em um boneco, mas acaba agindo como um, pois segue a vontade dos outros e não busca os próprios sonhos pois não tem objetivos, toda a expectativa criada pelos pais em relação ao seu futuro estão pautadas apenas em seus desejos, que eles transformam em planos, mas não comunicam ao primeiro interessado: o filho. Por outro lado, a criança, por desconhecer os sonhos e planos de seus pais quanto ao seu futuro, vive intensamente o presente, na perspectiva de construir seu futuro através da curiosidade, que lhe é nata, para a aprendizagem do mundo. É o que acontece com o Felipe, mais precisamente na página 17, onde o autor traduz que o mundo é divertido e com muitas coisas para ver e aprender. Onde a curiosidade é uma coceira que dá dentro da cabeça, onde residem os pensamentos. Suas expectativas começam a ruir, quando descobre que na escola, cada professor sabe apenas de uma coisa e que nenhum sabe o nome do pássaro azul que ele viu voando quando vinha para a escola; que a escola é uma grande corrida, onde uns ganham e outros perdem; que os conhecimentos não valem pela sua utilidade, mas porque vão cair na prova e no vestibular; e que quando se pensa sobre coisas que a gente gosta e não sobre o assunto que a professora está falando as crianças podem ser diagnosticadas com distúrbio de atenção.
Ao contrário de Pinóquio, que só vira gente de verdade quando vai pra escola, o conto de Rubem Alves é apresentado assim, às avessas, para provocar uma reflexão que possibilite mudanças significativas em favor de uma educação verdadeira, edificante, que preserve na criança - no ser humano - a capacidade de sonhar, de criar, de transformar, de se realizar. Devemos por em pauta, e discutir as seguintes situações: teoriza-se tanto a diversidade na sala de aula, vivem-se tanto as diferenças individuais, defende-se mais ainda a necessidade do respeito ao ritmo de cada criança e por que se pratica a padronização tanto na aplicação de conteúdos como na velocidade da aprendizagem? Por que entendemos tão bem essas questões teoricamente e praticamos o inverso? Devemos refletir sobre o que entendemos por proposta curricular, como devemos aplicá-la e quais resultados queremos alcançar.
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