Por que refletir sobre as próprias memórias de escolarização é importante para os professores?
Por: aninhakaroline • 5/7/2016 • Trabalho acadêmico • 1.401 Palavras (6 Páginas) • 568 Visualizações
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Disciplina: História da EducaçãoII
Professor: Luciano Mendes de Faria Filho
Aluna: Ana Karoline Martins de Souza
Turma: B
“Por que refletir sobre as próprias memórias de escolarização é importante para os professores?”
A reflexão (auto) biográfica como ponto marcante e influente na formação, transformação e atuação do profissional tem sido alvo de muitos estudos. Neste trabalho, para responder a questão proposta, tomei como base os textos: 1.”O amor dos começos”: Por uma história das relações com a escola. De Denice Catani, Belmira Bueno e Cynthia Sousa. 2. Memória e autobiografia: Formação de Mulheres e Formação de professoras. De Cynthia Sousa, Denice Catani, Maria Cecília e Belmira Bueno. 3.Memória (auto) biográfica como prática de formação. De Vera Brandão. 4. Memória e formação: Fortalecimento profissional e construção da identidade de professores regentes da educação básica em um curso de pedagogia. De Maria Cunha e Regina Portela.
A memória é um campo vasto pesquisado pelas neurociências. A psicóloga cognitiva Margaret W. Matlin descreve a memória como “o processo de retenção de informações ao longo do tempo” e alguns outros grandes autores acrescentam ainda que essa faculdade mental seria caracterizada também pela capacidade de servir-se de experiências passadas para escolher os caminhos do futuro. Aqui, neste trabalho, me restrinjo a essas definições e a tratar a memória como sendo recordação de momentos marcantes. Nas palavras de Vera Brandão:
“(...) Memórias de longa duração, consolidadas e que, moduladas pela emoção, tornaram-se memórias passíveis de serem recuperadas - as memórias (auto) biográficas, socioculturais e afetivas, em seu potencial (trans) formador. (...) na busca dos sentidos das trajetórias, em um processo de (re) conhecimento e ressignificação, para a educação continuada e (auto) formação.” (BRANDÃO, 2008, p.5).
Compreende-la-emos não apenas com uma visão poética, repleta de lembranças especiais, mas, agregado a isso, lembranças desgostosas, momentos que marcaram de maneira intensa e que, por isso, não são esquecidos. Estão presentes em nossas memórias de longa duração, mas, o que não significa que podem ser facilmente acessados. É preciso esforço para um trabalho de rememoração. Este inclui a nossa experiência pessoal, o que nos foi dito (e tomado como verdade) por outras pessoas, como os pais e familiares, e todas as relações sociais aos quais estamos postos.
Neste ponto, amplio então a relação das memórias com o contexto em que se está inserida. A memória pela perspectiva individual-coletiva. Campo que o texto “Memória e autobiografia: Formação de Mulheres e Formação de professoras”, de Cynthia, Denice, Maria Cecília e Belmira (1996), deixa claro ao revelar a diferenciação na forma em que as lembranças se manifestam em mulheres contemporâneas (ambas na época da segunda guerra mundial), mas de contexto diferentes, uma, que lembra-se do tempo bem marcadamente, com datas, locais e nomes (memória concreta) e outra que era médica e lembra-se muito mais por eventos, acontecimentos mundiais, questões morais e assim por diante (memória abstrata).
Toda essa questão nos evidencia o quanto nossas lembranças estão amplamente ligadas ao contexto ao qual estamos condicionados, o que nos indica a presença real dessa identidade formada por nossas rememorações e a possibilidade de à partir de então construir uma nova forma, fazer uma ressignificação do que foi visto e vivido considerando o contexto atual.
Outro ponto que aborda a relevância da memória autobiográfica para a formação do docente, é que este, ao relembrar sua vivência, de uma maneira instruída, o fará de forma reflexiva, com um aparato, uma bagagem para julgamentos, não no sentido pejorativo da palavra, mas em um sentido de avaliação, de análise. Como afirmam Maria Cunha e Regina Portela:
O memorial de formação visa estimular a prática de um profissional reflexivo e sua adoção segue um movimento mais amplo que “faz reaparecer os sujeitos face às estruturas e aos sistemas, a qualidade face à quantidade, a vivência face ao instituído” (NOVOA, 1995, p.18; SARTORI, 2008, p. 274).
Este sentido crítico com o qual se faz a rememoração reflete, consequentemente, na autocrítica do profissional acerca de sua atuação e mesmo os que ainda não atuam, vão tendo suas maneiras e jeitos moldados por suas vivências e memórias, além de possibilitar uma junção de maior clareza entre teoria e prática, constituindo um possível aperfeiçoamento da prática.
A identidade que constitui o docente vem, muitas vezes, de conceitos que se enraizaram desde os primórdios de sua vida escolar, a história do sujeito, antes, aluno e hoje, professor. Quando se passa por alguma situação adversa, o primeiro instinto é o de fazer dentro de si a busca de uma circunstância semelhante, um modo de agir que possa auxiliar para a resolução do fato.
Denice Catani, Belmira Bueno e Cynthia Sousa (2000) nos mostram em seu texto a complexidade da formação do eu:
O que existe é uma variedade de eus que emergem pela rememoração produtiva e sua interação (também produtiva) que têm lugar na vida cotidiana. Tais eus lembrados são, desse modo, “parte de nossa experiência fenomênica como indivíduos, formada e compartilhada nas relações interpessoais“ (I994, p. 55). É dentro de tais contextos, e especialmente pela narração, que os eus lembrados são construídos e reconstruídos. É no âmbito dessas discussões que Barclay ressalta o cará– ter adaptativo das memórias autobiográficas, ponderando que as memórias pessoalmente significantes são aquelas que carregam significados adquiridos em seus usos adaptativos, na maior parte das vezes, nas relações com os outros. Os outros são, dessa forma, referências imprescindíveis das nossas lembranças. Mas não apenas isso. Ao atuarem como espelhos, suas lembranças são por nós apropriadas, tornando–se elementos integrantes e inseparáveis de nossas próprias memórias. (CATANI; BELMIRA; SOUSA, 2000, p.168)
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