Resenha Diálogo, práxis, crítica em Paulo Freire
Por: Franciane Ladeira • 3/1/2018 • Resenha • 1.495 Palavras (6 Páginas) • 723 Visualizações
DIÁLOGO, PRÁXIS, CRÍTICA E(M) PAULO FREIRE:
esperança, amor, profetismo, utopia e libertação
Franciane Sousa Ladeira Aires ([1]∗)
TORRES, Carlos Alberto. Diálogo e Práxis Educativa: uma leitura crítica de Paulo Freire. Tradução de Mônica Mattar Oliva. São Paulo: Edições Loyola, 2014. 368p. [pic 1]
Carlos Alberto Torres, argentino, fez doutorado em Stanford, nos Estados Unidos, e pós-doutorado na Universidade de Alberta, no Canadá. Considerado um dos mais reconhecidos especialistas na obra do educador brasileiro Paulo Freire. Hoje leciona na Universidade da Califórnia, em Los Angeles e coordena o Paulo Freire Institute, além de ser um dos criadores do Instituto Paulo Freire no Brasil. Foi um amigo afetivo crítico de Freire. É referência de estudos sobre a América Latina, com mais de cinquenta livros e com mais de uma centena de artigos. Diálogo e práxis são conceitos centrais nas belas análises feitas neste livro pelo autor.
Publicada em comemoração aos 50 anos de Angicos (RN), Diálogo e Práxis Educativa: uma leitura crítica de Paulo Freire possibilita o contato com as principais perspectivas freireanas e relembra um sonho possível, das décadas de 60 e 70 do século passado: uma educação emancipadora. Contempla ainda textos prefaciados pelo diretor do Instituto Paulo Freire, Moacir Gadotti, a deputada federal Luiza Erundina, e o filósofo e educador Mario Sérgio Cortella. A obra é composta por três temas que se subdividem em partes, e estas, também divididas em seções.
O primeiro tema, Consciência e História: A Práxis Educativa de Paulo Freire – Antologia, se subdivide em duas partes: Consciência, História e Libertação: A Proposta Educativa de Paulo Freire e Textos Selecionados de Paulo Freire.
Nesta primeira parte, Carlos Alberto Torres discute sinteticamente e sistematicamente algumas ideias de Paulo Freire, perpassando três seções. A primeira abrange de forma macro a alfabetização problematizadora como uma prática educativa da conscientização e libertação na história para a transformação social. Na segunda seção, encontramos noções gerais da antropologia política de Freire sustentada pelas dimensões da consciência e da história. Na última seção desta parte, nos deparamos com as indicações práticas freireanas do método psicossocial de alfabetização problematizadora, em outras palavras, a metodologia da investigação temática (temas e palavras geradoras) baseada na epistemologia dialética e na teoria da práxis.
A segunda parte deste primeiro tema é contemplada por uma antologia de Paulo Freire. É dividida em quatro seções que trazem textos “informais” – trechos de uma carta, pronunciamentos em conferências e artigo –, mas recheados com vigor teológico, com a virtude da conscientização, com a rigorosidade, na compreensão freireana, e ao mesmo tempo com a abertura para novas experiências criadoras da investigação temática. Diálogos atuais com amor verdadeiro, humildade e fé no homem.
Todo este primeiro tema apresentado por Carlos Alberto Torres nos instiga a alfabetizar conscientizando e conscientizar alfabetizando. Práxis e Humanização. Somos convidados a recuperar, ou se já a tivermos que não a percamos, a consciência na história para seguirmos construindo e reconstruindo nossa própria história (morrer e nascer de novo) com a palavra questionadora e pronunciadora (o quefazer de homem) do mundo e com o mundo. Utopia: denúncia e anúncio. Dialética da inquietude da paz. Um chamamento para nossa saída de lugar de conforto para o descortinar da coragem de correr o risco.
Em Diálogo com Paulo Freire, o segundo tema, somos contemplados com uma belíssima introdução intitulada Paulo Freire: Um Educador que Questiona a Pedagogia. Torres nos possibilita uma aproximação mais vivaz com Freire ao copilar cinco entrevistas, apresentadas em ordem cronológica, entre os anos 1969 e 1975, de revistas especializadas de países como Uruguai, Venezuela, Argentina e Suíça. As entrevistas permitem que notemos a honestidade intelectual, o dinamismo, a evolução de pensamento, a abertura para a realidade do pedagogo da consciência, da práxis e da crítica; sem deixar de ser um pensamento influente para a práxis atual. “Nestas entrevistas, melhor do que em qualquer de suas obras, Freire manifesta seu pensamento político com a radicalidade a que nos acostumou” (p. 124) e recebe as críticas de seu pensamento como um desafio e não como uma ofensa, sendo ele mesmo seu maior crítico. Carlos Alberto Torres se torna o mediador do diálogo entre nós, leitores, e Paulo Freire. É possível perceber que as entrevistas nos envolvem surpreendentemente e profundamente, como se estivéssemos presente quando as mesmas aconteciam. No entanto, tais diálogos não nos dominam, pelo contrário, convidam que nossa consciência se liberte, que nossa teoria e prática permaneçam em unidade dialética e que possamos ser, ao estilo de Paulo Freire, educadores questionadores, homens de práxis.
O terceiro tema, Leitura Crítica de Paulo Freire, engloba, além de uma introdução, três partes. Na Introdução intitulada Consciência e Ideologia: Introdução ao Pensamento de Paulo Freire, Carlos Alberto Torres nos apresenta a contribuição de Freire para o processo de libertação do povo latino-americano. Desnuda as etapas da evolução do pensamento freireano, além de elencar a dimensão teórica que permeia o pensamento de Freire – o sentido da filosofia, o sentido da pedagogia e o sentido da política – em relação á consciência e á ideologia, par dialético que se opõem e se completam constantemente, por onde tais sentidos se interconectam. As raízes cristãs permanentemente definem o estilo freireano como fonte de reflexão e ação. Nas palavras de Torres (p. 216): “Toda a produção intelectual de Freire está intimamente relacionada com sua visão teológica”. É esperança, amor, profetismo, utopia e libertação.
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