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Resenha do Livro A Escola Que (não) Ensina a Ler e Escrever

Por:   •  23/1/2020  •  Resenha  •  6.865 Palavras (28 Páginas)  •  1.225 Visualizações

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Ao buscar a síntese dessa obra nas palavras da própria autora, encontramos a seguinte descrição-provocação à reflexão docente: Em face das metas de erradicação do analfabetismo e a superação dos baixos níveis de letramento no país, o tema do ensino da língua escrita é sempre oportuno. Se este é um desafio social e político, é também um desafio pedagógico para o qual todos os educadores estão convocados. Nesta perspectiva, que vale a pena questionar: qual o sentido da alfabetização? Por que tantas crianças sentem dificuldade para ler e escrever? Para além do fenômeno do fracasso escolar, como explicar as distâncias entre as conquistas dos alunos supostamente bem-sucedidos e os apelos do nosso mundo? Como as práticas de alfabetização podem contrariar a formação do sujeito autor e leitor? Até que ponto o ensino da língua escrita, no contexto da cultura escolar, configura-se como um esforço que não necessariamente amplia as relações entre o homem e o universo letrado?

Com o propósito de repensar as concepções acerca da língua, do ensino, da aprendizagem e das práticas pedagógicas, este livro está fundado na convicção de que colocar em evidências os mecanismos de aprisionamento linguístico pode favorecer uma reflexão crítica das práticas de ensino da escrita na escola. Uma crítica que não se esgota em si, mas que, ao fundamentar o trabalho docente, pode subsidiar a transformação do ensino. Afinal, compreender as falhas didáticas e as tendências pedagógicas viciadas pode ser o melhor aval para a constituição de um sujeito “senhor de sua própria palavra” no contexto de uma escola que efetivamente ensine a escrever.

INTRODUZINDO...A ARMADILHA DA E PELA LINGUAGEM

No conturbado contexto de nossa civilização, a “armadilha pela linguagem” concretiza-se em práticas políticas e ideológicas de manipulação de massa (QUINTÁS, 2001). Uma realidade que não pode ser enfrentada senão com base em desafios que hoje impomos à educação.

Esse tópico introdutório traz ao leitor o esclarecimento de que esse livro é composto por uma coletânea de textos e resultados de pesquisas, publicados em congressos e revistas cientificas da área da educação. Desse modo ao mesmo tempo em que todos têm em comum o tema central por outro lado são independentes entre si, o que segundo a autora favorece a flexibilidade de escolha do leitor, que tem a liberdade de escolha pela ordem em que deseja realizar as leituras, sem que isso traga prejuízo aos objetivos centrais da reflexão proposta.

Feito esse esclarecimento, a autora posiciona que seu objetivo é desvelar os mecanismos do aprisionamento linguístico inerente ao ensino, deixando evidentes os seus efeitos sobre a constituição do “escritor”. Segundo Collello a constatação das falhas pedagógicas e seus resultados não será um discurso estéril, se puder subsidiar a revisão de valores arraigados, de princípios conservadores e de práticas tão reducionistas.

Sem esquecer os parâmetros de interpretação da realidade e as tendências sociais mais amplas que se refletem no ensino, a pesquisadora reafirma que não há como negar o papel das práticas da principal agência de letramento, aquela que, formalmente, foi encarregada da transmissão do saber: a escola. No que diz respeito à escrita, é nela que se ensina e que, certamente, se condiciona o seu uso em práticas mais ou menos restritivas. E finaliza com um questionamento que avaliamos ser o convite à revisão necessária de nossa prática docente no que se refere ao ensino da leitura e da escrita: “Até que ponto, ao ensinar a escrever não estamos limitando o uso da escrita e as possibilidades de expressão?”

Segundo descrito os capítulos foram organizados em quatro partes que correspondem a diferentes focos de abordagem, conforme síntese que apresentamos a seguir.

PARTE 1 – CONSIDERANDO ...A ESCRITA E O ENSINO DA ESCRITA

Considera objetivamente a alfabetização nas suas metas educativas, eixos de operação cognitiva no processo de aprendizagem e frentes de trabalho pedagógico. Procura, situar a língua e o trabalho de alfabetização a ser desenvolvido na escola.

1- Alfabetização: do conceito à prática pedagógica

Parece indiscutível que as crianças da nossa sociedade devem aprender a ler e escrever. No entanto, se perguntarmos aos pais educadores por que e para que alfabetizar, encontraremos, com certeza, respostas vagas, por vezes incompletas e até paradoxais. As expectativas de ensino da língua escrita são tão imprecisas quanto a própria compreensão do alfabetizar. A despeito das boas intenções, as práticas pedagógicas patinam em concepções restritivas, por vezes equivocadas, modismos mal assimilados e métodos inadequados. Além disso, tanto os processos formais de ensino quanto os resultados por eles promulgados nem sempre consideram a aquisição do potencial de compreensão do uso social da língua e, portanto, das práticas sociais de escrita.

É no conjunto das práticas sociais que a escrita revela-se na plenitude de seu potencial, infelizmente nem sempre acessível a todos os que aprendem a ler e escrever, razão pela qual as práticas de alfabetização, superando a esfera pedagógica, revestem-se de significado político. No contexto de nossa sociedade, alfabetizar é também dar voz ao sujeito, assim como favorecer meios críticos de participação social. As práticas de escrita contribuem para a sutura do individuo ao seu mundo, em um processo simultâneo de inserção social e constituição de si.

È nesse sentido que se pode dizer que alfabetização, mais do que simples técnica de associar letras e palavras, justifica-se pelo seu potencial educativo (COLLELLO, 2001/2004) na formação do:

a) falante, já que o processo de construção da escrita não só parte da oralidade, como também acaba por redimensiona-la (o sujeito que escreve tende a organizar melhor sua fala);

b) “poliglota”, aquele que “fala muitas línguas”, o que é entendido aqui como a possibilidade de compreender, dominar e usar as várias formas de linguagem, não necessariamente as línguas estrangeiras, mas os dialetos de uma mesma língua e os outros meios de expressão ou de representação simbólica (desenho, música, arte, mímica, etc);

c) produtor de texto, o “autor” que, além de poder escrever palavras e frases , tem a competência de compor textos, enfrentando os desafios da sua produção, mas também gratificando-se com a possibilidade de dar vida aos seus pensamentos , ideias e fantasias;

d) intérprete, em processos de leitura que, superando a mera decodificação, guiam-se pela busca de sentido e, assim,

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