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Roteiro A missa do Galo

Por:   •  19/1/2016  •  Artigo  •  815 Palavras (4 Páginas)  •  2.782 Visualizações

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Nunca pude compreender a conversa que tive com uma moça, há muitos anos...eu tinha dezessete anos e ela trinta. Era noite de natal, e havia combinado com o vizinho de irmos à missa do galo. Preferi não dormir, prometi acordá-lo à meia noite.

A casa em que eu estava era a do escrivão Meneses, que já havia sido casado com uma prima minha. Vivia lá sua segunda mulher, Conceição e sua mãe –que por ventura me acolheram bem quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro meses antes para estudar. Eu vivia tranquilo naquela casa meio assombrada, a família era pequena; o escrivão, a esposa, a sogra e duas servas. Costumes velhos constituíam a rotina, às dez horas todos estavam em seus quartos. Eu nunca havia ido ao teatro, e diversas vezes, quando ouvia Meneses anunciado que iria, pedia que me levasse com ele. Nas ocorrências desse fato, sua sogra fazia uma careta daquelas, e as servas gargalhavam; e ele nem respondia, se arrumava e saía. Voltava no outro dia pela manhã. Mais tarde eu soube que o teatro era apenas um disfarce. Meneses tinha um relacionamento extra conjugal com uma moça divorciada do marido, e dormir fora de casa uma vez por semana. Sua esposa se acostumou com a ideia a ponto de achar algo normal.

Ah, Conceição! Era chamada de “santa” e aparentemente merecia o título, suportava com facilidade a falta de atenção do marido. Nesse capítulo, a via como paciente e não a tinha como bonita nem feia. Era apenas uma pessoa simpática. Não falava mal de ninguém e perdoava tudo. Não conhecia o ódio, e talvez não também o amor.

Naquela noite de Natal, Meneses foi ao “teatro”. Era no ano de 1861 ou 1862. Eu já deveria estar de férias em Mangaratiba, mas fiquei até o Natal para ver a “A missa do galo na Corte”. A família se recolheu na hora de costume; e eu fui para a sala, arrumado e pronto. Alí dava passagem ao corredor da entrada, assim eu sairia sem acordar ninguém.

- Mas, Sr. Nogueira, o que você vai fazer esse tempo todo? perguntou-me a mãe de Conceição.

- Vou ler, D. Inácia.

Tinha um romance comigo, os Três Mosqueteiros. Sentei perto da mesa que tinha no centro da sala, e iluminado por um candeeiro de querosene, enquanto todos dormiam, comecei a ler e me afundei nas aventuras. Os minutos voavam, ao contrário do que acontece sempre. Quando fui ver; as onze horas já eram. Porém, um barulho me desconcentrou da leitura. Eram uns passos no corredor que ia da sala de visitas até a de jantar; levantei a cabeça e depois vi passar pela porta da o vulto de Conceição.

- Ainda não foi? Ela me perguntou.

- Não fui; parece que ainda não é meia-noite.

- Que paciência!

Conceição entrou na sala, arrastando os chinelos. Estava vestindo um roupão branco, mal preso na cintura. Era magra, tinha uma aparência romântica, não coincidia com o meu livro de aventuras. Fechei o livro; ela sentou na cadeira que ficava na minha frente. Eu perguntei se tinha havia acordado, sem querer, fazendo barulho, ela respondeu:

- Não! Acordei por acordar...

Olhei para ela e duvidei da afirmativa. Os olhos não eram do tipo de pessoa que dormiu e acordou; parecia não ter pego no sono ainda. Mas, talvez, não teria dormido por minha conta, por estar acordado.

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