TEXTO CIENTÍFICO EDUCAÇÃO DOS SURDOS
Por: Emanuele Carneiro • 26/10/2019 • Trabalho acadêmico • 2.682 Palavras (11 Páginas) • 182 Visualizações
RESUMO
Este artigo apresenta uma síntese da história da educação da pessoa surda e a importância do aprendizado da Língua de Sinais, enfatizando a importância da Linguagem de Sinais (Libras, no Brasil) não apenas como uma língua, mas como um aspecto fundamental na construção da identidade e reconhecimento da cultura surda, pretendendo mostrar que essa permite um melhor desenvolvimento do surdo não apenas no que se refere à educação, mas também em todos os aspectos de sua vida.
Palavras Chave: Libras; Cultura; Educação.
ABSTRACT
This article presents the importance of learning a sign language for deaf people, emphasizing the importance of the sign language (Libras, in Brazil), not only as a language but as a fundamental aspect in the construction of the identity and recognition of deaf culture, intending to show that this enables to deaf person a better development not only in education but in all aspects of his life.
Keywords: Sign Language; Culture; Education.
- BREVE PANORAMA SOBRE EDUCAÇÃO DOS SURDOS
A história nos conta que no inicio da civilização humana os surdos vivam de maneira isolada e até mesmo privados de direitos básicos, como a educação. Atualmente, essas pessoas são reconhecidas como deficientes auditivos e não são mais excluídos da sociedade por conta de sua condição, porém é sabido que ainda há um longo caminho a percorrer até que a comunidade surda seja reconhecida e plenamente aceita dentro do mundo dos ouvintes. A falta de conhecimento sobre ela contribui para que a sociedade enxergue a surdez apenas como uma patologia, buscando a cura com o uso de aparelhos de amplificação sonora e soluções clínicas, porém já se evidenciou por meio de pesquisas, que o acesso ao ambiente bilíngue, para o surdo, é de suma importância.
Na Antiguidade, para os gregos e romanos os surdos não eram considerados seres humanos, pois se a fala era resultado de um pensamento, e se eles não falavam, automaticamente não eram seres pensantes e eram considerados incapazes de receber qualquer instrução (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 19). Na Idade Média, a discriminação foi sustentada por uma posição da Igreja Católica, que neste período exerceu grande dominação ao propagar a ideia que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, fazendo que aqueles que apresentassem alguma diferença fossem estigmatizados como menos humanos. Nesta época a sociedade se dividia em feudos e os nobres casavam-se entre si, o que gerava um grande número de surdos entre eles, e por não conseguirem falar não se confessavam e nem cumpriam os deveres descritos pela Igreja, foi então que monges que fizeram Voto de Silêncio criaram uma linguagem gestual para não ficarem totalmente sem comunicação e passaram a ser preceptores dos surdos nobres, a fim de que eles tivessem uma língua e pudessem cumprir os ritos da Igreja e a Igreja então não perderia suas contribuições financeiras.
No século XVI, no Ocidente, surgem os primeiros educadores de surdos, um educador conhecido foi Pedro Ponce de Leon (1510 – 1584), um monge que usava sinais rudimentares para se comunicar em seu mosteiro. Foi dado a ele o mérito de provar que a pessoa surda era capaz, contrariando a posição dos gregos e romanos da antiguidade (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 20). Foi neste espaço que consta o primeiro registro do uso de sinais para se comunicar.
Em 1620, o padre Juan Pablo Bonet (1579-1633) criou o primeiro tratado de ensino dos surdos e idealizou e desenhou o alfabeto manual. Para Bonet, era mais fácil para o surdo aprender utilizando uma forma visual, ou seja, o som da fala substituído por uma forma visível (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 20). Até então os educadores defendiam a proposta de oralização, aperfeiçoando os procedimentos apenas de leitura labial. A oralização do surdo era defendida por muitos profissionais, porém esse método de ensino não proporcionou os meios necessários para o surdo construir sua identidade; e acabou gerando um sentimento de incapacidade perante a sociedade ouvinte (GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista. São Paulo: Plexus Editora, 2002, p. 31). Um dos primeiros que defendeu o uso de sinais, que ainda não era a Língua de Sinais, foi o educador francês Charles Michel de L’Epée (1712-1789) que reconheceu que essa língua servia como base essencial para a comunicação dos surdos, por isso ficou conhecido como “Pai dos Surdos”. No ano de 1760, em Paris, criou a primeira escola pública no mundo para os surdos - o Instituto Nacional para “Surdos-Mudos”. (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 22).
O século XVIII é considerado o período mais evolutivo da educação dos Surdos, pois foi justamente neste século que várias escolas para Surdos foram fundadas e, pensando em qualidade, a educação dos surdos também progrediu, com o uso da Língua de Sinais, pois eles podiam aprender e dominar diversos assuntos e exercer diversas profissões. A língua utilizada no processo educativo era a Língua de Sinais e a comunicação em sala de aula se efetivava graças ao domínio que os professores e alunos tinham dessa língua, assim os surdos tinham acesso aos conhecimentos de geografia, astronomia e álgebra, além de artes de ofício e atividades físicas.
As instituições de educação de surdos foram se espalhando pela Europa e, em 1880, em Milão ocorreu o Segundo Congresso Internacional de Surdos, que promoveu uma votação para definir qual melhor maneira de educar um surdo (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 24). Com o resultado da votação, ficou recomendado que o melhor método para educar uma pessoa surda era o oralismo total e esse método foi adotado, obrigatoriamente, em vários países da Europa. Cabe ressaltar que os surdos não tiveram direito a voto, e a insistência na oralização resultou uma situação deplorável, pois os surdos que não se adaptavam ao método do oralismo eram considerados retardados. O uso dos sinais só voltou a ser aceito a partir de 1970, com a nova metodologia denominada Comunicação Total, que articulava o uso de linguagem oral e sinalizada ao mesmo tempo (HONORA, Márcia; FRIZANCO, Mary Lopes Esteves. Livro Ilustrado de Língua brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada pelas pessoas com surdez. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009, p. 26).
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